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Indústria militar da Turquia avança míssil balístico de oito toneladas que pode alcançar alvos estratégicos

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 29/07/2025 às 18:25
míssil balístico
Foto: Reprodução
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A Turquia apresentou ao mundo o Tayfun Block 4, uma nova versão de seu míssil balístico que surpreende pelo tamanho, peso e possível alcance. Com cerca de 10 metros de comprimento e quase oito toneladas, o armamento marca um novo momento para a indústria militar turca e levanta questionamentos sobre sua classificação e objetivos estratégicos.

O lançamento do novo míssil balístico Tayfun Block 4 marca um passo importante para a indústria de defesa da Turquia.

Desenvolvido pela empresa Roketsan, o armamento foi apresentado na Feira Internacional da Indústria de Defesa (IDEF) de 2025, em Istambul.

O modelo representa uma evolução da família Tayfun, cuja primeira versão foi revelada em 2022. A nova versão, maior e mais pesada, chama atenção por suas possíveis capacidades de longo alcance.

A arma possui cerca de 10 metros de comprimento, pouco mais de 1 metro de diâmetro e pesa quase oito toneladas.

Em comparação, as versões anteriores do Tayfun tinham 6,5 metros de comprimento, diâmetro de 60 centímetros e peso de 2,3 toneladas.

Segundo a Roketsan, o Bloco 4 estabelece um novo recorde para a indústria de defesa turca, podendo atingir alvos estratégicos como centros de comando, sistemas de defesa aérea e hangares militares.

Alcance e classificação ainda indefinidos

A Roketsan não divulgou oficialmente o alcance máximo do novo míssil. Mesmo assim, seu tamanho indica a possibilidade de que ele entre na categoria de mísseis balísticos de médio alcance (MRBM), que possuem alcance entre 1.000 e 3.000 quilômetros.

O Tayfun original tem alcance declarado acima de 280 quilômetros e, em testes, já atingiu alvos a 561 quilômetros.

O uso da expressão “hipersônico” em relação ao Tayfun Block 4 também levanta questionamentos.

Embora mísseis balísticos geralmente atinjam velocidades superiores a Mach 5 em seus estágios finais, ainda não há indícios de que o novo modelo tenha manobrabilidade hipersônica avançada, característica típica das armas hipersônicas modernas.

Todas as versões do Tayfun, incluindo o Bloco 4, utilizam orientação baseada em localização no espaço (GOLIS).

Esse sistema, carregado antes do lançamento, permite atingir alvos fixos com precisão de até 10 metros. A ogiva utilizada é do tipo unitária de fragmentação explosiva.

Comparação com outros programas turcos

Ainda não se sabe se o Tayfun Bloco 4 substituirá ou complementará o míssil Cenk, outro projeto da Roketsan voltado para a categoria de MRBM.

O Cenk foi divulgado após o presidente turco Recep Tayyip Erdogan anunciar o desejo de adquirir mísseis com alcance acima de 1.000 quilômetros.

O ministro da Indústria e Tecnologia também declarou recentemente que o país trabalha em mísseis com alcance de até 2.000 quilômetros, embora sem citar nomes.

A possibilidade de lançar mísseis mais longos da Somália também foi cogitada, devido ao espaço disponível para testes de longo alcance.

Essa movimentação sugere que a Turquia busca ampliar sua capacidade regional e enfrentar adversários com mais segurança estratégica.

Uma variante do Tayfun com alcance de MRBM poderia ser útil caso o Cenk não avance como esperado.

Mísseis projetados especificamente como MRBM oferecem mais espaço para melhorias, como contramedidas e ogivas mais complexas. Isso também facilitaria o desenvolvimento de versões ainda mais potentes no futuro.

Interesse geopolítico e mensagens para adversários

A motivação da Turquia em desenvolver mísseis balísticos mais avançados não é apenas tecnológica.

O presidente Erdogan já mencionou explicitamente a rivalidade com a Grécia ao se referir ao Tayfun. Em 2022, ele afirmou que o míssil poderia atingir Atenas, numa demonstração clara de intimidação.

Além disso, o uso de mísseis Bora contra alvos curdos no Iraque também mostra que a Turquia não hesita em utilizar esses armamentos em conflitos regionais.

Um míssil com maior alcance ampliaria a capacidade de atuação do país em áreas mais distantes.

Outro aspecto importante é o mercado internacional. A Roketsan já oferece o Khan, uma versão para exportação do Bora, e firmou contrato com a Indonésia em 2022.

No entanto, a Turquia é membro do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR), que restringe a exportação de armas com determinadas capacidades. Isso pode limitar as vendas internacionais do Bloco 4, dependendo de sua configuração final.

A tendência global dos mísseis balísticos

A evolução do Tayfun acontece em um momento de interesse renovado por mísseis balísticos em todo o mundo.

Os Estados Unidos, por exemplo, estudam o desenvolvimento de um novo míssil com alcance de MRBM. O Exército americano não possui essa capacidade desde a aposentadoria do Pershing II, em 1991.

Entre os planos está a criação de uma nova versão do Míssil de Ataque de Precisão (PrSM), já em desenvolvimento. Esse armamento pode evoluir para atingir distâncias de MRBM.

A Austrália, aliada próxima dos EUA, já realizou um teste com o PrSM em território nacional, durante o exercício militar Talisman Saber.

As velocidades finais atingidas por mísseis balísticos, muitas vezes hipersônicas, tornam esses armamentos úteis contra alvos de alto valor e difícil proteção.

Essa característica também desafia os sistemas de defesa aérea, já que as armas chegam rapidamente ao destino e com alta energia.

Conflitos recentes e uso ativo

A guerra entre Rússia e Ucrânia tem sido um exemplo claro da utilidade de mísseis balísticos.

Em 2023, a Rússia usou um novo modelo chamado Oreshnik, com múltiplas ogivas. Já a Ucrânia estaria prestes a lançar um novo míssil próprio, desenvolvido internamente.

Outro exemplo ocorreu durante o conflito entre Irã e Israel.

O uso de mísseis balísticos por parte do Irã mostrou que, mesmo países com defesas avançadas, como Israel, ainda enfrentam grandes dificuldades para se proteger contra esse tipo de armamento.

O Irã também lançou mísseis contra a Síria, o Iraque e o Paquistão.

O uso de mísseis balísticos lançados do ar ou do mar também tem crescido.

A China lidera vários desses projetos, enquanto Israel usou mísseis desse tipo contra o Irã durante o conflito de junho. A Rússia fez o mesmo contra a Ucrânia, diversificando ainda mais suas opções.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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