A idade média dos caminhoneiros no Brasil já passa dos 45 anos. Com queda no número de motoristas jovens, especialistas alertam para risco de apagão na logística nacional.
O Brasil depende dos caminhões como poucos países no mundo. Mais de 60% de toda a carga nacional circula sobre rodas, das colheitas de soja e milho no Centro-Oeste ao combustível que abastece as capitais. Mas um dado preocupa especialistas e empresários: a idade média dos caminhoneiros brasileiros já ultrapassa os 45 anos, e a categoria enfrenta uma falta crescente de renovação.
Estudos divulgados por entidades como a CNT (Confederação Nacional do Transporte) e o SEST/SENAT mostram que os motoristas que hoje mantêm a economia em movimento estão envelhecendo rapidamente, enquanto os jovens demonstram pouco interesse em entrar na profissão.
A queda no número de motoristas de caminhão
Um levantamento citado pelo SETCESP revelou que o Brasil perdeu 1,2 milhão de motoristas de caminhão na última década, resultado da combinação de aposentadorias, migração para outras áreas e queda no interesse das novas gerações.
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Hoje, menos de 20% da categoria tem menos de 30 anos, enquanto quase metade dos motoristas ativos já passa dos 45 anos.
O dado contrasta com as necessidades da economia, que continua aumentando a demanda por transporte rodoviário, especialmente no agronegócio e na exportação de commodities.
Por que os jovens não querem a boleia
A falta de renovação não é por acaso. Entre os fatores que afastam novos motoristas estão:
- Baixa atratividade financeira: apesar de a profissão oferecer remuneração que pode chegar a R$ 7.000 em rotas longas, o custo de entrada é alto, incluindo a CNH categoria E e cursos obrigatórios.
- Condições precárias de trabalho: longas jornadas, insegurança nas estradas, falta de pontos de descanso e risco constante de acidentes.
- Impacto familiar: a vida na estrada exige longos períodos longe de casa, algo cada vez menos aceito pelas novas gerações.
Segundo José Hélio Fernandes, presidente da NTC&Logística, “ser caminhoneiro já não tem o mesmo apelo de antigamente. É uma profissão dura, que exige sacrifícios pessoais, e isso afasta os jovens”.
Consequências para a logística nacional
A escassez de caminhoneiros não é apenas um problema de mercado de trabalho — é uma ameaça à competitividade do Brasil. Se não houver renovação, o país pode enfrentar:
- Aumento dos custos logísticos, já que menos motoristas significam fretes mais caros.
- Risco de gargalos no escoamento agrícola, especialmente em safras recordes de grãos.
- Dependência maior de alternativas ainda incipientes, como ferrovias e hidrovias, que não conseguem absorver toda a demanda.
O agronegócio, que depende do transporte rodoviário para levar grãos até portos como Santos e Paranaguá, já manifesta preocupação com a falta de motoristas qualificados em períodos de safra.
O esforço para atrair uma nova geração
Para tentar reverter o quadro, entidades do setor têm investido em programas de formação e incentivo:
- O SEST/SENAT oferece cursos de capacitação gratuitos para novos motoristas.
- Algumas empresas criaram programas de motorista júnior, em que jovens são treinados sob supervisão antes de assumir rotas longas.
- Propostas de subsídio à CNH profissional já foram discutidas no Congresso, como forma de reduzir o custo inicial para quem deseja ingressar na profissão.
Apesar disso, a adesão segue baixa. Muitos jovens preferem profissões ligadas à tecnologia ou serviços urbanos, onde a rotina é mais previsível e menos desgastante.
Um futuro em rota incerta
Se nada mudar, o Brasil corre o risco de enfrentar um apagão de caminhoneiros na próxima década. A falta de mão de obra qualificada pode travar a logística nacional em um momento em que a demanda por transporte cresce junto com o agronegócio e as exportações.
A renovação da frota de motoristas é tão urgente quanto a modernização da frota de caminhões. O país precisa tornar a profissão mais atraente, segura e valorizada — ou arrisca ver a engrenagem que movimenta sua economia perder força com o tempo.