Feitas de madeira engenheirada, as lajes CLT ganham espaço em obras civis, reduzem peso, aceleram cronogramas e diminuem a pegada de carbono.
Durante mais de um século, o concreto reinou absoluto nas obras civis. Símbolo de força e durabilidade, ele se tornou a base de praticamente toda infraestrutura moderna. Mas nos últimos anos, um material antes restrito a projetos de arquitetura sustentável vem ganhando protagonismo global: a madeira engenheirada CLT (Cross-Laminated Timber), um tipo de laje e painel estrutural que desafia o concreto tradicional com desempenho técnico, leveza e rapidez incomparáveis.
Segundo a Food and Agriculture Organization (FAO) e o World Green Building Council, o uso da madeira estrutural pode reduzir em até 60% as emissões de CO₂ associadas à construção, tornando-se uma das soluções mais eficientes para descarbonizar o setor responsável por cerca de 8% das emissões globais.
O que é a madeira CLT e por que ela ‘desafia’ o concreto
A CLT é formada por camadas cruzadas de tábuas de madeira laminadas, unidas por pressão e adesivos industriais de alta resistência. O cruzamento das fibras, cada camada posicionada perpendicular à anterior — cria um painel estrutural extremamente rígido, estável e resistente a deformações.
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Na prática, isso significa que lajes e paredes de CLT podem suportar cargas semelhantes às do concreto armado, mas com peso até cinco vezes menor. Essa característica reduz drasticamente o esforço sobre fundações e pilares, o que, por sua vez, diminui o uso de aço e cimento, dois dos materiais mais poluentes da indústria moderna.
Além disso, as peças chegam prontas de fábrica, com encaixes precisos e aberturas planejadas para instalações elétricas e hidráulicas, o que permite uma montagem limpa, silenciosa e até 70% mais rápida que os métodos tradicionais.
Europa lidera a revolução das lajes de madeira
A tecnologia CLT surgiu na Áustria e Alemanha nos anos 1990 e rapidamente se expandiu para países como Suíça, Noruega, Canadá e Japão. Hoje, é usada em prédios residenciais, escolas, pontes e até arranha-céus.
Um dos marcos dessa revolução é o Mjøstårnet, na Noruega, um edifício de 18 andares inteiramente feito de madeira engenheirada. O projeto, concluído em 2019, reduziu o tempo de obra em quase metade e economizou centenas de toneladas de concreto e aço.
Empresas de engenharia apontam que o uso da CLT não apenas acelera o cronograma, mas também melhora o conforto térmico e acústico das edificações. Por ser um material natural e isolante, a madeira mantém temperaturas internas mais estáveis, reduzindo a necessidade de ar-condicionado e aquecedores.
Madeira CLT começa a ganhar espaço no Brasil
No Brasil, a tecnologia está em fase de expansão e já desperta o interesse de construtoras e investidores. A primeira fábrica nacional de CLT, a Crosslam Brasil, foi inaugurada no Paraná em 2020, e desde então o país viu surgir novos projetos em São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A UFMG, a USP e a UFPR realizam pesquisas sobre o comportamento estrutural da CLT em diferentes biomas, especialmente com madeiras nativas de reflorestamento, como o pinus e o eucalipto. Essas espécies apresentam bom desempenho mecânico e são amplamente disponíveis, o que reduz o custo logístico e torna o processo mais competitivo.
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria da Madeira Processada Mecanicamente (ABIMCI), o custo de uma laje CLT no Brasil já é até 25% menor que o de uma laje convencional de concreto armado em obras de médio porte, considerando economia de mão de obra, tempo e transporte.
Sustentabilidade e certificações ambientais impulsionam o setor
O crescimento da madeira engenheirada está diretamente ligado à pressão por edificações de baixo carbono. A CLT é considerada um material “carbono negativo”, pois armazena CO₂ ao longo de sua vida útil em vez de emiti-lo — um fator essencial para empresas que buscam certificações como LEED, AQUA e EDGE.
Além disso, a madeira utilizada provém de florestas plantadas certificadas pelo FSC (Forest Stewardship Council), garantindo origem sustentável e rastreabilidade. Com isso, as lajes e painéis de CLT se encaixam perfeitamente nas metas de ESG (ambiental, social e governança) de construtoras e incorporadoras que atuam no mercado corporativo e residencial de alto padrão.
Desafios e perspectivas para a adoção em larga escala
Embora tecnicamente madura, a CLT ainda enfrenta desafios no Brasil, como falta de padronização normativa, custos iniciais de importação de insumos e resistência cultural de parte do setor, acostumado a trabalhar com concreto. Entretanto, o cenário vem mudando rapidamente.
O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) está desenvolvendo diretrizes específicas para o uso de madeira engenheirada em estruturas verticais. Paralelamente, construtoras e startups de engenharia já começam a adotar sistemas híbridos — combinações de concreto e CLT — que aliam o melhor de cada material, equilibrando desempenho e custo.
Especialistas projetam que, até 2030, o Brasil poderá triplicar o número de obras com CLT, impulsionado por políticas de eficiência energética e incentivos à economia verde.
Um novo paradigma na engenharia civil
As lajes de madeira CLT simbolizam mais do que uma inovação técnica — representam uma mudança de mentalidade. Em um setor historicamente dependente do concreto, a madeira retorna como símbolo de modernidade, leveza e sustentabilidade.
Com ganhos de produtividade, conforto e impacto ambiental mínimo, a CLT aponta para o futuro da construção civil: um futuro modular, limpo e renovável, em que cada metro quadrado erguido contribui para reduzir emissões, e não aumentá-las.
Se o concreto moldou o século XX, a madeira engenheirada pode ser a matéria-prima que vai construir o século XXI.


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