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Irã estaria ainda mais motivado a buscar a bomba atômica após ataques dos EUA e Israel, afirma especialista

Publicado em 20/08/2025 às 10:39
Ataques, Israel, Irã, EUA, Bomba Atômica
Imagem: Força Aérea dos EUA / Wikimedea Commons
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Ofensiva conjunta de Israel e Estados Unidos contra instalações nucleares do Irã em junho abre nova fase de tensão, riscos estratégicos e incertezas diplomáticas

O ataque conjunto de Israel e Estados Unidos contra as instalações nucleares iranianas em junho foi justificado por uma razão clara. Segundo Tel Aviv e Washington, Teerã estaria prestes a adquirir capacidade para construir uma bomba atômica. Essa possibilidade foi considerada inaceitável pelos dois aliados, que decidiram agir militarmente.

A ofensiva atingiu instalações em Isfahan, Natanz e Fordow. Para os governos envolvidos, tratava-se de uma ação necessária para atrasar o avanço iraniano.

A avaliação de Raz Nimmt, ex-oficial da inteligência israelense e especialista em política iraniana, reforça essa ideia. Ele estima que os ataques podem ter adiado a capacidade nuclear do Irã em alguns anos.

No entanto, ele alerta que o efeito colateral foi o aumento da motivação iraniana para conquistar a bomba.

O trauma histórico do Irã

A guerra entre Irã e Iraque nos anos 1980 deixou marcas profundas na memória nacional. Os iranianos chamam esse conflito de “Guerra Imposta”.

Hoje, segundo Nimmt, muitos já se referem à ofensiva de junho como a “Segunda Guerra Imposta”. Essa comparação mostra a relevância histórica e emocional dos bombardeios.

Por isso, cresce dentro do Irã a ideia de que apenas uma arma nuclear seria capaz de impedir novos ataques de Israel e Estados Unidos.

Antes da guerra, vozes defendiam esse caminho. Agora, com o episódio recente, esses setores ganharam argumentos adicionais. Para Nimmt, trata-se de um cenário perigoso para Israel.

Caminhos clandestinos para a bomba

Um dos pontos centrais na análise de Nimmt é a possibilidade de Teerã buscar rotas alternativas e secretas para desenvolver sua bomba.

Abandonar instalações atingidas e levar urânio enriquecido para locais isolados, como o deserto, poderia ser uma estratégia. A produção, então, seria finalizada em laboratórios menores, fora do alcance de inspeções.

O ataque em Fordow ilustra essa preocupação. Os EUA usaram bombardeiros furtivos B2 para tentar destruir centrífugas avançadas.

Nimmt acredita que essa missão não alcançou o objetivo total. Assim, mesmo que Washington declare sucesso, a infraestrutura nuclear iraniana permanece ativa, ainda que limitada.

Segundo ele, se o Irã decidir avançar clandestinamente, Israel ainda terá um espaço de reação. Atacar a infraestrutura de mísseis, que não foi totalmente destruída, poderia impedir o regime de transformar o material nuclear em armas capazes de atingir território israelense.

Justificativa e estratégia israelense

A posição de Nimmt sobre a decisão de guerra é clara. Ele não condena o governo israelense por iniciar os ataques.

Para ele, havia duas perguntas fundamentais: se havia motivo legítimo para a ofensiva e se o resultado trouxe ganhos estratégicos.

Na segunda questão, o especialista é enfático. Israel saiu fortalecido, porque ganhou tempo e abriu uma janela para negociações internacionais.

A expectativa dele é que Estados Unidos e aliados transformem as vitórias militares em um novo acordo que limite a capacidade de enriquecimento de urânio do Irã.

Na primeira questão, Nimmt reconhece que os detalhes permanecem incertos. Mas indica que a motivação pode ter sido o avanço dos cientistas iranianos na transformação de material físsil em bombas aptas a atingir Israel.

Nesse cenário, a percepção em Tel Aviv seria de que a ação militar era a única forma de impedir um ponto de não retorno.

O papel do enriquecimento de urânio

A diferença entre programas civis e militares é central na disputa. Reatores de energia precisam de urânio enriquecido em cerca de 5%.

Já uma bomba exige 90%. Antes da guerra, a Agência Atômica da ONU já alertava que o Irã não cumpria obrigações do Tratado de Não Proliferação.

Israel, por sua vez, não integra o tratado. Estimativas internacionais apontam que o país possui cerca de 90 ogivas nucleares.

Entretanto, o governo israelense nunca reconheceu oficialmente esse arsenal. Essa assimetria alimenta críticas, mas também reforça a lógica de dissuasão regional.

O legado do acordo abandonado

O pesquisador lamenta o fim do acordo nuclear firmado no governo Barack Obama. Para ele, o pacto de 2015 não era perfeito, mas funcionava como forma de conter o programa iraniano.

Quando Donald Trump decidiu abandoná-lo, abriu caminho para que Teerã retomasse o enriquecimento em níveis mais elevados.

Os governos europeus, à época, insistiam que o Irã cumpria as obrigações. A saída dos EUA, contudo, inviabilizou o entendimento.

Desde então, Washington e Teerã não conseguiram criar uma alternativa. O resultado foi a aceleração do programa nuclear iraniano e o aumento da tensão no Oriente Médio.

O futuro incerto

Nimmt conclui sua análise defendendo duas linhas de ação. Por um lado, Israel deve manter a capacidade de usar a força sempre que necessário, para impedir avanços decisivos do Irã. Por outro, a busca por um novo acordo internacional ainda é desejável.

Segundo ele, enquanto o regime iraniano permanecer no poder, não existe solução definitiva. O caminho mais realista é garantir que Teerã não chegue ao ponto de completar uma bomba.

Para isso, será preciso uma combinação de pressão militar, diplomacia e monitoramento constante.

Essa visão resume a complexidade do momento atual. Os ataques de junho podem ter freado o Irã, mas também reforçaram sua determinação.

O equilíbrio entre força e negociação volta a ser o desafio central para Israel, Estados Unidos e a comunidade internacional.

Com informações de Folha de São Paulo.

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Romário Pereira de Carvalho

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