1. Início
  2. / Curiosidades
  3. / Inaugurada com festa em 1885: Ponte centenária da Bahia foi montada peça por peça e ainda resiste ao tempo com ferro inglês do século XIX
Localização BA Tempo de leitura 5 min de leitura Comentários 0 comentários

Inaugurada com festa em 1885: Ponte centenária da Bahia foi montada peça por peça e ainda resiste ao tempo com ferro inglês do século XIX

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 24/06/2025 às 23:14
  • Reação
  • Reação
  • Reação
5 pessoas reagiram a isso.
Reagir ao artigo

Com mais de 140 anos, Ponte centenária histórica ainda conecta Cachoeira e São Félix, unindo tradição, engenharia imperial e cultura do Recôncavo Baiano.

No coração do Recôncavo Baiano, uma ponte centenária ainda cumpre o papel de conectar duas cidades vizinhas separadas pelo rio Paraguaçu. A Ponte Imperial D. Pedro II, inaugurada em 1885, é mais do que um elo físico: ela é símbolo de modernização, resistência e identidade cultural para a população de Cachoeira e São Félix.

Mesmo com seus mais de 140 anos, a estrutura segue firme, mantendo o charme da engenharia do século XIX e continuando a transportar pedestres, veículos e trens.

O surgimento de uma necessidade histórica

Desde o século XVIII, moradores da região de Cachoeira buscavam uma forma segura de cruzar o rio Paraguaçu.

Pai e filho sorrindo ao fundo de arte promocional da Shopee para o Dia dos Pais, com produtos e caixas flutuantes em cenário laranja vibrante.
Celebre o Dia dos Pais com ofertas incríveis na Shopee!
Ícone de link VEJA AS OFERTAS!

Na época, a travessia era feita por balsas, que não ofereciam segurança nem capacidade para grandes cargas.

O avanço do ciclo do fumo, do açúcar e das riquezas da Chapada Diamantina aumentou ainda mais a demanda por uma ligação permanente entre as margens.

O impulso decisivo viria no século XIX, durante o Império. Em 1865, Dom Pedro II autorizou a criação de uma ferrovia para conectar o interior da Bahia ao litoral.

Com isso, surgia também a necessidade de construir uma ponte sobre o Paraguaçu, ligando os trilhos que chegavam até São Félix à cidade de Cachoeira.

Projeto inglês e montagem baiana

A construção da ponte foi assumida por uma empresa britânica chamada Brazilian Imperial Central Bahia Railway Company Limited, que trouxe as estruturas metálicas prontas da Inglaterra.

As peças chegaram desmontadas e foram montadas no local, com direção do engenheiro francês Frédéric Merci.

A fiscalização da obra ficou a cargo do engenheiro baiano Afonso Glicério da Cunha Maciel.

A obra durou de 1882 até 1885. O engenheiro Hugh Wilson, conhecido por seus projetos ferroviários no Brasil, também teve papel fundamental, atuando na concessão da ferrovia e da ponte.

No dia 7 de julho de 1885, a estrutura foi oficialmente inaugurada com grande festa.

Fogos, música e uma multidão marcaram a celebração. O presidente da Província da Bahia, José Luiz de Almeida Couto, representou o imperador no evento.

Um elo entre cidades, culturas e tempos

A Ponte Dom Pedro II conecta as cidades de Cachoeira e São Félix. Ambas estão situadas às margens do Rio Paraguaçu e têm grande importância histórica. ,

Ao longo das décadas, a ponte passou a integrar não apenas a paisagem urbana, mas também a vida cultural da região.

Atualmente, a ponte é usada para tráfego de veículos, pedestres e trens. Por ter pista única, o trânsito é alternado.

O mesmo espaço serve para a passagem de carros e locomotivas, o que exige cuidado e coordenação. Apesar disso, ela continua sendo a única via direta entre as duas cidades.

O valor histórico é imenso. Em 2002, a ponte foi tombada como patrimônio estadual.

Estrutura metálica e engenharia do século XIX

Com 365 metros de extensão, a ponte foi considerada uma das maiores obras de engenharia do Brasil em sua época.

Sua largura é de cerca de 9 metros, permitindo a passagem de trilhos e veículos lado a lado.

A estrutura tem quatro vãos de aproximadamente 91 metros cada, apoiados por três pilares centrais e encontros de pedra nas extremidades.

O estilo é típico da engenharia ferroviária do século XIX. As treliças metálicas em forma de “X”, chamadas de lattice, compõem uma estrutura do tipo through truss, por onde o trem passa “dentro” das vigas.

Os materiais principais usados foram o ferro forjado, importado da Inglaterra, e alvenaria de pedra para os pilares.

A montagem exigiu precisão, já que todas as peças chegaram desmontadas.

A engenharia da época empregou técnicas inovadoras para o Brasil, o que fez da ponte uma referência nacional em termos de tecnologia aplicada à infraestrutura.

Reformas e incidentes recentes na Ponte centenária

Apesar de antiga, a ponte permanece funcional graças a obras de restauração feitas ao longo do tempo. Entre 2010 e 2012, a concessionária VLI (sucessora da Ferrovia Centro-Atlântica) realizou uma série de reparos. Foi trocada a passarela de madeira por uma de metal, feita pintura anticorrosiva e implantada iluminação básica.

Em janeiro de 2025, um descarrilamento chamou a atenção para os riscos. Um trem de carga sofreu dilatação nos trilhos e saiu dos trilhos sobre a ponte.

A estrutura foi interditada temporariamente, mas não sofreu danos graves. A Defesa Civil acompanhou os reparos e a ponte foi liberada dias depois, com restrições de velocidade e carga.

Hoje, a ponte passa por vistorias regulares. Engenheiros avaliam a estabilidade dos pilares, o estado das peças metálicas e os trilhos. Com os devidos cuidados, a estrutura segue sendo utilizada sem grandes problemas.

Ponte centenária: Um marco que resistiu à República

Mesmo após a Proclamação da República, o nome da ponte foi mantido.

A homenagem a Dom Pedro II não foi retirada, ao contrário do que aconteceu com outros monumentos. Isso mostra o carinho e respeito da população local pela história imperial e pela figura do monarca.

Popularmente, ela também é chamada de “Ponte de Ferro” ou “Ponte Metálica”.

Esses apelidos reforçam o destaque para sua estrutura, diferente das pontes de madeira ou concreto que predominam em outras regiões. O nome original, no entanto, continua sendo o oficial e o mais usado.

Impactos econômicos e transformação

Nos primeiros anos após a construção, a ponte impulsionou a economia local. Produtos agrícolas e minerais chegavam de trem até Cachoeira, cruzavam a ponte e seguiam de barco até Salvador. Isso fez da região um ponto estratégico para o comércio.

Com o tempo, novas rotas ferroviárias e rodoviárias desviaram o tráfego, tirando Cachoeira e São Félix da rota principal. Isso afetou a economia, mas ajudou a preservar o patrimônio.

A ausência de grandes reformas urbanas manteve o cenário colonial das cidades, que hoje vivem do turismo histórico e cultural.

Para os moradores de Cachoeira e São Félix, a ponte não é apenas uma passagem. Ela representa a história da região, o passado de glória, o talento da engenharia e a persistência diante do tempo. A estrutura aparece em cartões-postais, é tema de exposições e está presente em eventos comemorativos.

Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x