Fabricar no Brasil deixou de valer a pena? PMI despenca e empresas encerram produção para importar da China — custo Brasil expulsa indústria
O setor industrial brasileiro voltou a acender sinais de alerta após a divulgação do Índice de Gerentes de Compras (PMI) do setor manufatureiro, que caiu para 48,3 pontos em junho de 2025, de acordo com levantamento da S&P Global e publicado pelo site Trading Economics. Abaixo da linha dos 50 pontos — que separa crescimento de contração — o indicador confirma um movimento de retração que se arrasta desde o início do ano e sinaliza enfraquecimento contínuo da atividade fabril.
A leitura do PMI, que considera produção, novos pedidos, emprego, prazos de entrega e estoques, aponta que as indústrias brasileiras estão produzindo menos, contratando menos e com menor confiança no futuro. Os dados vieram acompanhados de um aumento no número de empresas que relataram redução nos volumes de pedidos internos e no nível de exportações industriais, refletindo o enfraquecimento da demanda doméstica e global.
Indústria recua e empresas passam a importar: o avanço do modelo chinês no Brasil
Paralelamente à queda da produção local, o Brasil assiste a uma mudança estrutural silenciosa, mas profunda: um número crescente de empresas está abandonando suas fábricas locais e substituindo a produção por importações, em especial da China.
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Esse fenômeno tem sido registrado em diversos segmentos. No setor de bens de consumo, multinacionais como P&G, Unilever e Nestlé têm fechado unidades fabris ou enxugado operações no país. Em muitos casos, os produtos antes fabricados aqui passam a ser importados da Ásia, onde os custos de mão de obra, logística integrada e incentivos estatais tornam a produção significativamente mais barata.
Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), os custos industriais no Brasil continuam entre os mais altos do mundo quando considerados impostos, energia, infraestrutura, burocracia e encargos trabalhistas. Isso vem incentivando as empresas a buscar alternativas externas, mesmo ao custo de desemprego e perda de conteúdo local.
Em recente análise do economista José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), publicada pelo Valor Econômico, o cenário é preocupante:
“O que estamos vendo não é apenas queda pontual. É uma mudança de modelo de negócios, em que produzir localmente deixa de ser viável. Estamos importando até produtos básicos que antes eram 100% nacionais.”
Impactos no emprego e na balança comercial
O reflexo imediato da retração industrial e da substituição por importações é sentido no mercado de trabalho formal. De acordo com o Caged, entre abril e junho de 2025, a indústria de transformação brasileira fechou mais de 28 mil postos de trabalho, especialmente em segmentos como metalurgia, têxtil e bens duráveis.
A balança comercial, embora ainda superavitária, começa a sentir o impacto da mudança de perfil das importações. Enquanto exportações de commodities como soja, minério e petróleo seguem elevadas, há um aumento expressivo nas importações de produtos industrializados de valor agregado, como eletrônicos, maquinário e até alimentos processados.
Essa inversão fragiliza a autonomia industrial do país e compromete cadeias produtivas que antes geravam empregos e impostos localmente.
Falta de política industrial agrava o cenário
Analistas apontam que a falta de uma política industrial consistente tem agravado a desindustrialização. Sem incentivos à inovação, à produtividade e à nacionalização de cadeias estratégicas, o Brasil perde espaço para países com políticas industriais agressivas, como a própria China, Índia e até os Estados Unidos, que recentemente lançaram pacotes bilionários para reindustrialização.
O professor de economia da UFRJ, Pedro Rossi, declarou à BBC Brasil:
“Enquanto o mundo vive um novo ciclo de industrialização verde e digital, o Brasil continua apostando na exportação de commodities e negligenciando sua base produtiva.”
O país também vem falhando em aproveitar os grandes investimentos globais em tecnologias limpas, semicondutores e baterias. Diversas fábricas desse tipo estão sendo construídas no México, Vietnã e Europa — e não no Brasil.
O que esperar para o segundo semestre de 2025?
Com o PMI abaixo de 50, demissões em curso e dependência crescente de produtos chineses, o segundo semestre de 2025 será decisivo para medir a capacidade de reação da economia industrial brasileira.
A esperança de retomada passa por três fatores principais:
- A redução de juros internos, que pode reaquecer o consumo e os investimentos;
- A retomada de projetos de infraestrutura e transição energética com conteúdo local;
- E o lançamento de uma nova política industrial estruturante, que valorize a produção nacional e modernize o parque fabril.
Sem essas ações, especialistas alertam que o país corre o risco de entrar em uma espiral de dependência externa e perda de soberania econômica, aprofundando a tendência de desindustrialização precoce que já compromete o crescimento sustentável de médio e longo prazo.