Venezuela cortou 14 zeros do bolívar e criou o Bolívar Digital em 2021, mas a inflação continua corroendo salários e o dólar domina a economia.
Poucos países no mundo enfrentaram uma instabilidade monetária tão devastadora quanto a Venezuela. Em menos de duas décadas, o país comandado por Hugo Chávez e, depois, por Nicolás Maduro, viu sua moeda perder valor de forma tão dramática que precisou ser reformulada várias vezes. Entre 2008 e 2021, o governo venezuelano removeu 14 zeros do bolívar em diferentes rodadas de “redenominação”, tentando recuperar a confiança. Em 2021, anunciou o lançamento do Bolívar Digital, apresentado como solução moderna para simplificar transações e reduzir o impacto da hiperinflação. Mas, na prática, a moeda virtual não resolveu os problemas: os preços continuam disparando e os salários permanecem corroídos pela perda de poder de compra.
A hiperinflação venezuelana
O colapso monetário começou a se intensificar em meados de 2013, após a queda dos preços do petróleo — principal produto de exportação da Venezuela, responsável por mais de 90% da entrada de divisas. Sem dólares suficientes, o governo passou a financiar gastos internos com emissão descontrolada de moeda.
O resultado foi uma espiral inflacionária. Entre 2016 e 2019, a inflação anual ultrapassou os 1.000.000%, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Na prática, isso significava que os preços dobravam em questão de dias.
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Para o cidadão comum, a consequência foi devastadora: salários que não compravam sequer um quilo de arroz, supermercados vazios e a necessidade de carregar sacolas cheias de dinheiro para pagar por itens básicos.
Os cortes de zeros da moeda
Diante do caos, o governo venezuelano tentou “resetar” a moeda várias vezes:
- 2008 – criação do Bolívar Fuerte, cortando 3 zeros do antigo bolívar.
- 2018 – criação do Bolívar Soberano, retirando 5 zeros adicionais.
- 2021 – lançamento do Bolívar Digital, com corte de mais 6 zeros.
No total, entre 2008 e 2021, foram 14 zeros removidos da moeda. Na prática, uma conta de 100.000.000.000.000 bolívares em 2007 passou a valer apenas 1 bolívar digital em 2021.
O nascimento do Bolívar Digital
Em outubro de 2021, Nicolás Maduro anunciou a criação do Bolívar Digital, com promessa de modernizar a economia, incentivar pagamentos eletrônicos e simplificar transações financeiras.
A moeda digital, no entanto, não deve ser confundida com criptomoedas como o Bitcoin ou mesmo com o Drex, em testes no Brasil. O Bolívar Digital não tem blockchain, mineração ou descentralização. Ele nada mais é do que uma versão eletrônica da moeda oficial, usada para reduzir a circulação de papel-moeda e facilitar operações bancárias.
O lançamento foi acompanhado de campanhas publicitárias do governo, que afirmava que a Venezuela entrava na era da “economia digital”. Mas a realidade do bolso mostrou outra história.
A inflação que nunca foi vencida
Apesar da mudança de nome e da retirada de zeros, a inflação continuou corroendo salários e contratos. Em 2022, a inflação anual da Venezuela ainda era de 234%, segundo o Banco Central da Venezuela. Em 2023, mesmo com desaceleração, ficou acima de 130%, uma das mais altas do mundo.
Isso significa que, embora o bolívar digital facilite as transações, ele não tem poder real de compra. A população, descrente da moeda nacional, passou a adotar o dólar americano como referência para preços, salários e poupança.
Em muitas regiões, o bolívar é aceito apenas para pequenos pagamentos, enquanto negócios maiores são cotados em dólares.
A dolarização informal
Um dos efeitos colaterais mais fortes da crise foi a dolarização informal da economia venezuelana. Embora o governo de Maduro nunca tenha declarado oficialmente o dólar como moeda nacional, a circulação da moeda americana se tornou regra em supermercados, lojas e até em transportes.
Hoje, mais de 60% das transações no país são feitas em dólar, segundo levantamentos independentes. O bolívar digital acabou relegado a uma função secundária, usado principalmente em transferências bancárias ou como moeda de troco.
O impacto na população
A hiperinflação não foi apenas uma crise monetária. Ela teve consequências profundas:
- Queda do poder de compra – salários mínimos chegaram a valer menos de US$ 5 por mês em alguns períodos.
- Êxodo em massa – mais de 7 milhões de venezuelanos deixaram o país desde 2014, formando uma das maiores diásporas atuais da América Latina.
- Mercados paralelos – a escassez de produtos básicos criou uma economia informal baseada em trocas e contrabando.
- Desigualdade social – quem tinha acesso a dólares sobreviveu; quem dependia apenas do bolívar viu a vida virar um desespero.
A nota simbólica: do papel ao digital
Se o Zimbábue ficou famoso pela nota de 100 trilhões de dólares, a Venezuela entrou para a história por outro motivo: a moeda que perdeu 14 zeros em apenas 13 anos.
É como se, de repente, R$ 100 trilhões virassem apenas R$ 1. Para muitos venezuelanos, o processo mostrou a total perda de confiança no dinheiro nacional — um trauma que dificilmente será esquecido.
A criação do Bolívar Digital foi mais uma tentativa desesperada de salvar a moeda venezuelana, mas não resolveu o problema central: a inflação descontrolada e a falta de confiança da população.
Hoje, a Venezuela vive um paradoxo. Tem uma moeda oficial digital e moderna, mas que quase ninguém acredita; e uma moeda estrangeira, o dólar, que não foi oficializada, mas é aceita em praticamente todos os lugares.
E você, leitor: se sua moeda perdesse 14 zeros em pouco mais de uma década, continuaria acreditando nela ou buscaria refúgio em outra moeda mais estável?
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