Isenção de imposto de renda pode beneficiar salários até R$ 5 mil em 2026; veja quanto cada faixa salarial vai economizar no IR.
A Câmara dos Deputados avançou, nesta semana, na discussão sobre a ampliação da isenção de Imposto de Renda (IR). A proposta, já aprovada em comissão especial e em regime de urgência no Congresso Nacional, pode ser votada diretamente no plenário e prevê que, a partir de 2026, trabalhadores com salários de até R$ 5 mil fiquem isentos.
A mudança deve impactar cerca de 10 milhões de pessoas, mas especialistas avaliam que o projeto ainda é limitado e pouco progressivo.
Segundo cálculos da Confirp Contabilidade, quem recebe R$ 5 mil mensais será o principal beneficiado, com uma economia de aproximadamente R$ 313 por mês, o que representa R$ 4.067 por ano, incluindo o décimo terceiro salário.
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Já os ganhos diminuem progressivamente até a faixa de R$ 7.350, acima da qual não haverá alteração.
Quanto cada faixa salarial vai economizar no IR
De acordo com as estimativas, os ganhos variam conforme a renda:
R$ 3.400 → R$ 27,30 por mês (R$ 354,89 por ano);
R$ 4.000 → R$ 114,76 por mês (R$ 1.491,89 por ano);
R$ 5.000 → R$ 312,89 por mês (R$ 4.067,57 por ano);
R$ 5.500 → R$ 246,32 por mês (R$ 3.202,19 por ano);
R$ 6.000 → R$ 179,75 por mês (R$ 2.336,75 por ano);
R$ 6.500 → R$ 113,18 por mês (R$ 1.471,31 por ano);
R$ 7.000 → R$ 46,60 por mês (R$ 605,86 por ano);
R$ 7.350 → sem ganho adicional.
Para o diretor tributário da Confirp, Welinton Mota, “é quase um salário a mais por ano” para quem ganha R$ 5 mil, mas, devido à progressividade do IR, os benefícios diminuem até zerarem na faixa de R$ 7.350.
Câmara dos Deputados acelera votação
A decisão da Câmara dos Deputados de dar urgência à proposta mostra a intenção do governo e do Legislativo de aprovar a medida ainda em 2025, garantindo efeitos em 2026.
Segundo o relator, Arthur Lira (PP-AL), a alteração deve beneficiar 500 mil brasileiros diretamente e busca preservar a “neutralidade” do sistema.
Caso aprovado, estima-se que 65% dos declarantes de IR fiquem isentos a partir de 2026, o equivalente a 26 milhões de pessoas. Isso significa que 87% da população brasileira não pagaria mais o tributo.
Críticas e debates sobre a justiça tributária
Apesar do impacto positivo para parte da classe média, a proposta gerou debates entre economistas e organizações sociais. Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a medida busca corrigir distorções:
“Eu costumo dizer que, no Brasil, o morador da cobertura não paga condomínio e o zelador paga. Essa é a realidade do nosso sistema tributário.”
No entanto, especialistas alertam que o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda não favorece os mais pobres, mas sim trabalhadores de classe média e média alta.
Dados da PNAD mostram que apenas 32% dos brasileiros se enquadram nas faixas que terão redução de IR.
Segundo o pesquisador Bráulio Borges, da FGV Ibre, “na prática, 80% dos contribuintes não pagarão IR no Brasil, e quem ganha mais de R$ 6 mil já está entre os 10% mais ricos do país”.
Compensação: taxação dos mais ricos e dividendos
Para compensar a perda de arrecadação, o governo propõe tributar os chamados super-ricos, aqueles que recebem acima de R$ 50 mil por mês. Além disso, dividendos também seriam taxados, ainda que de forma limitada.
Especialistas, no entanto, consideram a medida tímida. O economista do Ipea, Sérgio Gobetti, defende uma tributação mais robusta sobre lucros e dividendos, como ocorre em países desenvolvidos.
Ele estima que a arrecadação poderia ultrapassar R$ 100 bilhões por ano se houvesse maior rigor.
Organizações pedem avanço mais ousado
Entidades como Inesc e Oxfam Brasil reconhecem o avanço da proposta, mas alertam que ela não deve ser vista como ponto final:
“A proposta em tramitação deve ser encarada como um ponto de partida, um chão sobre o qual se constrói um sistema mais justo, e não como um teto que limita o debate.”
Segundo essas organizações, é necessário caminhar para uma tributação mais progressiva e inclusiva, reduzindo o peso dos impostos sobre o consumo — que afetam desproporcionalmente os mais pobres.