Trump eleva a pressão global com tarifas que podem chegar a 70%: entenda como essa jogada drástica ameaça os mercados, mexe no bolso do consumidor e abre uma nova guerra comercial no coração dos Estados Unidos
Quem achava que Donald Trump ia dar uma trégua nas tensões comerciais se enganou feio. O ex-presidente dos Estados Unidos voltou a agitar o tabuleiro global ao anunciar, na última sexta-feira, que vai enviar uma leva de cartas avisando sobre as novas taxas que pretende impor aos parceiros comerciais. As primeiras notificações já começaram a sair direto da Casa Branca e devem chegar a “10 ou 12 países“, segundo o próprio Trump contou em um bate-papo improvisado com repórteres.
Cartas na mesa: tarifas pesadas chegando
Essas cartas marcam o início de uma nova ofensiva americana no comércio internacional. Trump explicou que, a partir de 1º de agosto, os países atingidos começarão a pagar os novos aranceles, e o dinheiro “começará a entrar nos Estados Unidos“. O republicano deixou claro que pretende aplicar taxas de até 70% em alguns casos, um valor que, segundo especialistas, praticamente inviabiliza qualquer relação comercial.
O anúncio veio depois de um comício em Des Moines, Iowa, onde Trump celebrou vitórias recentes e aproveitou para comentar sobre os preparativos para os 250 anos da Declaração de Independência, que ele quer comemorar durante um ano inteiro, culminando em 4 de julho de 2026.
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O presidente dos EUA, Donald Trump, acompanhado pelo chefe de gabinete da Casa Branca, Will Scharf, assina ordens executivas impondo restrições à Casa Branca.
Tática de pressão e recados contraditórios
O movimento mostra, mais uma vez, a postura agressiva de Trump, que costuma usar a estratégia de elevar as tarifas como instrumento de pressão. “Temos mais de 170 países, e quantos acordos conseguimos fechar? É muito mais complicado”, disse Trump, sugerindo que prefere uma abordagem direta: “prefiro enviar uma carta indicando as tarifas que cada país vai pagar”.
Essa postura contrasta com declarações recentes do secretário do Tesouro, Scott Bessent, que indicou que o prazo do dia 9 de julho não seria tão rígido. Em entrevista à Bloomberg, Bessent disse que ficaria satisfeito se os acordos fossem concluídos antes do Dia do Trabalho (1º de setembro nos EUA).
Quem vai pagar a conta?
Segundo Trump, os países “interpelados por correspondência” começarão a pagar no próximo mês. Só que, na prática, quem acaba bancando a conta geralmente são os importadores e, muitas vezes, o consumidor final que sente o impacto no preço dos produtos.
Ainda não ficou claro quais países receberão as taxas mais altas e quais terão tarifas mais brandas, que podem variar entre 10% e 20%. Especialistas apontam que essa indefinição causa incerteza no mercado global.
A negociação segue ou não?
Mesmo após ameaçar tarifas gigantes, Trump deixou a porta entreaberta para acordos. Ele disse que espera “mais um ou dois acordos” além do recente entendimento com o Vietnã, que aceitou pagar 20% em todas as exportações e 40% em alguns produtos específicos. O Reino Unido também já fechou um acordo substancial.
Em abril, Trump havia anunciado tarifas “recíprocas” mínimas de 10%, criando um prazo de 90 dias para negociação. Porém, esse prazo parece ter expirado sem grandes resultados.
Pressão na economia e Fed na berlinda
Enquanto Trump ameaça com novas taxas, a Reserva Federal (Fed) dos EUA optou por não reduzir os juros nas últimas reuniões, mesmo sob pressão do ex-presidente, que apelidou o presidente do Fed, Jerome Powell, de “o atrasado Powell”.
De acordo com a missão do Fed, é preciso equilibrar preços e garantir o máximo emprego. Os últimos dados mostram queda na taxa de desemprego para 4,1%, o que reforça a expectativa de que os juros sejam mantidos entre 4,25% e 4,5% na próxima reunião, em 31 de julho.
Trump, cartões e novas obrigações
Em meio a todo esse cenário, cresce nos bastidores a discussão sobre medidas mais duras de obrigação fiscal e novas regulamentações que podem afetar o uso de cartões e as operações financeiras internacionais, especialmente em compras online. Segundo analistas ouvidos pelo The Wall Street Journal, a imposição de taxas elevadas também pode desestimular a entrada de produtos estrangeiros, impactando diretamente o bolso do consumidor americano.
Como as novas tarifas de Trump podem afetar o Brasil
Mesmo sem estar entre os principais alvos da nova rodada de tarifas anunciada por Donald Trump, o Brasil pode sentir os efeitos colaterais dessa medida agressiva no comércio global. As tarifas, que podem chegar a até 70% em alguns países, representam uma escalada protecionista que tende a provocar desequilíbrios em cadeias internacionais — e isso afeta diretamente exportadores, importadores e a própria economia brasileira.
Até agora, o Brasil foi citado por assessores de Trump como um dos países que deve enfrentar uma tarifa mínima de 10%. Embora esse percentual seja menor do que o imposto à China ou à Índia, ele ainda pode impactar setores industriais sensíveis, como papel e celulose, alumínio e produtos manufaturados, que têm nos Estados Unidos um mercado importante. Empresas como a Suzano já alertaram para possíveis quedas nas exportações e dificuldades logísticas se o cenário piorar.
Por outro lado, a tensão entre Washington e Pequim pode abrir uma janela de oportunidade para o agronegócio brasileiro. Com os produtos norte-americanos se tornando menos competitivos na China, a soja brasileira tende a ganhar ainda mais espaço, reforçando a liderança do país nas exportações do setor.
No entanto, o impacto mais imediato pode ser sentido na inflação e no câmbio. Um comércio global mais instável, somado à valorização do dólar, tende a pressionar os preços de produtos importados e a aumentar o custo de vida. Analistas ouvidos pela Reuters já preveem desaceleração no crescimento do PIB brasileiro e aumento da inflação nos próximos meses.
Enquanto isso, o governo Lula busca manter canais de diálogo abertos com os Estados Unidos e, ao mesmo tempo, acelerar negociações com outros blocos comerciais. A aposta é diversificar os mercados e proteger a economia brasileira das incertezas que rondam a política externa americana, especialmente em um ano eleitoral nos EUA.