Em uma era dominada por energia renovável e risco de apagões, a Irlanda inaugura um sistema inédito: o maior volante de inércia do mundo, capaz de estabilizar a rede elétrica com energia cinética pura — sem poluir e sem depender de combustíveis fósseis
No alto da costa oeste da Irlanda, onde ventos cortantes e mares revoltos moldam a paisagem, algo colossal gira a 3.000 rotações por minuto. Trata-se do maior volante de inércia do planeta, uma peça gigantesca de engenharia que não gera energia — mas pode ser a chave para evitar apagões e estabilizar a rede elétrica de um país inteiro. Localizado na antiga usina a carvão de Moneypoint, esse sistema é símbolo de uma nova era energética. Um tempo em que a estabilidade da rede elétrica não depende mais de geradores movidos a gás, carvão ou diesel, mas de soluções inteligentes, sustentáveis e, surpreendentemente, mecânicas.
O que é um volante de inércia — e por que ele pode evitar apagões?
Pense em uma roda gigante girando a altíssima velocidade. Essa roda armazena energia cinética — energia de movimento. E essa energia, quando liberada no momento certo, pode compensar quedas bruscas de frequência na rede elétrica.
Isso é exatamente o que o volante de inércia de Moneypoint faz. Ele atua como uma espécie de pulmão da rede, liberando ou absorvendo energia instantaneamente para manter a frequência elétrica estável — algo fundamental em sistemas com alta penetração de fontes renováveis, como solar e eólica.
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O problema: as renováveis são limpas, mas instáveis
Fontes como o vento e o sol são maravilhosas para o meio ambiente, mas têm um grande defeito: não produzem energia de forma constante. Quando uma nuvem cobre o sol ou o vento cessa repentinamente, a produção de energia despenca — e isso causa oscilações perigosas na rede elétrica, podendo provocar apagões.
Tradicionalmente, quem resolvia isso eram as turbinas gigantes de usinas térmicas ou hidrelétricas, com seus geradores rotativos cheios de inércia física. Eles giram o tempo todo, estabilizando a rede como um pêndulo. Mas conforme o mundo desliga essas usinas poluentes, a rede perde essa “almofada de segurança”.
A Irlanda, ao prever esse cenário, apostou em uma solução ousada e inédita.
Moneypoint: da fumaça do carvão à rotação limpa
A antiga usina térmica de Moneypoint, antes símbolo da dependência de combustíveis fósseis, foi transformada em um centro híbrido de energia limpa e estabilização de rede. Em seu coração está o maior volante de inércia já construído, fabricado pela Siemens Energy.
O sistema completo possui três componentes:
- Volante de Inércia: pesa 130 toneladas e gira a 3.000 rpm.
- Condensador síncrono: acoplado ao volante, adiciona mais 66 toneladas ao sistema.
- Baterias gigantes: com 160 MWh de capacidade, capazes de abastecer 9.500 residências por dia.
Juntos, esses elementos criam uma “colchão” de 4.000 megawatts-segundo de inércia, funcionando como escudo contra oscilações e apagões.
Um sistema que responde em milésimos de segundo
A mágica do volante de inércia está na sua capacidade de reagir instantaneamente. Quando a rede sofre uma queda de frequência (por exemplo, quando uma usina solar para de produzir), o volante libera sua energia cinética acumulada — antes mesmo que as baterias ou outros sistemas percebam a queda.
Essa resposta ultra rápida mantém os sistemas operando, evita apagões e reduz danos a equipamentos sensíveis, como servidores, hospitais e sistemas industriais.
O futuro da rede elétrica é híbrido — e precisa de inércia
A instalação irlandesa é um modelo para o futuro. Com a meta da União Europeia de zerar emissões de carbono até 2050, a proporção de fontes intermitentes só tende a aumentar. Mas com ela, também aumenta o risco de instabilidade.
Na Espanha, um apagão ocorrido em 28 de abril foi justamente atribuído à baixa inércia da rede, causada pela ausência de usinas rotativas em operação. É nesse contexto que sistemas como o de Moneypoint surgem como guardiões invisíveis das energias renováveis.
Outros países já estão atentos:
- Reino Unido: com o projeto Keith Greener Grid Park, usando volantes para estabilização.
- Alemanha, Suíça e Itália: estudam ou já implantaram sistemas similares.
- Ilhas Canárias (Espanha): operam com volante de inércia desde 2013 na subestação de Mácher.
E o Brasil?
No Brasil, onde a matriz elétrica ainda é fortemente dependente de hidrelétricas, o problema da inércia ainda não é tão crítico. No entanto, o aumento de fontes solares e eólicas no Nordeste já começa a levantar discussões sobre estabilidade de frequência.
Por ora, o país aposta em baterias e sistemas de controle digital, mas ainda não possui projetos robustos com volantes de inércia, como os da Irlanda. Um sinal de alerta para o futuro.
O volante de inércia de Moneypoint não gera energia, não faz barulho e não brilha como os painéis solares. Mas é, possivelmente, um dos sistemas mais importantes da transição energética moderna.
Em um mundo que busca energia limpa, barata e abundante, a estabilidade da rede é tão valiosa quanto a geração em si. E a Irlanda, girando a 3.000 rpm, já entendeu isso — antes que o próximo apagão mostre o preço da negligência.
Desde quando uma usina hidrelétrica é poluente?! E poluição por poluição, usinas eólicas geram GRANDE poluição sonora e danos à fauna (aves e morcegos), enquanto as usinas solares vão gerar um GRANDE passivo ambiental com placas solares inutilizadas, devido aos metais pesados usados na sua fabricação.