A revolução industrial criada por Henry Ford, o impacto do Model T no mundo e como a marca histórica disputa espaço com gigantes elétricas em uma nova era de carros conectados, elétricos e produzidos em escala global sem precedentes.
Em 15 de junho de 1924, a Ford Motor Company atingiu um marco inédito para a época: fabricou seu carro de número 10 milhões, um Ford Model T.
O modelo, conhecido como “Tin Lizzie”, havia sido lançado em 1908 e rapidamente se tornou o primeiro carro verdadeiramente acessível à população de classe média dos Estados Unidos.
O feito de 1924 consolidou a Ford como a principal montadora do mundo naquele momento, colocando a indústria automobilística em um novo patamar de escala e influência social.
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O Model T não foi apenas um carro popular. Ele foi a base de uma revolução.
Produzido inicialmente com processos quase artesanais, o modelo passou a ser fabricado em linhas de montagem mecanizadas, idealizadas por Henry Ford, que reduziu o tempo de produção de um carro de 12 horas para cerca de 1 hora e 30 minutos.
O conceito de produção em série, mais tarde conhecido como “fordismo”, transformou a manufatura global e influenciou setores muito além do automotivo.
Naquele ano, para celebrar os 10 milhões de unidades, a empresa organizou uma campanha simbólica: o carro comemorativo percorreu os Estados Unidos em uma rota cruzando com o primeiro carro produzido pela montadora em 1903.
O evento marcou não apenas um feito técnico, mas também um forte gesto publicitário que reforçava a força da marca.
A Ford em 2025: volume de produção e eletrificação
Enquanto em 1924 a Ford dominava quase sozinha a produção global de veículos, o cenário em 2025 é mais complexo e competitivo.
A empresa continua entre as maiores fabricantes do mundo, embora tenha caído posições nos rankings globais em comparação com o passado.
Dados mais recentes mostram que, em 2024, a Ford produziu cerca de 4,5 milhões de veículos no mundo, sendo aproximadamente 2,08 milhões vendidos apenas nos Estados Unidos, seu principal mercado.
Desses, 285.291 foram modelos eletrificados (híbridos e elétricos), o que representa um crescimento de 38% sobre o ano anterior, puxado por modelos como o Mustang Mach-E, F‑150 Lightning e E‑Transit.
As maiores montadoras do mundo
A liderança global da produção em 2024 pertence à japonesa Toyota, com 10,16 milhões de veículos, seguida por Volkswagen (9,03 milhões), Hyundai-Kia (7,23 milhões), GM (5,99 milhões) e Stellantis (5,41 milhões).
A Ford aparece em 8º lugar, com 3,9 milhões de unidades contabilizadas nos relatórios internacionais.
No mesmo ano, a China se consolidou como o maior polo industrial do setor, com 31,3 milhões de veículos produzidos — cerca de 33% do total mundial.
Marcas chinesas como BYD e Geely têm crescido rapidamente.
A BYD, por exemplo, produziu 4,27 milhões de veículos em 2024, dos quais a maioria já é totalmente elétrica ou híbrida, com forte penetração em mercados da Ásia, Europa e América Latina.
Dez milhões em um século: comparação com a indústria atual
O comparativo entre 1924 e 2025 escancara o avanço monumental da indústria automobilística global.
Enquanto a Ford comemorava, há 101 anos, 10 milhões de carros fabricados desde a sua fundação, hoje, a produção mundial gira entre 79 e 89 milhões de veículos por ano.
A produção anual da própria Ford já representa quase metade daquele marco centenário, demonstrando a escalada da indústria e o novo ritmo de consumo e inovação.
A evolução tecnológica também é visível.
O Model T tinha motor de 2.9 litros, quatro cilindros e 20 cavalos de potência, com velocidade máxima de 72 km/h.
Hoje, modelos como a F‑150 Lightning oferecem mais de 500 cavalos em versões elétricas e tecnologias como piloto automático adaptativo, recarga bidirecional, conectividade em nuvem e atualizações de software por OTA.
A relação da Ford com o Brasil e o impacto nacional
O Brasil também faz parte dessa história.
A Ford instalou sua primeira operação no país em 1919, com sede no bairro do Bom Retiro, em São Paulo.
A fábrica de São Bernardo do Campo foi uma das primeiras da América Latina e por décadas produziu modelos emblemáticos como o Corcel, o Del Rey, o Escort, o Ka e o EcoSport.
Em 2021, a empresa decidiu encerrar a produção local, mantendo apenas importações e estrutura comercial.
No entanto, mesmo sem fabricação nacional, a marca segue entre as mais vendidas, com destaque para o Territory e o Mustang.
Enquanto isso, outras montadoras também fincaram raízes no Brasil e seguem competitivas, como Volkswagen, General Motors e Toyota, todas com plantas em operação e investimento constante em novos modelos, inclusive híbridos e elétricos.
A indústria automotiva brasileira está em processo de transição, tentando alinhar metas ambientais com renovação tecnológica, enquanto enfrenta gargalos logísticos, alta carga tributária e incertezas de demanda.
O futuro da Ford diante de uma nova revolução da mobilidade
O cenário atual também mostra a transformação da mobilidade urbana.
Além dos carros elétricos, cresce o número de startups focadas em mobilidade compartilhada, como scooters elétricas e plataformas de aluguel sob demanda.
Em contraste com o monopólio dos carros a combustão na década de 1920, hoje os consumidores têm à disposição uma diversidade inédita de modais e propulsões.
A ascensão da eletrificação, a disputa geopolítica por baterias e matérias-primas, e o avanço das montadoras chinesas são os grandes vetores da transformação em curso.
A Ford, que um dia liderou sozinha a indústria, agora compete com gigantes globais e emergentes em um cenário mais dinâmico e imprevisível.
Seus investimentos em eletrificação, como a nova plataforma de veículos elétricos e parcerias com empresas de tecnologia, indicam uma tentativa de reposicionamento.
Mas, ao olhar para trás, a imagem do Model T número 10 milhões ainda representa algo poderoso: a ideia de que o automóvel pode ser um motor de mudança social e econômica.
A diferença é que, em 2025, essa mudança depende de baterias, chips e conectividade tanto quanto depende de rodas e motores.
Em um mundo cada vez mais elétrico, digital e automatizado, que papel terão marcas centenárias como a Ford na próxima revolução da mobilidade?