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Língua portuguesa com os dias contados? Brasil pode surpreender o mundo ao adotar um novo idioma

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 02/08/2025 às 14:06
Debate sobre o futuro da língua portuguesa no Brasil destaca influências históricas, mudanças culturais e o possível surgimento do idioma brasileiro.
Debate sobre o futuro da língua portuguesa no Brasil destaca influências históricas, mudanças culturais e o possível surgimento do idioma brasileiro.
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Novo livro provoca debate sobre as origens da língua portuguesa e o possível surgimento do idioma brasileiro, destacando influências históricas e culturais pouco conhecidas do grande público.

A discussão sobre o futuro da língua portuguesa no Brasil ganhou novo fôlego a partir da publicação do livro “Assim Nasceu uma Língua”, do linguista português Fernando Venâncio, lançado no país pela editora Tinta da China.

Venâncio propõe que a língua de Portugal não nasceu exatamente onde hoje se encontra aquele país, e aponta para o Brasil — principal ex-colônia lusitana — como protagonista de uma transformação que poderá, em breve, fazer com que o idioma falado no território nacional receba o nome de “brasileiro”.

Segundo Venâncio, em matéria publicada pela BBC Brasil, a origem da língua portuguesa remonta ao antigo Reino da Galiza, criado no século 5 d.C. após a queda do Império Romano.

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Apenas parte desse território corresponde atualmente a Portugal, enquanto a região principal é hoje a Galícia, uma comunidade autônoma da Espanha conhecida por cidades como Santiago de Compostela, Vigo e A Coruña.

“A simples ideia de que, algum dia, um idioma estrangeiro possa ter sido a língua de Portugal é-nos insuportável”, escreve o autor.

O linguista destaca ainda que Lisboa, capital e centro da vida portuguesa contemporânea, permaneceu sob domínio árabe por mais de 700 anos.

Nessa época, o idioma predominante na região era o moçárabe, variedade de dialetos latinos fortemente influenciados pelo árabe.

Esse contexto explica a presença de palavras como “almofada”, “açougue” e “fulano” no vocabulário atual da língua portuguesa.

Fernando Venâncio, linguista autor de 'Assim Nasceu uma Língua'. (Imagem: Divulgação)
Fernando Venâncio, linguista autor de ‘Assim Nasceu uma Língua’. (Imagem: Divulgação)

Enquanto isso, a língua galega já se desenvolvia, estabelecendo bases para o futuro português.

Hoje, movimentos culturais buscam preservar o galego na Galícia, apesar do predomínio do castelhano, idioma oficial da Espanha.

Fernando Venâncio afirma: “Há galegos que fazem o possível para inverter o processo, mas é muito difícil porque é o castelhano que tem prestígio”.

O galego, frequentemente associado ao meio rural, perde espaço especialmente nas cidades maiores, diferentemente do catalão, que possui mais adesão e importância na Catalunha.

O distanciamento das raízes galegas no idioma falado em Portugal está ligado à construção da identidade nacional portuguesa, a partir do século XII.

Portugal, fundado como reino em 1139, buscou diferenciar-se de outras regiões, especialmente após a Galícia ser incorporada à esfera de Castela.

O termo “galego-português”, utilizado para descrever a fase antiga do português e estudado em obras de autores como Gil Vicente, reflete esse processo de disfarce das origens galegas.

Para Venâncio, a língua portuguesa nasceu galega e posteriormente se consolidou no sul, adquirindo características próprias, mas mantendo maior proximidade com o galego do que com o castelhano.

Um dado relevante citado pelo linguista é a presença da palavra “saudade” tanto no português quanto no galego, contrariando a ideia de exclusividade do termo na língua portuguesa.

Origem e evolução da língua portuguesa

O livro de Venâncio também aponta marcas galegas fortemente presentes no chamado idioma brasileiro.

O diminutivo “-inho”, elemento associado à afetividade brasileira em termos como “cafezinho” e “Ronaldinho”, tem raízes na língua galega, cuja formação antecede a chegada dos portugueses ao Brasil.

Outra expressão emblemática, “oxente”, considerada símbolo do Nordeste brasileiro, também apresenta influência galega, segundo o autor.

Não existe comprovação definitiva sobre a origem da expressão “oxente” no linguajar nordestino.

Embora circulem na internet hipóteses como a derivação do inglês “oh shit”, supostamente trazida por militares americanos durante a Segunda Guerra Mundial, Venâncio sustenta que as evidências indicam o noroeste da Península Ibérica.

No galego, “xente” significa “gente”, e o som do “x” substitui frequentemente os fonemas “g” e “j” em nomes próprios, como “José” que se torna “Xosé”.

Além disso, o termo “galego” é usado no Nordeste para designar pessoas loiras, o que remete a antigas ondas migratórias vindas da Galícia.

Diferenças entre português e idioma brasileiro

Reino da Galiza ocupava terras hoje de Portugal e da Espanha. (Imagem: BBC)
Reino da Galiza ocupava terras hoje de Portugal e da Espanha. (Imagem: BBC)

Apesar de décadas de estudo e ensino da língua portuguesa, Venâncio não adota uma postura purista.

Ele reconhece a natural incorporação de termos brasileiros por crianças portuguesas, citando como exemplo a substituição de “frigorífico” por “geladeira”.

Segundo o linguista, isso não representa, necessariamente, um abandono do português em favor do idioma brasileiro, mas sim uma manifestação da influência cultural do Brasil.

Porém, Venâncio argumenta que, apesar dessa troca de elementos linguísticos, o processo em curso é de afastamento, e não de união, entre as variantes.

“Não há maneira de retroceder, não há maneira de travar esse processo de afastamento entre o português e o brasileiro”, afirma.

Para ele, o idioma brasileiro já pode ser considerado uma norma distinta, destacando o uso mais espontâneo e cotidiano do português falado no Brasil.

Unidades e divergências linguísticas

Ainda assim, linguistas e gramáticos de ambos os lados do Atlântico observam que existe unidade nas normas gramaticais e morfológicas das duas variantes.

Os principais elementos da língua portuguesa, como artigos, pronomes e preposições, permanecem os mesmos no Brasil e em Portugal, especialmente na variante culta.

Esse cenário impede que se afirme, tecnicamente, a existência de uma língua brasileira separada.

Venâncio, no entanto, defende que a fala espontânea e informal no Brasil acelera o processo de diferenciação em relação ao português europeu.

O linguista acredita que esse fenômeno é irreversível e compara-o ao que ocorreu com o latim, que acabou se dividindo em diferentes idiomas.

“O português promete, pois, dividir-se — ou multiplicar-se — em outros idiomas, tal como um dia aconteceu à língua dos romanos, que, por eles, não tinham destas andanças da história a mínima ideia”, escreve o autor.

Você acredita que, caso a língua portuguesa se transforme oficialmente no idioma brasileiro, isso mudaria a identidade cultural do país?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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