Disputa por terras raras: restrições da China a ímãs estratégicos reacendem ameaça de tarifa de 200% anunciada por Donald Trump
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a elevar a pressão sobre Pequim. Nesta segunda-feira (25), ele afirmou que a China precisa garantir o fornecimento de ímãs para a indústria norte-americana ou, caso contrário, os EUA adotarão uma tarifa de “200% ou algo parecido”. A declaração ocorre em meio ao recrudescimento da guerra comercial e tecnológica entre as duas maiores economias do planeta.
O governo chinês tem tratado os ímãs e os minerais que os compõem como recursos estratégicos. Em abril, Pequim restringiu a exportação de diversos produtos ligados às terras raras, entre eles os próprios ímãs, em resposta ao tarifaço de Washington.
Esses componentes são fundamentais para setores de alto desempenho, já que os ímãs mais potentes dependem de ligas à base de neodímio, samário e disprósio — este último capaz de garantir estabilidade térmica em aplicações industriais e tecnológicas avançadas.
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A nova ameaça de Trump representa mais um capítulo da escalada entre os dois países. A tensão se intensificou no segundo trimestre, após o aumento generalizado de tarifas imposto pelo republicano.
Apesar disso, em algumas ocasiões recentes, houve trégua: em 11 de agosto, o Ministério do Comércio da China prorrogou por 90 dias a suspensão de tarifas adicionais sobre produtos norte-americanos, medida que ocorreu após a assinatura de uma ordem executiva de Trump que também prorrogava a trégua tarifária.
Durante esse período, Pequim manteve em 10% as tarifas sobre bens dos EUA.

Relembre o acordo de maio
No dia 12 de maio, Estados Unidos e China chegaram a um entendimento temporário para reduzir tarifas recíprocas por 90 dias. Do lado norte-americano, a taxa sobre importações chinesas caiu de 145% para 30%. Já a China reduziu as tarifas sobre produtos dos EUA de 125% para 10%.
Duas semanas depois, porém, Trump acusou Pequim de não cumprir o que foi combinado. “A má notícia é que a China, talvez sem surpresa para alguns, violou totalmente seu acordo conosco”, escreveu o presidente nas redes sociais.
O governo chinês respondeu pedindo o fim de “restrições discriminatórias” e defendeu que ambos os lados mantivessem o consenso obtido em negociações de alto nível realizadas em Genebra, na Suíça.
O pacto, que deveria encerrar-se em 12 de agosto, acabou sendo prorrogado um dia antes de sua expiração por mais 90 dias.
Impactos econômicos e fiscais nos EUA
As medidas de Trump foram anunciadas com o objetivo de reduzir o déficit comercial e fortalecer a posição americana em futuras negociações. De acordo com o Congressional Budget Office (CBO), órgão independente ligado ao Congresso, o tarifaço deverá cortar o déficit público em US$ 4 trilhões até 2035.
Desse total, US$ 3,3 trilhões viriam da redução do déficit primário — diferença entre receitas e despesas do governo —, enquanto US$ 700 bilhões representariam economia nos pagamentos de juros da dívida.
“As mudanças recentes tornam a redução ainda maior do que a estimada em junho, quando projetávamos corte de US$ 2,5 trilhões nos déficits primários e US$ 500 bilhões nos gastos com juros”, informou o relatório divulgado em 22 de agosto.
Apesar do impacto positivo sobre as contas públicas, o CBO alerta para efeitos colaterais significativos. Tarifas mais altas tendem a encarecer bens de consumo e de capital, reduzir investimentos, comprometer a produtividade e, consequentemente, diminuir o poder de compra de empresas e famílias.
O órgão também destacou que a tarifa efetiva sobre importações já está 18 pontos percentuais acima da média de 2024, o que deve frear o crescimento econômico do país nos próximos anos.