Impostos no Brasil aumentam o preço final de produtos e ainda geram novos tributos sobre valores já inflacionados, como no caso do IPVA.
No Brasil, o peso dos impostos sobre produtos e serviços é um tema que constantemente revolta os consumidores.
Em muitos casos, a carga tributária não está apenas embutida nos preços de forma invisível — ela distorce a percepção do que realmente está sendo pago e afeta outros tributos derivados, como o IPVA.
Um exemplo prático ajuda a entender a gravidade da situação.
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Maquiagem de R$ 200 e a conta que não fecha
Imagine comprar uma maquiagem no Brasil por R$ 200. Sendo que a nota afirma que 50% desse valor é imposto.
Ou seja, R$ 100 seriam tributos. Essa é a conta mais comum, mas ela não revela toda a verdade.
Na prática, a maquiagem poderia custar R$ 100 sem os tributos, e os outros R$ 100 representam o valor que o Estado adiciona ao produto.
Agora pense numa maquiagem similar vendida nos Estados Unidos por R$ 10. Ao chegar no caixa, o consumidor paga R$ 15.
Isso significa que os tributos ali representam R$ 5 sobre um produto que custava R$ 10. A carga é, de fato, de 50%.
No caso brasileiro, se o produto, sem tributo, custaria R$ 100 e, com tributo, vai a R$ 200, o imposto representa 100% do valor original.
Isso porque o consumidor está pagando o dobro por causa da tributação.
Ou seja, o que parece um imposto de 50% pode, na prática, ser uma carga de 100% sobre o valor de origem do produto. Thiago Nigro, o Primo Rico, fez uma explicação simples.
O problema da comparação direta
Muitas vezes, comparações simples com outros países são feitas para tentar justificar ou criticar a carga tributária brasileira.
Mas essas comparações costumam omitir que, além do valor final ser mais alto no Brasil, os tributos se acumulam em cada etapa da cadeia de produção e comercialização.
O resultado é que o consumidor paga não só o imposto embutido no produto, mas também impostos sobre impostos.
Isso causa confusão e abre espaço para distorções no discurso. Há quem diga que a maquiagem custa R$ 200 e tem 50% de imposto.
Mas se esse valor for composto por um produto de R$ 100 e mais R$ 100 de tributos, na verdade o imposto é de 100% sobre o valor base.
Esse tipo de detalhe muitas vezes é ignorado em debates sobre política tributária.
Quando o imposto gera outro imposto
A situação piora quando se considera que esses tributos influenciam outros tributosque o consumidor também precisa pagar.
Um bom exemplo disso está na compra de automóveis. Suponha que um carro tenha valor de tabela de R$ 100 mil.
Esse valor, na verdade, já está inflado pelos impostos incidentes na fabricação e comercialização do veículo.
Agora entra o IPVA, o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores.
Ele é calculado com base no valor do carro, segundo a tabela Fipe. Se a alíquota é de 4%, então o IPVA de um carro de R$ 100 mil será de R$ 4 mil.
Mas, se o carro só custa R$ 100 mil por causa dos impostos embutidos, isso significa que o consumidor também está pagando IPVA sobre um valor artificialmente elevado.
Em outras palavras, ele está pagando imposto sobre imposto.
Imposto escondido, indignação evidente
Esse raciocínio leva a uma conclusão desconfortável: muitos brasileiros nem sabem o quanto pagam de imposto em cada compra ou serviço.
Os valores vêm embutidos nos preços finais, e poucos têm acesso ou compreensão dos detalhes que compõem esses valores.
A maquiagem de R$ 200 que, na prática, tem 100% de imposto sobre o valor original, é só um símbolo. O mesmo se repete em roupas, eletrodomésticos, alimentos, carros e até na conta de energia elétrica.
A revolta cresce quando se percebe que o consumidor está pagando tributos não apenas no produto em si, mas também em etapas indiretas.
O sistema atual permite que impostos se acumulem, gerando distorções de valor.
Em casos como o IPVA, a consequência é ainda mais visível: o tributo anual do carro se baseia num valor que só existe por causa de outros triibutos anteriores.
Um sistema que cobra em dobro
A carga tributária no Brasil, por vezes, parece invisível, mas pesa em dobro.
O consumidor não apenas paga um alto valor no produto, mas arca com outros tributos calculados sobre valores já inflacionados por impostos anteriores.
O exemplo da maquiagem e do IPVA revela uma estrutura que penaliza o consumidor em todas as etapas.
Mais do que percentuais altos, o problema é a forma como os tributos são aplicados em cascata, distorcendo o valor real dos produtos e serviços.
O impacto vai além do preço na prateleira — está também nos impostos derivados, que continuam cobrando mesmo depois da compra.