Em 2025, o “tarifaço” de Trump une política interna, geopolítica e arrecadação, transformando tarifas em arma econômica e diplomática de alcance global
A nova onda de tarifas impostas pelo governo Donald Trump, apelidada de “tarifaço”, mudou o rumo do comércio global em 2025. Não se trata apenas de equilibrar déficits. A medida combina política interna, pressão geopolítica e arrecadação de receitas.
Por trás dos discursos de “proteger empregos” e “restaurar a soberania econômica” está um mecanismo de múltiplas funções.
As tarifas atuam como ferramenta de negociação, instrumento de pressão diplomática e fonte de recursos para o governo.
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Escopo das medidas tarifárias
Em 2 de abril de 2025, Trump assinou as ordens executivas chamadas “Liberation Day tariffs”. Elas impuseram uma tarifa-base de 10% sobre importações de quase todos os países.
Em casos específicos, a taxa adicional chegou a 50%. Entre os atingidos estão China, Índia, Brasil, México e Suíça.
Segundo o Washington Post, a arrecadação mensal pode superar US$ 50 bilhões, alcançando US$ 165 bilhões no ano.
Além de bens agrícolas e industriais, o tarifaço atinge setores estratégicos como alta tecnologia e produtos farmacêuticos.
Discurso oficial e justificativas
O governo apresenta três pilares para a medida. O primeiro é proteger a indústria nacional, incentivando a reindustrialização e reduzindo o déficit comercial. A Casa Branca classifica a política como essencial para “garantir condições justas” aos trabalhadores.
O segundo é fiscal. As tarifas representam uma receita extra para o orçamento federal, evitando aumento de impostos internos.
O terceiro argumento é a segurança nacional. A gestão Trump relaciona o tarifaço ao combate de ameaças, como o tráfico de fentanyl, e à proteção de cadeias de suprimento estratégicas.
Há também um componente diplomático. No caso de países como Índia e Brasil, as tarifas foram usadas como resposta a políticas vistas como desfavoráveis aos EUA.
Disputas legais e base jurídica
Trump fundamentou parte das ordens no International Emergency Economic Powers Act (IEEPA), alegando “emergência nacional” por déficits e riscos à segurança.
No entanto, tribunais federais, como a Court of International Trade, contestaram a legalidade. Decisões apontam que a IEEPA não autoriza tarifas tão amplas em tempos de paz. Algumas ordens já foram suspensas por extrapolarem a autoridade presidencial.
Efeitos na economia e respostas externas
Dentro dos EUA, o impacto é direto no bolso das famílias. O Center for American Progress calcula custo extra de US$ 2.800 anuais por família. Fabricantes como a Ford relatam prejuízos e aumento de preços para o consumidor.
No exterior, países como Canadá adotaram tarifas retaliatórias. Isso cria um ciclo de tensões comerciais e ameaça a estabilidade das cadeias globais de suprimento. Organizações como a OMC sofrem pressão diante dessa escalada.
Geoeconomia em ação
O Financial Times define a política como um exemplo claro de geoeconomia: usar o poder econômico para objetivos políticos e estratégicos.
As tarifas não servem apenas para corrigir números comerciais, mas para influenciar decisões de outros governos.
Essa estratégia é transacional e imediatista. Muitas vezes, busca concessões em temas como defesa, infraestrutura e política externa.
Repercussão interna e capital político
Internamente, o tarifaço reforça o slogan “America First” e consolida a imagem de Trump como defensor do trabalhador. Ao centralizar tarifas na política econômica, ele se comunica diretamente com sua base eleitoral.
O uso de ordens executivas para implementar as medidas também dribla resistências no Congresso. Isso amplia o alcance de decisões unilaterais sem negociações prolongadas.
Receita e poder concentrado
O efeito arrecadatório é significativo. Em um cenário de déficit fiscal elevado, as tarifas oferecem recursos rápidos. Ao associar a medida a uma “emergência nacional”, Trump aumenta sua liberdade de ação.
Críticos alertam para riscos ao equilíbrio entre poderes e ao uso político de declarações de emergência.
Um modelo em teste
O tarifaço vai além do protecionismo clássico. É um mecanismo que mistura economia, diplomacia coercitiva, geração de receita e fortalecimento político.
Embora vendido como proteção econômica e defesa nacional, o uso intenso das tarifas também redesenha relações internacionais de forma unilateral.
Os efeitos ainda estão em curso. Já é visível, porém, que os EUA se reposicionam como potência que usa o comércio como arma política.
A questão que permanece é se esse modelo conseguirá se sustentar sem impor custos internos pesados e sem abalar de forma irreversível a ordem comercial global.
Fontes principais usadas no artigo:
- The Washington Post
- Financial Times