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Histórica fábrica da Nissan será fechada: 2.400 empregos em risco e terreno de 1,7 milhão de m² pode virar resort ou base militar

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 21/08/2025 às 17:53
Nissan fechará fábrica de Oppama até 2028, afetando 2.400 empregos. Terreno gigante pode virar resort, parque temático ou base militar.
Nissan fechará fábrica de Oppama até 2028, afetando 2.400 empregos. Terreno gigante pode virar resort, parque temático ou base militar.
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A fábrica de Oppama, inaugurada em 1961 e símbolo da ascensão industrial japonesa, será fechada até 2028. A decisão da Nissan coloca em risco milhares de empregos e levanta incertezas sobre o futuro do vasto terreno ocupado pela planta.

A Nissan vai encerrar a produção de veículos em Oppama até março de 2028, em Yokosuka, ao sul de Tóquio, e transferir a montagem para a unidade de Kyushu, a cerca de mil quilômetros.

A decisão integra um plano amplo de reestruturação para reduzir capacidade e custos em meio à pior crise financeira da montadora em décadas.

No centro da mudança estão 2.400 empregos e o futuro de um terreno com mais de 1,7 milhão de m², cujo uso pós-fábrica ainda é incerto.

Fechamento confirmado e impacto direto

Inaugurada em 1961, Oppama foi por anos a principal fábrica da Nissan no Japão e berço do Leaf, lançado em 2010 como o primeiro elétrico de grande escala da marca.

A empresa anunciou que a linha de montagem será desativada no fim do ano fiscal de 2027, com a produção remanejada para Kyushu.

Funcionários permanecerão empregados até o encerramento das operações no local, enquanto a empresa negocia realocação e recolocação. A perda atinge uma cidade que cresceu em torno da montadora.

Em Yokosuka, a Nissan emprega diretamente uma fatia relevante da população — Oppama fica em um distrito com cerca de 29,7 mil moradores, e a fábrica tornou-se rotina na vida local, com visitas à planta e atividades comunitárias articuladas pela companhia.

Terreno valioso e uso futuro em disputa

Sem decisão oficial sobre o terreno de mais de 1,7 milhão de m², proliferam hipóteses. Autoridades locais defendem que o espaço contribua para revitalização urbana e geração de empregos.

Circulam possibilidades como resort ou parque temático, bem como uso pela indústria de defesa, já que Yokosuka abriga instalações militares.

Há ainda relatos de que a Foxconn teria discutido alternativas com a Nissan para produzir veículos elétricos no local. A direção, porém, afirma que não considera terceirizar a produção e que avalia apenas “opções” para a área após o desligamento da linha.

Nissan fechará fábrica de Oppama até 2028, afetando 2.400 empregos. Terreno gigante pode virar resort, parque temático ou base militar. (Foto: nissanclube)
Nissan fechará fábrica de Oppama até 2028, afetando 2.400 empregos. Terreno gigante pode virar resort, parque temático ou base militar. (Foto: nissanclube)

Reestruturação global e números do ajuste

O fechamento de Oppama é peça de um realinhamento que prevê reduzir a capacidade anual de 3,5 milhões para 2,5 milhões de veículos, consolidar fábricas de 17 para 10 e eliminar cerca de 20 mil postos globalmente.

A empresa reportou prejuízo anual em 2024/25, pressionada por baixa de vendas em mercados-chave e encargos de reestruturação. No curto prazo, a estratégia busca elevar utilização de plantas e simplificar a operação.

A Nissan informou que estruturas próximas — como centros de pesquisa e pista de testespermanecerão ativas na região de Oppama, preservando parte do ecossistema industrial.

Por que Oppama perdeu relevância

Há quase duas décadas, a fábrica montava sete modelos; hoje, apenas dois. O declínio reflete a mudança acelerada do mercado, com a Tesla ganhando espaço nos elétricos e, mais recentemente, a ofensiva de montadoras chinesas, lideradas pela BYD.

Mesmo tendo sido um marco no início da eletrificação, o Leaf perdeu tração diante de concorrentes com maior autonomia, software mais integrado e ciclos de atualização mais curtos.

Outro fator foi a necessidade de simplificar plataformas e concentrar volumes onde há escala competitiva. Ao transferir modelos para Kyushu, a Nissan tenta reduzir custos logísticos, equalizar a cadeia de fornecedores e elevar a taxa de uso das linhas.

Efeito social em Yokosuka

Nos arredores da planta, comerciantes e prestadores de serviço se preparam para a queda no movimento.

Dono de uma mercearia de família, Yuji Fujita definiu o anúncio como “o pior cenário possível” e lembrou o trauma de Zama, fechada em 1995, o primeiro encerramento de uma fábrica de automóveis no Japão no pós-guerra.

Moradores temem uma desorganização do mercado de trabalho local e maior êxodo de jovens. Ainda não há número fechado de transferências para Kyushu. Sindicatos pedem garantias de realocação e apoio para quem não puder se mudar.

A administração municipal pressiona por um plano de transição que reduza o impacto imediato em renda, comércio e serviços, e que atraia novos investimentos para o terreno, seja industriais, seja de serviços.

Pressão sobre fornecedores e consolidação no setor

A cadeia automotiva japonesa atravessa um período de ajuste. Fornecedores de pequeno e médio porte, menos capitalizados e expostos à queda de volume, sofrem com custos de transformação em elétricos, software e direção assistida.

O último ano fiscal registrou alta de falências entre empresas do entorno, movimento atribuído por consultorias à combinação de demanda instável, endividamento e atraso tecnológico.

No campo corporativo, a reestruturação da Nissan reativou conversas no mercado. KKR apareceu como interessada em ativos após o fracasso das tratativas com a Honda no início do ano.

A própria Foxconn, além dos rumores sobre Oppama, vem ampliando alianças automotivas na Ásia. Nenhum desses caminhos, contudo, foi transformado em decisão formal a respeito do futuro do terreno em Yokosuka.

Nissan fechará fábrica de Oppama até 2028, afetando 2.400 empregos. Terreno gigante pode virar resort, parque temático ou base militar.(Foto: Toru YAMANAKA / AFP)
Nissan fechará fábrica de Oppama até 2028, afetando 2.400 empregos. Terreno gigante pode virar resort, parque temático ou base militar.(Foto: Toru YAMANAKA / AFP)

Emprego vitalício em xeque

O caso Oppama simboliza também a erosão do shūshin koyō, o modelo de emprego vitalício que marcou o pós-guerra.

À medida que o país enfrenta envelhecimento demográfico e mão de obra escassa, empresas se veem forçadas a ajustar estruturas que eram consideradas perenes.

Fechamentos como o de Zama, nos anos 1990, pareciam exceção; hoje, sinais de consolidação e ajustes profundos multiplicam-se.

Nessa transição, a disputa política e social se volta a como manter a base produtiva do país numa fase em que tecnologia, capital e talento decidem a competitividade.

Em Yokosuka, permanece a dúvida sobre que combinação de indústria, serviços e inovação poderá substituir, em escala, uma fábrica que moldou a economia local por mais de seis décadas.

Alívio possível ou nova vocação?

Enquanto negociações avançam, a prefeitura insiste para que o uso futuro do terreno crie empregos e revitalize a região.

Se vier uma solução industrial — como uma parceria para produzir veículos elétricos —, parte do know-how e da cadeia de fornecedores pode ser preservada.

Caso prevaleça um projeto de lazer ou defesa, a vocação do distrito mudará, exigindo requalificação profissional e novos serviços.

Ainda que a decisão esteja tomada para a linha de montagem, a história do terreno de Oppama segue em aberto.

O desfecho definirá não só o destino dos 2.400 trabalhadores, mas também o perfil econômico de Yokosuka nas próximas décadas.

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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