Embarcação não tripulada equipada com internet via satélite escancara o avanço tecnológico do narcotráfico internacional e desafia autoridades de segurança em diferentes países.
A Marinha da Colômbia anunciou em 2 de julho de 2025 a apreensão do primeiro narcosubmarino não tripulado equipado com a tecnologia de internet via satélite Starlink, serviço desenvolvido pela SpaceX, empresa do empresário Elon Musk.
O episódio ocorreu no mar do Caribe, nas proximidades da cidade de Santa Marta, e trouxe à tona um novo patamar no uso de tecnologia avançada por organizações criminosas internacionais.
Segundo informações oficiais, a embarcação semissubmersível era controlada remotamente e contava com uma antena Starlink instalada na proa, recurso que permitia comunicação em tempo real, mesmo em áreas marítimas isoladas, onde a conectividade tradicional é inexistente.
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A Marinha informou ainda que o veículo, projetado para transportar até 1,5 tonelada de cocaína, pertenceria ao Clã do Golfo, considerado atualmente o maior grupo de tráfico de drogas da Colômbia, e estava aparentemente em fase de testes operacionais.
Como a tecnologia Starlink transformou o tráfico internacional?
A presença de um sistema de internet via satélite Starlink em operações desse tipo representa uma mudança radical nas estratégias dos cartéis.
Tradicionalmente, os chamados “narcosubmarinos” eram utilizados há décadas para escoar grandes volumes de drogas da Colômbia para a América Central, México, Estados Unidos, Europa e Oceania.
A tecnologia Starlink, lançada originalmente para fornecer acesso à internet em regiões remotas e desconectadas, agora está sendo apropriada por redes criminosas para garantir maior autonomia, flexibilidade e evasão das forças de segurança.
Imagens divulgadas pela Marinha colombiana mostram o semissubmersível, pintado de cinza para dificultar a identificação visual, com uma antena de satélite claramente visível, evidenciando o uso do serviço de Elon Musk.
O comandante da Marinha da Colômbia, almirante Juan Ricardo Rozo, destacou que o uso de veículos não tripulados é resultado direto da “migração dos traficantes para sistemas mais sofisticados”, o que amplia o desafio das autoridades responsáveis pelo combate ao narcotráfico.
O que diferencia um narcosubmarino não tripulado dos modelos tradicionais?
Os semissubmersíveis são embarcações construídas de maneira artesanal em estaleiros clandestinos no interior da Colômbia.
Operando rente à superfície, eles conseguem burlar sistemas de radar e, assim, têm sido largamente empregados no transporte de cocaína para diferentes continentes.
O diferencial do veículo interceptado em julho de 2025 é a ausência de tripulação, uma inovação que reduz significativamente os riscos para os chefes do tráfico, pois impede a captura de operadores humanos que poderiam colaborar com as autoridades.
De acordo com pesquisas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz da Colômbia, organizações criminosas do México já investiam em tecnologia e contratavam engenheiros para criar submarinos autônomos desde 2017.
Essa tendência tem ganhado força, impulsionada pela alta demanda internacional por cocaína e pelos lucros crescentes do mercado ilícito.
Por que a Starlink virou alvo do narcotráfico internacional?
O interesse do tráfico internacional pelo Starlink se explica pelo potencial da tecnologia de garantir conectividade global, inclusive em alto-mar.
A utilização desse sistema possibilita a operação de drones marítimos a grandes distâncias, o monitoramento em tempo real e a rápida alteração de rotas para escapar de operações policiais.
Autoridades informam que a adoção de internet por satélite permite também o controle remoto de cargas valiosas sem colocar vidas humanas em risco, eliminando a necessidade de recrutar pessoas para missões de alto perigo.
O próprio almirante Rozo afirmou em entrevista coletiva que “a presença da antena Starlink indica um salto tecnológico no narcotráfico, permitindo operações sem a necessidade de tripulação a bordo”.
Dados sobre produção e apreensão de cocaína
A Colômbia, maior produtor global de cocaína segundo dados das Nações Unidas (ONU), concentra atualmente 67% dos cultivos de folha de coca do planeta.
A produção e as apreensões de cocaína alcançaram números históricos em 2023, impulsionadas pela crescente demanda internacional.
Nos primeiros meses de 2024, o número de narcosubmarinos interceptados já se aproximava de níveis recordes, incluindo a apreensão de uma embarcação com cinco toneladas de cocaína com destino à Austrália, em novembro de 2024.
As autoridades colombianas afirmam que o endurecimento das leis contribuiu para dificultar a atuação dos cartéis.
O código penal local prevê penas de até 14 anos de reclusão para quem fabricar, possuir, transportar ou comercializar semissubmersíveis, tripulados ou não.
Outros casos recentes e impactos globais
O uso da tecnologia Starlink pelo tráfico não se limita à América do Sul.
Em novembro de 2024, a polícia indiana confiscou um carregamento de metanfetamina avaliado em 4,25 bilhões de dólares, transportado em uma embarcação controlada remotamente e equipada com antena Starlink.
Esse episódio reforça a tendência global de apropriação de tecnologias originalmente civis por organizações criminosas, colocando autoridades de diversos países em alerta.
Para especialistas, a sofisticação crescente das redes criminosas, alimentada pela adoção de inovações como o Starlink, representa um desafio sem precedentes para forças de segurança nacionais e internacionais.
Ao mesmo tempo, a ausência de operadores humanos a bordo dificulta a investigação e a identificação de líderes das quadrilhas, que seguem investindo em estratégias para evitar a fiscalização e manter o fluxo de drogas para o mercado internacional.
Autoridades ampliam monitoramento e investigações
Diante do avanço dessas tecnologias, a Marinha da Colômbia e outras forças de segurança da região têm reforçado o monitoramento das rotas marítimas e a cooperação internacional para interceptar embarcações suspeitas.
Conforme comunicado do almirante Rozo, “os cartéis estão investindo em inovação para continuar suas operações, mas estamos atentos e reforçando nossas estratégias de vigilância e resposta”.
A atuação conjunta de órgãos nacionais e internacionais tem sido considerada essencial para conter o avanço desse novo perfil de criminalidade, cada vez mais dependente de recursos tecnológicos sofisticados.