Depois de anos fora das prateleiras, a Bamba aposta em nostalgia, exclusividade e produção artesanal para conquistar antigos fãs e novos consumidores
Poucas marcas brasileiras de calçados marcaram tanto a memória popular quanto a Bamba. Entre os anos 1980 e início dos anos 1990, era comum ver o tênis em quadras escolares, ruas e até como parte do uniforme não oficial de milhares de estudantes.
Depois de décadas fora do mercado, a marca inicia um novo capítulo e pretende voltar com força às vitrines a partir de 2026.
Memória que atravessa gerações
A lembrança dos tênis varia conforme a experiência de cada um. Para alguns, ficou a fama de provocar bolhas ou mau cheiro.
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Para outros, prevalece o simbolismo de um calçado barato, resistente e associado a momentos de infância.
Agora, a proposta é resgatar essa memória afetiva e adaptá-la aos padrões atuais. A retomada do projeto começou em 2023 com vendas restritas ao comércio eletrônico, mas a procura crescente motivou a abertura de uma loja conceito em São Paulo no fim de 2024.
A partir de fevereiro de 2026, a marca chega ao mercado físico de forma estruturada, com presença em lojas multimarcas espalhadas pelo Brasil.
Quem está por trás da retomada
A reativação da Bamba tem liderança de Julia Maringoni, profissional com duas décadas de experiência no setor calçadista.
Ela divide a sociedade com Adriano Iodice e Stefano Hawilla, que licenciaram a marca da Alpargatas.
Segundo Julia, o projeto sempre buscou equilibrar nostalgia com inovação. A estratégia é unir o design clássico a conceitos modernos de conforto, sustentabilidade e tiragens limitadas.
“Queremos estar nos pontos mais legais do Brasil inteiro, mas mantendo uma operação enxuta e coerente”, afirma.
Produção artesanal e sob medida
Um dos diferenciais da nova fase é manter a essência artesanal. Cada par de tênis passa por cerca de 60 profissionais.
Além disso, a produção será feita sob demanda. Isso significa que os pares só serão confeccionados após os pedidos dos lojistas, reduzindo riscos de estoque parado e permitindo entregas em lotes menores.
Esse formato também favorece pequenos comerciantes. Como explica Julia, “a ideia é democratizar o acesso, permitindo que cidades que nunca tiveram contato com a marca possam agora receber o produto”.
De ícone popular a peça de nicho
Inspirado nos modelos de lona com solado de borracha, como o americano All Star, o Bamba fez sucesso principalmente entre jovens.
Sua popularidade, porém, foi afetada pela entrada de marcas estrangeiras no país, que passaram a ser produzidas localmente, encarecendo a disputa e levando ao desaparecimento do tênis brasileiro.
O relançamento busca reposicionar a marca. Não se trata de competir com grandes volumes, mas de conquistar relevância pelo caráter exclusivo e pelo resgate histórico.
A experiência da loja conceito
A primeira loja física, aberta em Pinheiros, São Paulo, funciona como vitrine e laboratório. O espaço combina estoque, área de desenvolvimento e até uma cozinha para receber clientes com café e bolo.
No centro, uma seringueira remete à borracha amazônica certificada usada nos solados, reforçando o compromisso com a sustentabilidade.
A proposta é transformar a visita em experiência, e não apenas em compra. O ambiente mostra que a marca quer dialogar tanto com antigos fãs quanto com uma geração que desconhece sua história.
O plano da marca: etrutura comercial nacional
O plano para 2026 prevê atuação de dez representantes comerciais, alguns cobrindo mais de uma região. Cada equipe terá showrooms preparados para exibir os modelos aos lojistas.
O calendário de vendas será definido com antecedência: pedidos entre setembro e outubro de 2025 e entregas em três lotes, evitando acúmulo de mercadorias.
Essa organização permite que a marca controle custos e mantenha exclusividade.
A estratégia já foi testada em pequena escala. Multimarcas de diferentes regiões receberam lotes experimentais, e em alguns lugares o lançamento virou até notícia local. “Teve lojista que comprou só para ter o comentário na cidade. Isso mostra a força da memória da marca”, relata Julia.
Público-alvo amplo e preços variados
A marca aposta em dois perfis: consumidores que viveram a era do Bamba e jovens que nunca ouviram falar do tênis.
O preço inicial, de 458 reais, busca atingir um público diversificado. Já as edições especiais podem custar até 888 reais, reforçando a ideia de exclusividade.
Julia explica que o foco não está em idade ou classe social, mas em autenticidade. “A pessoa pode ter 18 ou 60 anos. O importante é se identificar com o estilo”, destaca.
Novos modelos e limitações
Todos os desenhos são assinados por Julia. Os lançamentos seguem um ritmo de conta-gotas, com alguns modelos permanentes e outros em edições limitadas de até 40 pares.
Essa escolha reforça o caráter artesanal e evita padronização excessiva.
A marca também se dedica a superar antigas críticas. Tecnologias atuais em materiais e design prometem mais conforto, menos atrito e maior durabilidade. Assim, problemas como bolhas ou desconforto ficam no passado.
Entre o passado e o futuro
O retorno da Bamba representa mais do que a volta de um tênis. É um movimento que une memória afetiva, produção sustentável e estratégia de distribuição moderna.
O desafio agora é equilibrar a força do passado com a exigência do presente. Porque, se depender da nostalgia e da autenticidade, o caminho para recolocar o Bamba nos pés dos brasileiros já está bem pavimentado.
Com informações de Exame.