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EUA, China e Rússia travam corrida histórica para instalar o primeiro reator nuclear na Lua

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 06/08/2025 às 14:16
Foto: Reprodução
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A disputa por poder no espaço ganhou um novo capítulo. Estados Unidos, China e Rússia se preparam para instalar o primeiro reator nuclear na Lua, em uma corrida que pode definir quem controlará áreas estratégicas no satélite nas próximas décadas.

Nos anos da Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética travaram uma disputa intensa para ver quem chegaria primeiro à Lua. Os americanos venceram em 1969, mas agora uma nova e ainda mais ambiciosa corrida espacial está em andamento.

Desta vez, o objetivo não é apenas pisar no satélite, mas instalar o primeiro reator nuclear em sua superfície.

Planos dos Estados Unidos

Nesta semana, veio à tona que Sean Duffy, novo chefe da NASA, pretende colocar um reator nuclear americano na Lua antes de 2030.

Segundo uma diretiva obtida pelo site Politico, essa instalação permitiria aos EUA declarar uma “zona de exclusão” no local escolhido.

A medida serviria para proteger a área de pouso da futura base lunar americana, prevista dentro do Programa Artemis.

O projeto prevê um reator capaz de gerar pelo menos 100 quilowatts, energia suficiente para abastecer 80 casas médias nos EUA.

Esse fornecimento seria a base para manter uma presença permanente no satélite. Inicialmente, a NASA planejava um reator de 40 quilowatts no mesmo período, mas não está claro se aproveitará o projeto anterior.

O Sr. Duffy determinou que, em 30 dias, a NASA nomeie um responsável pelo projeto e, em 60 dias, abra licitação para empresas interessadas. A pressa se justifica: quem chegar primeiro poderá impor regras próprias de operação.

Concorrência internacional

Os EUA não são os únicos de olho na energia nuclear lunar. Em maio, China e Rússia assinaram um acordo para construir seu próprio reator, mirando 2036 como prazo final.

A estrutura vai alimentar a Estação Lunar Internacional de Pesquisa (ILRS), planejada para operar a cerca de 100 km do Polo Sul da Lua. O projeto contará com 17 países parceiros, incluindo Egito, Paquistão, Venezuela, Tailândia e África do Sul.

Segundo a Roscosmos, agência espacial russa, a estação realizará pesquisas fundamentais e testará tecnologias para operações de longo prazo, com perspectiva de presença humana.

O primeiro passo será dado pela missão chinesa Chang’e-8, que marcará a primeira tentativa de pouso humano da China no satélite.

Por que energia nuclear

O mais importante é entender que a Lua enfrenta períodos de duas semanas de escuridão e frio intenso todos os meses.

No Polo Sul, local de interesse da NASA, o Sol quase não se eleva no horizonte e há crateras em sombra permanente. Isso inviabiliza o uso exclusivo de energia solar e baterias para manter bases e veículos funcionando.

A energia nuclear, portanto, se torna essencial para sustentar operações contínuas.

Ela garantiria autonomia mesmo nas fases mais extremas, permitindo experimentos, manutenção de equipamentos e sobrevivência humana sem depender do ciclo solar.

Estratégia americana e riscos

O Sr. Duffy foi claro ao alertar que o primeiro país a instalar um reator nuclear poderá declarar uma zona de exclusão. Isso impediria outros de se aproximar, algo visto como ameaça ao Programa Artemis caso China ou Rússia cheguem primeiro.

Essas “zonas de segurança” foram incluídas nos Acordos de Artemis, assinados pelos EUA em 2020. Embora o Tratado do Espaço Exterior, de 1967, proíba reivindicações territoriais no espaço, os acordos estabelecem que uma área usada por um país pode ser isolada para proteger operações.

Oficialmente, essa exclusividade termina quando a atividade é encerrada. Na prática, porém, para uma base permanente, isso funcionaria como fronteira.

Segundo a Dra. Jill Stuart, especialista em direito espacial da London School of Economics, essa regra cria vantagem para quem chega primeiro. A instalação inicial garante controle sobre a área, mesmo sem posse formal, limitando o acesso de outros.

Valor estratégico da Lua

Para especialistas como o Dr. Mark Hilborne, do King’s College London, a Lua terá pontos mais valiosos que outros. Regiões próximas ao Polo Sul, por exemplo, concentram recursos e condições ideais para bases. Além disso, o satélite é visto como plataforma de montagem para futuras missões espaciais. Se estruturas e combustíveis puderem ser produzidos ali, o custo cairá drasticamente em comparação ao envio a partir da Terra.

Essa importância estratégica alimenta a disputa atual.

Quem estabelecer infraestrutura primeiro não apenas garante vantagens científicas e econômicas, mas também poderá ditar as regras de uso.

Mudança de prioridades nos EUA

O movimento americano também se destaca pelo contexto interno. Apesar de cortes em missões científicas e do menor orçamento da NASA desde 1961, mais de US$ 7 bilhões foram reservados para a exploração lunar.

O Programa Artemis, que chegou a ser ameaçado de cancelamento durante o governo Donald Trump, agora tem meta de levar humanos de volta à Lua até 2027.

O novo foco deixa claro que Washington enxerga a exploração humana como prioridade, mesmo diante de restrições orçamentárias.

A pressão para agir rapidamente reforça a percepção de que há urgência em garantir presença no satélite antes que rivais avancem.

Regras e tensões diplomáticas

A disputa é complexa porque nem China nem Rússia assinaram os Acordos de Artemis. Isso significa que, legalmente, não precisam respeitar zonas de exclusão definidas pelos EUA.

O Dr. Fabio Tronchetti, especialista em direito espacial da Universidade de Northumbria, afirma que o direito internacional não reconhece essas reivindicações, e vê a iniciativa americana como tentativa de impor regras favoráveis aos próprios interesses.

Essa lacuna jurídica aumenta o risco de confrontos, já que cada nação pode interpretar as normas à sua maneira. A ausência de um consenso internacional sólido sobre como dividir e proteger áreas na Lua deixa espaço para disputas diretas.

O potencial para conflitos

O cenário desenhado pelos especialistas indica que a corrida pelo reator nuclear na Lua não é apenas uma questão tecnológica. Ela envolve interesses geopolíticos e jurídicos que podem transbordar para tensões militares e diplomáticas.

A instalação de uma base com autonomia energética seria um marco, mas também um gatilho para disputas sobre soberania e controle.

A própria noção de “zona de exclusão” contrasta com o espírito do Tratado do Espaço Exterior. No entanto, para os países envolvidos, garantir acesso e segurança às suas instalações parece prioridade absoluta.

O futuro da corrida

Embora ainda não se saiba qual país chegará primeiro, é evidente que a próxima década será decisiva. Os EUA querem um reator nuclear funcionando até o fim da década.

Já China e Rússia planejam concluir o seu até 2036. No meio dessa disputa, outras nações se alinham a um ou outro bloco, moldando um cenário que lembra a lógica da Guerra Fria, mas agora voltado para o espaço.

Seja qual for o desfecho, a Lua se tornará palco de operações permanentes, e possivelmente de rivalidades duradouras.

O avanço tecnológico necessário para operar reatores nucleares em um ambiente tão hostil também poderá influenciar outros setores, mas o objetivo imediato é claro: garantir presença e influência antes que o concorrente faça o mesmo.

Portanto, a corrida atual não é apenas por ciência ou exploração. É uma disputa por poder, território funcional e direito de ditar regras em um dos lugares mais estratégicos fora da Terra. E, como alertam os especialistas, essa disputa está apenas começando.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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