A história real do estudante que tentou trocar pontos da Pepsi por um jato de guerra e transformou uma propaganda em um caso judicial histórico nos Estados Unidos
Em 1996, uma propaganda da Pepsi prometia prêmios para quem acumulasse pontos da Pepsi em embalagens de refrigerante. Entre camisetas, jaquetas e óculos escuros, o comercial encerrava com uma cena cômica: um caça militar Harrier Jet pousando em frente a uma escola, com a legenda “Harrier Jet – 7.000.000 Pepsi Points”. O que parecia uma piada publicitária virou uma disputa judicial quando John Leonard, um estudante de 21 anos, decidiu levar a oferta ao pé da letra e exigiu o avião de guerra da empresa.
O caso, conhecido como Leonard v. PepsiCo, rapidamente se tornou um marco no direito contratual americano. O que começou como uma jogada de marketing virou uma discussão jurídica sobre limites da publicidade, validade de ofertas e bom senso do consumidor.
A promoção “Pepsi Stuff” e a leitura literal do comercial
A campanha “Pepsi Stuff” permitia que consumidores trocassem tampinhas e códigos por prêmios oficiais da marca.
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No catálogo, estavam disponíveis produtos simples como camisetas, bonés e mochilas.
O comercial na TV, porém, levou a ideia ao extremo com um toque de humor: um adolescente pousava um jato militar na escola e dizia que era o “novo jeito de chegar às aulas”.
Para a maioria do público, era uma piada óbvia. Mas John Leonard, estudante de administração em Seattle, viu uma oportunidade real.
Ao ler as regras oficiais da promoção, percebeu que era possível comprar pontos adicionais por US$ 0,10 cada, desde que o participante tivesse pelo menos 15 pontos físicos.
Assim, ele fez as contas: 7 milhões de pontos custariam US$ 700 mil, um valor muito inferior ao preço real de um jato militar, estimado em US$ 37 milhões.
O jovem que levou o comercial a sério e desafiou a gigante do refrigerante
Determinando transformar a “piada” em realidade, Leonard levantou o dinheiro com investidores e enviou à Pepsi 15 pontos físicos, um cheque de US$ 700.008,50 e um formulário oficial de resgate, exigindo o Harrier Jet prometido no comercial.
A resposta da empresa foi direta: o pedido foi recusado.
A Pepsi argumentou que a propaganda tinha caráter claramente humorístico, sem qualquer intenção de constituir uma oferta real.
A empresa devolveu o cheque e afirmou que “nenhuma pessoa razoável poderia acreditar que um caça militar estava realmente em jogo”.
O processo judicial que virou referência mundial
Leonard não aceitou a resposta e entrou com uma ação contra a PepsiCo, alegando quebra de contrato e publicidade enganosa.
A Pepsi reagiu abrindo um processo declaratório, pedindo à Justiça que confirmasse judicialmente que o comercial não constituía uma oferta válida.
Em 1999, a juíza Kimba Wood, do tribunal federal de Nova York, decidiu a favor da PepsiCo. Na sentença, ela destacou que “nenhuma pessoa racional veria o comercial como uma proposta contratual séria”.
O tribunal concluiu que o tom do anúncio era claramente satírico e que a imagem de um adolescente pousando um jato militar na escola não poderia ser interpretada como um convite legítimo à compra.
As consequências e as lições do caso
Depois da polêmica, a Pepsi alterou o comercial, aumentando o valor do jato para 700 milhões de pontos e adicionando a frase “Just Kidding!” (“Brincadeira!”) na tela final, uma tentativa de evitar novos mal-entendidos.
O caso, no entanto, seguiu sendo estudado em faculdades de Direito e Marketing como um exemplo clássico de erro de interpretação de oferta e comunicação publicitária.
A história também ganhou um tom cultural. Em 2022, a Netflix lançou o documentário “Pepsi, Cadê Meu Jato?”, que revisita o episódio com depoimentos de Leonard, advogados e executivos envolvidos.
A série revive o absurdo da situação e mostra como um simples detalhe de um comercial pode gerar uma batalha judicial milionária.
O que aconteceu com John Leonard depois do caso
Embora tenha perdido o processo, John Leonard se tornou uma figura simbólica da década de 1990, um exemplo de persistência, ousadia e interpretação literal das regras.
Anos depois, ele deixou o mundo dos negócios e passou a trabalhar como chefe de guarda florestal no Parque Nacional de Denali, no Alasca, mantendo uma vida tranquila e longe dos holofotes.
Ainda hoje, o caso Leonard v. PepsiCo é citado em cursos e livros de direito contratual como uma referência sobre o que constitui uma “oferta real”.
Ele também é lembrado como um dos maiores exemplos de como uma campanha criativa pode escapar do controle da própria marca.