Com foco em infraestrutura, sustentabilidade e empregos, Fundo da Marinha Mercante libera maior investimento da sua história — e o Rio é protagonista
Pouca gente percebe, mas o setor naval brasileiro está se movimentando de forma inédita desde maio de 2025.
Enquanto o mundo se volta para a transição energética e a segurança logística, o Brasil aposta em algo que conhece bem — a força da sua costa e o talento dos seus estaleiros.
Mais especificamente, um plano de R$ 6,6 bilhões foi autorizado pelo Fundo da Marinha Mercante (FMM) e, com isso, terá como destino certo reerguer a indústria naval, além de reestruturar o setor portuário e, por fim, recolocar a Marinha Mercante no centro da estratégia nacional.
O ponto de partida? O estado do Rio de Janeiro, berço de estaleiros históricos, navios emblemáticos e milhares de profissionais que há anos esperam uma retomada concreta.
-
Indústria naval volta a crescer no RS com 1,5 mil empregos diretos e reativação do Estaleiro Rio Grande
-
BNDES aprova financiamento para embarcações sustentáveis da Hermasa com recursos do Fundo da Marinha Mercante
-
Modernização da APS no Porto de Santos: investimento de R$ 3 milhões reforça segurança e tecnologia
-
Royal Navy comissiona HMS Stirling Castle para reforçar operações de caça a minas no Reino Unido
Tudo começou com uma reunião decisiva em maio de 2025
No dia 9 de maio de 2025, o conselho do FMM, portanto, se reuniu em Brasília e, como resultado, aprovou o maior pacote de recursos desde a criação do fundo, em 1958.
Foram R$ 22 bilhões liberados, dos quais R$ 6,6 bilhões serão investidos diretamente no Rio de Janeiro.
Na prática, essa decisão marca um divisor de águas para o setor.
O plano inclui a construção de navios para a Petrobras, modernização de estaleiros em Niterói e implantação de novos terminais portuários voltados à mineração e exportação.
A promessa agora vem acompanhada de cronograma, projeções e execução coordenada por instituições como o BNDES, Caixa Econômica Federal, Ministério de Portos e Aeroportos e ANTAQ.
Petrobras, Green Port e Cedro Participações lideram os investimentos no setor
Entre os projetos confirmados, a Petrobras terá papel central.
Serão quatro navios Handy construídos para transporte de derivados de petróleo, com investimento de R$ 1,5 bilhão e expectativa de 640 empregos diretos.
As obras devem começar em janeiro de 2026.
Já a Green Port, que opera um estaleiro na Ilha da Conceição, em Niterói, receberá R$ 242,2 milhões para instalar um novo dique flutuante e modernizar suas instalações.
O objetivo é claro: reduzir o tempo de espera por manutenção e ampliar a capacidade técnica da unidade.
A construção começa em novembro de 2025.
O terceiro projeto é da Cedro Participações, que implantará o terminal portuário ITG 02, voltado à movimentação de minério de ferro.
Com um investimento de R$ 3,5 bilhões, a empresa instalará a estrutura até 2028 e gerará 2.847 empregos diretos durante a execução.
4oO foco será a eficiência logística e o compromisso ambiental.
Resgate histórico: o Rio de Janeiro e a tradição naval brasileira
O Rio de Janeiro já foi o coração da indústria naval brasileira.
Seus estaleiros construíram navios emblemáticos e geraram empregos em larga escala.
Nas últimas décadas, desinvestimentos, concorrência internacional e avanços tecnológicos enfraqueceram progressivamente o setor.
Especialistas do setor veem esse pacote do FMM como uma tentativa de reverter essa curva negativa — com base em projetos sólidos, dados reais e execução coordenada.
Segundo o Ministério de Portos e Aeroportos, todos os empreendimentos estão amparados por estudos técnicos e viabilidade financeira.
O Sinaval (Sindicato Nacional da Indústria Naval e Offshore) estima que o Brasil gerará até 10 mil empregos diretos e indiretos.
Mais do que isso, o setor poderá reativar cursos técnicos, cadeias de fornecedores e centros de pesquisa ligados à construção naval.
Sustentabilidade e inovação na infraestrutura portuária e naval
Não se trata apenas de construir navios ou ampliar portos.
De acordo com a ANTAQ, os projetos contam com tecnologias de eficiência energética, reaproveitamento de água e monitoramento de emissões.
O terminal da Cedro, por exemplo, terá esteiras automatizadas, telemetria e painéis de gestão digital em tempo real.
Além disso, haverá fiscalização periódica, relatórios ambientais auditados e cumprimento de normas técnicas da ANTAQ, como exigido por todos os projetos com recursos públicos.
O Brasil pode voltar a ser protagonista no setor naval?
Essa é a pergunta que paira no setor naval.
Para muitos, essa é a melhor chance desde o auge da indústria nos anos 2000.
Para outros, é um teste: é possível reindustrializar com responsabilidade, planejamento e transparência?
Por enquanto, o que se tem são planos concretos, obras agendadas e instituições mobilizadas.
A execução dirá o quanto o Brasil está pronto para navegar novamente com autonomia.
Mas se depender do que está em curso, o futuro da indústria naval, da Marinha Mercante e do setor portuário brasileiro pode, finalmente, voltar a ser promissor.