Em meio a um cenário que mistura avanço tecnológico e desafios econômicos, a indústria brasileira enfrenta um problema que pode paralisar a produção em diversos setores: a escassez de mão de obra qualificada.
Mas o que está por trás dessa crise que parece só aumentar? E quais são as áreas mais afetadas por essa falta de talentos?
Segundo o Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025, um estudo detalhado realizado pelo Observatório Nacional da Indústria, o Brasil precisa urgentemente qualificar 9,6 milhões de trabalhadores até o próximo ano para suprir as demandas do mercado.
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O número impressionante revela uma necessidade que vai muito além do que se imaginava, com a criação de 497 mil novas vagas nos próximos quatro anos.
Esse crescimento deveria elevar o número total de empregos formais na indústria para 12,8 milhões. No entanto, a escassez de profissionais com formação técnica ameaça esses planos ambiciosos.
De acordo com Gustavo Leal, diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em entrevista ao jornal O Globo, o principal perfil procurado pelas indústrias inclui profissionais que possam se adaptar rapidamente às mudanças tecnológicas, que possuam pensamento crítico e que demonstrem criatividade.
A Indústria 4.0, que se torna cada vez mais presente no país, demanda currículos especializados em mecatrônica, análise de dados e inteligência artificial, segundo Leal.
Além disso, o conhecimento em economia verde está em alta, conforme as indústrias buscam caminhos para a sustentabilidade, tornando essas áreas ainda mais valiosas.
Entretanto, a raiz do problema não se restringe às fábricas. Leal aponta que a dificuldade de captar profissionais capacitados começa muito antes de os jovens atingirem o mercado de trabalho.
A pouca proporção de estudantes que optam por formação técnica no ensino médio, somada aos altos índices de abandono escolar, resulta em um contingente insuficiente para preencher as vagas disponíveis.
Uma pesquisa realizada pelo Senai em maio de 2024 revelou que 52% dos adolescentes de 14 a 17 anos conhecem pouco ou nada sobre as oportunidades de formação profissional na indústria.
As grandes indústrias, cientes desse desafio, estão investindo em programas para atrair jovens para o setor. A Saint-Gobain, gigante do setor de construção com 58 fábricas no Brasil, pretende contratar 3,4 mil pessoas em 2024, um aumento de 23% em relação ao ano anterior.
Até o momento, 1,7 mil admissões já foram realizadas no primeiro semestre. A empresa ainda possui 250 posições abertas em diversas áreas e tem implementado políticas robustas para reter seus talentos, especialmente na área de Tecnologia da Informação (TI), que, conforme Gustavo Siqueira, vice-presidente de RH para a América Latina, apresenta desafios contínuos devido à alta oferta de vagas no mercado.
Iniciativas de capacitação na educação
Em São Paulo, a Hyundai Motor Brasil inovou ao iniciar um projeto educacional na rede pública de Piracicaba, onde sua fábrica está localizada, visando a capacitação de estudantes de 14 a 18 anos para desenvolverem protótipos de soluções de energia com hidrogênio.
No Ceará, a M. Dias Branco, fabricante de alimentos de marcas conhecidas como Piraquê, adotou a estratégia de organizar visitas para estudantes à sua unidade em Eusébio.
O esforço das empresas é louvável, mas será suficiente para resolver o problema de escassez de mão de obra na indústria? E mais, será que essas iniciativas de curto prazo podem compensar décadas de negligência na formação técnica dos jovens brasileiros?