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KFC abandona os ossos: a estratégia ousada da marca para reconquistar jovens e enfrentar Popeyes e Chick-fil-A na guerra do frango frito nos EUA

Escrito por Felipe Alves da Silva
Publicado em 30/10/2025 às 18:32
KFC apresenta novos baldes com frango sem osso e sanduíches em tentativa de recuperar terreno na guerra do frango frito.
KFC aposta em frango sem osso, nostalgia e inovação para disputar espaço com Popeyes e Chick-fil-A na guerra do frango frito nos EUA. Créditos: Imagem ilustrativa criada por IA – uso editorial.
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Enquanto Popeyes e Chick-fil-A dominam as redes sociais e as vendas, o KFC tenta recuperar seu posto de ícone americano com uma mudança ousada: aposentar o frango com osso e conquistar a geração Z com inovação, nostalgia e preços mais baixos

O império do frango frito nunca gerou tanto lucro nos Estados Unidos — exceto para quem inventou a febre dos baldes. O KFC, pioneiro do segmento e símbolo da cultura americana, vive um momento de reinvenção. Enquanto Popeyes, Chick-fil-A e até o McDonald’s surfam na onda das carnes brancas e sanduíches virais, a rede fundada por Coronel Sanders tenta se reconectar com o público jovem e recuperar relevância no mercado que ajudou a criar.

Hoje, o KFC é visto até mesmo por seus executivos como “invisível” e “irrelevante” — palavras duras para uma marca que já foi sinônimo de frango frito no mundo inteiro. Segundo dados da Technomic, a empresa perdeu o terceiro lugar entre as redes de frango nos EUA para o Raising Cane’s, que conquistou milhões de fãs no TikTok com seu mascote labrador amarelo e marketing digital afiado.

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A nova guerra do frango frito

De acordo com Catherine Tan-Gillespie, presidente do KFC nos EUA, o erro está nos ossos. O público mais jovem não quer lidar com coxas e sobrecoxas — quer carne branca sem osso, prática, rápida e instagramável. “Costumávamos ser um ícone americano. Em algum momento, paramos de agir como tal”, afirmou a executiva em entrevista à Bloomberg.

Os números confirmam o desafio: desde 2020, a venda de frango com osso caiu 4%, enquanto a de sem osso subiu 11%, conforme levantamento da Circana. Isso explica por que marcas como Chick-fil-A e Popeyes cresceram em ritmo acelerado, enquanto o KFC foi a única grande rede do setor com queda nas vendas em 2024.

Apesar disso, a Yum! Brands Inc., dona do KFC, ainda colhe frutos do sucesso do Taco Bell, que responde por 82% dos lucros da empresa nos EUA. As ações da Yum! subiram 6% em 2025, impulsionadas pela popularidade dos tacos e burritos, que agora também incorporam o frango crocante no cardápio.

Aprendendo com o Taco Bell

Inspirado nesse sucesso, o KFC decidiu apostar na inovação e nostalgia. A marca trouxe de volta o carismático Coronel Sanders — interpretado agora pelo chef e ator Matty Matheson — e relançou clássicos dos anos 1990, como o molho Honey BBQ e as batatas rústicas. O retorno viralizou quando a empresa enviou batatas inteiras com carimbo da data de lançamento a influenciadores. Uma simples postagem no X (antigo Twitter) com a frase “HERE, DAMN.” alcançou quase 80 milhões de visualizações.

Ao mesmo tempo, a rede cortou o preço do sanduíche de frango de US$ 5,49 para US$ 3,99, mesmo com a alta do custo do frango no atacado — uma jogada estratégica para atrair millennials e relembrar o público do sabor original. “Há uma forte conexão nostálgica com o KFC. Precisamos lembrar às pessoas o que nos tornou tão grandes no começo”, explica Tan-Gillespie.

Mas a nostalgia, sozinha, não basta. A geração Z, faixa mais assídua nos fast-foods, representa apenas 6% da base de clientes do KFC, segundo a Numerator. Para eles, frango é sinônimo de nuggets e tenders — opções que ocupam apenas um quarto do cardápio da rede.

O novo KFC: menos ossos, mais estratégia

Para conquistar o paladar e o feed da geração Z, o KFC está reformulando seu cardápio principal. A ideia é criar baldes de tenders, versões individuais e até combos para duas pessoas — formatos mais práticos e populares entre jovens consumidores. Durante o March Madness, o torneio universitário de basquete nos EUA, a rede testou seu “primeiro balde novo em quase uma década”: uma refeição de US$ 7 com tenders, purê de batata e molho gravy.

Essa mudança, no entanto, não é inédita. Em 2013, o KFC já havia tentado popularizar o frango sem osso com uma campanha ousada: consumidores comiam o balde e ficavam chocados ao descobrir que, na verdade, não havia ossos. A publicidade foi bem recebida, mas durou apenas três meses. “Talvez tenha sido um pouco à frente do seu tempo”, reconhece Tan-Gillespie.

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A aposta do novo CEO e a concorrência voraz

O sucesso ou fracasso dessa guinada será um teste para Chris Turner, novo CEO da Yum! Brands, que acaba de assumir o comando do grupo. Turner precisa decidir até que ponto vale “abandonar os ossos” — literalmente e simbolicamente — para revitalizar o KFC. O risco é perder clientes fiéis sem conseguir atrair os novos.

A marca representa algo específico, mais famosa pelo frango no balde com osso”, explica Mark Kalinowski, CEO da Kalinowski Equity Research. “Lançar outros produtos não muda automaticamente a percepção do público.”

Essa dificuldade fica evidente em Nova York: enquanto Raising Cane’s, Popeyes e Jollibee exibem lojas lotadas em Times Square, o KFC mais próximo da região fechou na pandemia. Hoje, a unidade mais próxima fica a 20 minutos a pé, desgastada e cercada por bares e pubs.

Segundo documentos da Yum!, desde 2023 o grupo fechou 300 lojas do KFC, mas abriu 412 novas unidades do Taco Bell, mostrando onde estão as prioridades de investimento. O Taco Bell, inclusive, adicionou frango crocante ao menu em 2024 e viu suas vendas do ingrediente crescerem 50% em dois anos, com projeção de atingir US$ 5 bilhões até 2030.

Um desafio de identidade e renovação

O KFC dos EUA não recebe grandes investimentos há uma década, quando a Yum! aportou US$ 185 milhões em publicidade e equipamentos. Esse abandono é perceptível até para clientes fiéis, como Precious McMillon, de 34 anos, moradora de Louisville, Kentucky. “O KFC é ultrapassado, simplesmente não modernizado”, disse ela à Bloomberg.

Para reverter essa imagem, a empresa lançou o conceito “Saucy by KFC”, um restaurante piloto aberto em Orlando no ano passado, focado em tenders com molhos variados. Segundo o CEO David Gibbs, um terço dos clientes tem menos de 30 anos, e novas unidades estão previstas para 2025.

A informação foi divulgada por Bloomberg, que destacou ainda que os resultados do terceiro trimestre da Yum! Brands serão conhecidos em 4 de novembro, e podem revelar se a aposta da companhia finalmente começou a dar resultado.

Um mercado bilionário e em expansão

O momento é decisivo. O consumo de frango nos EUA cresceu 19% nos últimos 10 anos, superando de longe o avanço de 5,6% da carne bovina, segundo Brian Earnest, economista do CoBank. A projeção do Departamento de Agricultura dos EUA aponta que até 2030 os americanos comerão 105 libras de frango por pessoa por ano.

A febre começou em 2019, quando o Popeyes lançou o lendário sanduíche de frango, criando uma “corrida do frango” que viralizou nas redes sociais. O KFC, embora presente, ficou em terceiro plano enquanto Chick-fil-A e Popeyes trocavam farpas no Twitter e vendiam tudo em questão de horas. Desde então, mais de 60% dos fast-foods americanos passaram a incluir sanduíches de frango em seus menus, segundo a Datassential.

“O KFC tinha um produto tão bom quanto os rivais, mas não se comprometeu totalmente com o conceito sem osso”, explica Kalinowski. “Muitos franqueados ainda preferem vender o frango tradicional no balde, e isso trava a inovação.”

Agora, a marca tenta provar que tradição e modernidade podem coexistir. Abandonar os ossos é mais do que uma mudança de cardápio — é uma batalha por relevância em um mercado cada vez mais competitivo, digital e liderado por novas gerações que querem praticidade, preço e experiência.

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Felipe Alves da Silva

Sou Felipe Alves, com experiência na produção de conteúdo sobre segurança nacional, geopolítica, tecnologia e temas estratégicos que impactam diretamente o cenário contemporâneo. Ao longo da minha trajetória, busco oferecer análises claras, confiáveis e atualizadas, voltadas a especialistas, entusiastas e profissionais da área de segurança e geopolítica. Meu compromisso é contribuir para uma compreensão acessível e qualificada dos desafios e transformações no campo estratégico global. Sugestões de pauta, dúvidas ou contato institucional: fa06279@gmail.com

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