Entrada do combustível russo pressiona mercado nacional e impacta estatal
A comercialização interna de diesel pela Petrobras caiu 1,8% entre abril e junho de 2025. O volume recuou de 734 mil para 721 mil barris diários.
Segundo a estatal, esse recuo foi provocado, principalmente, pelo aumento das importações de combustíveis por distribuidores privados. A maior parte desse diesel veio da Rússia.
Isso alterou drasticamente a concorrência no mercado nacional. Enquanto isso, as importações totais de diesel subiram 229,7% no segundo trimestre de 2025.
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O crescimento foi comparado ao mesmo período de 2024. Os dados constam no relatório de produção e vendas da Petrobras, divulgado em julho.
Em números absolutos, o volume importado passou de 37 mil para 122 mil barris por dia. A tendência preocupa o setor de energia nacional.
O diesel importado entra com preços mais baixos e afeta diretamente o desempenho da estatal brasileira. Desde abril de 2023, a Rússia lidera esse mercado.
Ela assumiu o posto de maior fornecedora de diesel ao Brasil. Os Estados Unidos foram ultrapassados pela primeira vez em muitos anos.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), os russos responderam por mais de 60% das importações brasileiras de diesel em 2025.
Esse movimento ocorreu durante boa parte do atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, iniciado em janeiro de 2023.
Especialistas associam avanço russo a mudanças geopolíticas e comerciais
Para analistas do setor, o crescimento do combustível russo se explica pelas sanções impostas após o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Por perder acesso a mercados importantes, a Rússia começou a vender diesel a preços muito mais baixos. Isso atraiu países como o Brasil.
Com isso, o mercado brasileiro passou a absorver volumes crescentes do produto russo. A tendência cresceu ao longo de 2023 e 2024.
Segundo Adriano Pires, sócio-fundador do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), parte desse diesel chega ao Brasil via países intermediários, como a Índia.
Esses países refinam petróleo russo antes de exportar. Ele afirma que, desde a guerra, o Brasil passou a importar diretamente mais de 60% do diesel da Rússia.
“O Brasil, com essa janela, passa a comprar diesel russo. Com isso, a importação direta representa mais da metade do nosso consumo”, afirmou Pires.
Ana Mandelli, diretora de downstream do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), lembra que esse processo já acontecia antes do atual governo.
Ela reforça que o auge da importação do diesel russo ocorreu no início de 2023. Foi um movimento que já estava em curso desde 2022.
Segundo ela, a oferta russa se tornou mais atraente, o que naturalmente deslocou outros fornecedores e aumentou a competitividade do produto no Brasil.
Guerra tarifária com EUA amplia espaço para o diesel da Rússia
Em resposta à crescente presença da Rússia no mercado brasileiro, os Estados Unidos, portanto, anunciaram uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, em julho de 2025.
O anúncio, por conseguinte, foi feito por Donald Trump, atualmente à frente do Partido Republicano, o que reforça o tom político da medida adotada.
Dessa forma, a medida impacta diretamente as relações comerciais entre os dois países, tornando o ambiente mais hostil e incerto para os setores afetados.
Como contrapartida, o presidente Lula, por meio de decreto, autorizou medidas de retaliação, conforme comunicado oficial do governo federal divulgado imediatamente após o anúncio.
Trump, contudo, advertiu que, caso o Brasil reaja com novas tarifas, os EUA aplicarão um acréscimo proporcional aos 50% já anunciados.
A nova tarifa, aliás, entra em vigor dentro de dois dias. Segundo especialistas, a guerra comercial entre os dois países tende a se intensificar rapidamente.
Se isso acontecer, como esperado, a fatia dos Estados Unidos no mercado de diesel brasileiro deve encolher ainda mais, o que favorece diretamente o avanço russo.
Com isso, portanto, o combustível da Rússia tende a ganhar ainda mais espaço no Brasil, pressionando o setor nacional de energia por alternativas.
Caso essa tendência se confirme, a Petrobras, inevitavelmente, terá de rever suas estratégias de comercialização para evitar maiores perdas no mercado nacional.
A estatal, além disso, já enfrenta forte concorrência no setor, agravada por fatores externos. O cenário mostra, assim, como decisões geopolíticas influenciam o abastecimento energético.