Para a agência de risco, Selic elevada afeta mais o caixa corporativo que as novas tarifas de importação impostas por Trump
Juros altos pesam mais que tarifa dos EUA para empresas, segundo análise da Fitch Ratings divulgada nesta semana. A agência de classificação de risco afirma que a taxa Selic em 15% tem impacto direto na geração de caixa das companhias brasileiras, superando os efeitos da nova tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos.
Em entrevista ao Valor Econômico, Fernanda Rezende, diretora sênior de Corporate da Fitch na América Latina, destacou que a pressão financeira interna tende a ser mais determinante nos próximos trimestres. A expectativa da agência é que os cortes de juros só comecem em 2026, mantendo o crédito caro até lá.
Alta da Selic encarece dívidas e trava investimentos
A decisão do Banco Central de manter os juros elevados como ferramenta contra a inflação aumentou o custo do capital para as empresas. A Fitch avalia que, mesmo com boa liquidez no momento, companhias estão antecipando o refinanciamento de dívidas, especialmente diante da incerteza do cenário eleitoral de 2026.
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Segundo o relatório, 23% das dívidas domésticas vencem entre 2025 e 2026. Já as obrigações externas das empresas brasileiras somam cerca de US$ 3 bilhões até o fim de 2026, o que também eleva a preocupação com o cenário global.
Tarifas dos EUA atingem poucos setores com força
Apesar do impacto político das medidas anunciadas por Donald Trump, a Fitch considera que as tarifas de 50% terão alcance limitado no perfil de crédito das empresas brasileiras. A agência analisou 14 companhias com exposição entre 3% e 50% ao mercado norte-americano.
A Embraer é a mais sensível, com até 50% das receitas vindas dos EUA. Outras empresas na faixa intermediária (11% a 30%) incluem Suzano, Prio e Eldorado Celulose. Na faixa mais baixa (3% a 10%) estão nomes como Petrobras, Vale, Minerva, Dexco, CSN e Tupy.
Estrutura da dívida define quem mais sofre
De acordo com a Fitch, a origem da dívida é fator-chave para medir o impacto dos juros. A Suzano, por exemplo, com dívida majoritariamente em dólar, é menos afetada pelo crédito doméstico. Já a Eldorado, com passivos em reais, sofre mais com a Selic alta.
A resposta das empresas tem sido conservadora: adiamento de investimentos, cortes em dividendos e foco em preservar caixa. A relação dívida líquida/Ebitda está estável em 2,5 vezes, mas a queda nos preços das commodities ameaça essa estabilidade.
Endividamento público impede grau de investimento
Para Todd Martinez, chefe da área soberana da Fitch na América Latina, o Brasil será o país emergente mais endividado nos próximos anos. A dívida pública deve chegar a 79,3% do PIB em 2025 e continuar subindo.
Sem consenso entre Executivo e Congresso para implementar reformas fiscais, o Brasil permanece distante de recuperar o grau de investimento perdido há uma década. Segundo a agência, apenas após as eleições de 2026 poderá haver espaço político para retomar ajustes estruturais.
Você concorda que os juros altos são hoje o maior obstáculo para as empresas brasileiras? Como isso afeta o futuro da economia?