Pesquisadores encontram um capítulo da Bíblia oculto centenas de anos. A descoberta promete fornecer novas informações sobre as primeiras traduções do texto religioso
Uma descoberta chamou a atenção de estudiosos e religiosos: um capítulo perdido da Bíblia, escrito há mais de 1.500 anos, foi encontrado. Esse achado, segundo especialistas, pode oferecer percepções valiosas sobre como o texto religioso mudou ao longo do tempo.
A descoberta impressionante foi liderada pelo medievalista Grigory Kessel, da Academia Austríaca de Ciências, utilizando fotografia ultravioleta, que revelou os mistérios ocultos de um raro palimpsesto (pergaminho ou papiro cujo texto foi eliminado para permitir a reutilização) duplo.
Como a descoberta do capítulo da bíblia foi feita?
O novo texto, que compreende partes dos capítulos 11 e 12 do Evangelho de Mateus, foi encontrado na Biblioteca do Vaticano.
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A descoberta foi possível graças ao uso de luz ultravioleta, que revelou traços de uma antiga tradução em siríaco, uma das primeiras línguas a receber uma tradução da Bíblia.
A equipe de cientistas utilizou essa técnica em um manuscrito antigo, o qual havia sido raspado para reutilização. Essa prática era comum na época devido à escassez de pergaminho, um material caro e feito de pele de animal.
No entanto, mesmo com o texto raspado, os vestígios da escrita original permaneceram no material, possibilitando sua recuperação com tecnologias modernas.
Por que a descoberta é importante?
Embora não seja a primeira vez que textos antigos da Bíblia são encontrados, esta descoberta tem um significado especial.
A tradução em siríaco encontrada oferece mais detalhes do que as versões contemporâneas do Evangelho de Mateus. Isso é especialmente relevante para estudiosos de crítica textual, que buscam entender as variações e evoluções do texto ao longo dos séculos.
A descoberta lança luz sobre as traduções da Bíblia feitas no início do cristianismo e como as comunidades daquela época interpretavam os escritos sagrados.
O siríaco, uma língua derivada do aramaico, era amplamente utilizado pelas primeiras comunidades cristãs na Síria e em outras partes do Oriente Médio.
Assim, essa tradução é um dos mais antigos exemplos de como os textos bíblicos eram lidos e compreendidos fora do mundo greco-romano.
Variações no texto: o que foi encontrado?
Uma das variações mais interessantes reveladas pela descoberta está no capítulo 12 do Evangelho de Mateus. Na versão grega contemporânea, o versículo 1 diz (Mateus 12:1): “Naquele tempo, passou Jesus pelas searas, em um sábado; e os seus discípulos, tendo fome, começaram a colher espigas e a comer.“.
Já a tradução siríaca descoberta traz um detalhe adicional: “[…] começaram a colher as espigas, esfregá-las em suas mãos e comê-las“. Pequenas diferenças como essa podem parecer triviais, mas para os estudiosos, elas oferecem uma visão mais profunda de como as narrativas foram transmitidas e adaptadas ao longo dos anos.
Além disso, a tradução em siríaco foi feita a partir de manuscritos gregos que já não existem mais. Isso significa que este achado pode ser uma das primeiras evidências de leituras alternativas do Novo Testamento, anteriores até mesmo aos famosos manuscritos gregos, como o Codex Sinaiticus, que data do século IV.
O que os especialistas dizem sobre o achado?
Dr. Garrick Allen, professor da Universidade de Glasgow, acredita que essa descoberta pode fornecer uma melhor compreensão das traduções bíblicas iniciais.
Segundo ele, “a tradução siríaca é importante por si só, pois é uma das primeiras versões a partir do grego. Isso nos dá um vislumbre das fases iniciais do texto bíblico e das comunidades que produziram essas traduções“.
Outro especialista, o professor Hugh Houghton, da Universidade de Birmingham, destacou a importância do achado para a reconstrução do texto bíblico original. “O valor das primeiras traduções está no fato de terem sido feitas a partir de manuscritos gregos que já não existem mais. Elas podem fornecer as primeiras evidências para determinadas leituras“, afirmou ele.
O processo de reutilização de manuscritos: Como funciona?
Durante os primeiros séculos do cristianismo, o pergaminho era um recurso limitado. Era comum que textos antigos fossem raspados para reutilização. Isso criou os chamados “palimpsestos“, manuscritos com várias camadas de escrita.
A técnica de luz ultravioleta é uma ferramenta essencial para os pesquisadores, já que permite visualizar os textos ocultos. No caso desta recente descoberta, a equipe conseguiu identificar três camadas de escrita no mesmo pergaminho: siríaco, grego e georgiano.
O siríaco, em particular, é de grande importância histórica. O “Peshitta“, como é chamada a tradução siríaca da Bíblia, tornou-se a versão oficial da Igreja Siríaca no século V. Esse texto recém-descoberto remonta ao século VI, quando os primeiros cristãos do Oriente Médio estavam moldando suas tradições religiosas.
O que esse achado pode revelar sobre o cristianismo primitivo?
A descoberta de variantes textuais como essa sublinha a diversidade do cristianismo nos primeiros séculos. Dr. Nic Baker-Brian, da Universidade de Cardiff, ressaltou que “o fato de existirem leituras variantes no manuscrito destaca a natureza diversa do cristianismo primitivo. Reflete a crescente compreensão de que o cristianismo não era monolítico, mas sim uma religião em evolução, com várias versões de histórias sobre Jesus circulando nas primeiras comunidades“.
Essa diversidade de traduções e interpretações ressalta que, desde seus primeiros dias, o cristianismo era uma religião multifacetada, com diferentes grupos enfatizando aspectos distintos da vida e dos ensinamentos de Jesus.
Um capítulo a mais na história da bíblia
A descoberta desse “capítulo perdido” da Bíblia é mais uma peça no vasto quebra-cabeça que é a história do cristianismo e de seus textos sagrados.
Embora o achado não mude drasticamente o entendimento do Evangelho de Mateus, ele fornece novas pistas sobre como o texto foi transmitido e modificado ao longo dos séculos.
Para os estudiosos, cada fragmento é importante na tentativa de reconstruir a forma original dos textos bíblicos. Já para os cristãos, essa descoberta é um lembrete da riqueza e complexidade de sua história religiosa.
O fato de textos antigos ainda estarem sendo revelados séculos após terem sido escritos mostra que o passado ainda tem muito a nos ensinar sobre nossas tradições e crenças.
O artigo original sobre o capítulo da bíblia foi publicado ano passado no periódico Daily Mail.