Itália está recrutando 65 mil profissionais de saúde estrangeiros: salários de até €7 mil (R$ 44,6 mil), moradia, passagem e curso de italiano
A cena é clara: hospitais públicos e privados italianos operando no limite, filas crescendo e plantões vazios. A própria imprensa e entidades do setor falam em uma falta de cerca de 65 mil enfermeiros – número que empurra o sistema para uma corrida global por talentos. Para brasileiros, o pacote vem com atrativos: propostas que podem chegar a €7.000/mês para médicos especialistas (R$ 44,6 mil), além de moradia, passagem aérea e curso de idioma custeados por empregadores em certos programas regionais e privados. É a combinação rara de salário competitivo, porta de entrada legal e demanda real.
Salários na Itália: médicos e enfermeiros em números (e o que é bruto x líquido)
No topo da carreira, médicos especialistas podem atingir faixas que superam €7 mil mensais (bruto), a depender de especialidade, região, antiguidade e plantões.
Estimativas salariais de mercado apontam médias anuais na ordem de €130 mil para médicos, com tetos bem acima disso em posições sêniores ou com atividades complementares.
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Enfermeiros variam conforme região e contrato, com médias anuais na casa de €46–50 mil (bruto) nas grandes cidades do Norte. Atenção: a carga tributária e descontos contratuais reduzem o valor líquido, o que torna fundamental avaliar custo de vida e contrato antes da decisão.
Decreto Milleproroghe: reconhecimento temporário de diplomas
O artigo 15 do Decreto-Lei 34/2023, conhecido como Decreto Bollette, abriu a possibilidade de exercício temporário, em caráter excepcional, de profissões de saúde com qualificação obtida no exterior, para enfrentar a carência crônica de pessoal.
Essa via especial foi prorrogada primeiro até 31 de dezembro de 2025 e depois ampliada até 31 de dezembro de 2027.
Na prática, regiões e estruturas de saúde podem contratar profissionais estrangeiros sob regras específicas, enquanto o reconhecimento pleno tramita pelas vias ordinárias.
Como funcionam as contratações: idioma, ordem profissional e rotas regionais
Mesmo com a via temporária, regras básicas permanecem: comprovar diploma, histórico de formação e nível de italiano adequado; e, para o exercício regular, obter reconhecimento ministerial e inscrição na ordem profissional competente — OPI para enfermeiros e Ordine dei Medici para médicos.
Algumas regiões estruturaram editais e canais próprios para acelerar o ingresso, inclusive com avaliação linguística local e contratos por tempo determinado.
A Itália opera com quotas anuais pelo Decreto Flussi. Para 2023–2025, o governo programou 452 mil entradas entre sazonais e não sazonais, com 151 mil autorizações em 2024 e 165 mil em 2025.
Em junho de 2025, o gabinete anunciou um passo além: quase 500 mil vistos adicionais para 2026–2028, elevando a oferta legal de mão de obra estrangeira para suprir setores críticos e saúde inclusa. Para o candidato brasileiro, isso significa mais janelas de aplicação e menor gargalo na tramitação.
Benefícios extras: moradia, passagem e curso de idioma, quem paga?
Os benefícios citados — moradia, passagem aérea, curso de italiano — não são garantias do governo central. Eles surgem em programas regionais, hospitais, fundações ou agências privadas que querem tornar a vaga mais atrativa.
É comum ver auxílio de realocação e formação linguística patrocinada pelo empregador, sobretudo em cidades com maior déficit. Mas cada edital deve ser lido com atenção: quem oferece o quê, por quanto tempo e sob quais condições de permanência.
Onde está a maior demanda (e por quê)
O buraco é mais fundo em regiões com população mais idosa, cortes históricos de investimento e saída de profissionais para outros países europeus com remunerações mais altas.
O resultado é uma pressão crescente por plantões, fechamento de serviços e guerra por talentos que disputa enfermeiros e médicos no mercado global.
Relatórios oficiais vêm alertando para a suboferta crônica e para a urgência de planejar a força de trabalho na saúde.
Passo a passo para o brasileiro (resumo prático)
Mapeie a vaga: comece por hospitais públicos regionais e redes privadas; verifique exigência de idioma e a base legal da contratação.
Diploma e documentos: reúna histórico, ementas, registro profissional no Brasil e traduções juramentadas.
Via temporária: confirme se a região ou hospital usa o artigo 15 do DL 34/2023; contratos costumam ser por tempo determinado.
Reconhecimento e ordem: para exercício regular, protocole reconhecimento no Ministério da Saúde e a inscrição na ordem profissional.
Visto e permesso: aplique ao visto de trabalho pelo Decreto Flussi; após chegada, converta em permesso di soggiorno dentro do prazo legal.
Contrato e benefícios: valide salário bruto x líquido, escalas e benefícios de moradia, passagem e curso.
A cidadania por descendência (jure sanguinis) não depende de trabalhar dois anos na Itália, como muitos acreditam.
As regras atuais endureceram o acesso para vínculos remotos e centralizaram análises, priorizando linhas diretas — pais e avós. Trabalho por si só não gera cidadania. Cada caso exige análise documental específica, feita em cartórios e consulados.
Oportunidade com alerta de realidade
Há, sim, demanda real e vias legais mais abertas do que no passado recente. Mas a rota exige organização documental, italiano funcional, entendimento de salários brutos e líquidos e atenção às regras regionais.
O upside: salários competitivos para médicos, progressão estável em redes públicas ou privadas e a chance de construir currículo europeu.
O downside: custo de vida elevado em grandes centros, burocracia e competição crescente à medida que mais candidatos entram no jogo.
Com quotas plurianuais e a projeção de quase 500 mil vistos até 2028, a Itália sinaliza que terá janela longa para imigração qualificada. Saúde continuará na linha de frente: envelhecimento, aposentadorias e déficit formativo mantêm o mercado aquecido — e quem chegar preparado, documentado e com idioma na ponta da língua tende a sair na frente.