Grafite brasileiro é classificado como mineral crítico pela União Europeia em 2025 e pode render contratos bilionários na transição energética.
Por décadas, o grafite brasileiro foi tratado como um insumo industrial de nicho, útil na produção de refratários, lubrificantes e algumas ligas metálicas. Em 2025, essa realidade mudou. Com a transição energética em curso e a explosão do mercado de carros elétricos, o mineral entrou na lista das matérias-primas críticas da União Europeia, dentro do Plano de Segurança Mineral.
Essa decisão transformou o grafite em ativo estratégico. De “coadjuvante” do setor mineral, passou a ser visto como peça central na corrida global por autonomia energética, especialmente porque a União Europeia quer reduzir sua dependência da China — que controla quase 90% do mercado mundial de grafite refinado.
Por que o grafite é tão estratégico quanto o lítio
Se o lítio ganhou fama como “petróleo branco” das baterias, o grafite é o parceiro silencioso sem o qual a transição energética não anda. Ele compõe os ânodos das baterias de íon-lítio, representando cerca de 25% do peso total de cada unidade. Em um carro elétrico de médio porte, isso significa até 50 kg de grafite purificado por veículo.
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Com a previsão de 100 milhões de carros elétricos rodando no mundo até 2030, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), a demanda por grafite pode triplicar. Esse movimento deixou a Europa em alerta: não adianta ter fábricas de baterias se a matéria-prima vem quase toda de um só país — e esse país é a China, rival estratégico do Ocidente.
O peso do Brasil nesse tabuleiro global
O Brasil aparece como um dos maiores detentores de reservas de grafite natural do planeta, com depósitos expressivos em Minas Gerais e na Bahia. De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), as reservas medidas ultrapassam 70 milhões de toneladas.
Hoje, a produção brasileira ainda é modesta frente ao potencial, com cerca de 90 mil toneladas anuais, mas suficiente para colocar o país entre os cinco maiores produtores do mundo.
O que muda em 2025 é a procura direta da União Europeia por fornecedores confiáveis, estáveis e com menor risco geopolítico.
União Europeia mira contratos bilionários
A União Europeia lançou em 2023 a Critical Raw Materials Act (CRMA), legislação que estabelece metas de autossuficiência em minerais estratégicos.
A partir de 2030, pelo menos 10% do consumo europeu desses minerais deverá ser produzido dentro do bloco, e não mais de 65% poderá vir de um único país. Isso significa reduzir a dependência da China.
O grafite brasileiro, pela proximidade logística e pela estabilidade comercial, aparece como alternativa imediata. Bruxelas já sinalizou interesse em contratos de fornecimento de longo prazo, capazes de movimentar bilhões de dólares até o fim da década.
China observa de perto
A disputa, porém, não é simples. A China já é a principal compradora do grafite brasileiro e controla a etapa mais rentável da cadeia: o refino químico e a produção de grafite esférico, pronto para baterias. Em 2024, Pequim chegou a restringir exportações para pressionar preços, escancarando ao Ocidente sua vulnerabilidade.
Se a União Europeia avançar em contratos com o Brasil, é provável que a China reaja, ampliando investimentos diretos em minas nacionais para garantir acesso privilegiado. Isso pode transformar o grafite em mais um campo de batalha geopolítico entre Oriente e Ocidente em território brasileiro.
Oportunidade bilionária para o Brasil
Especialistas projetam que a demanda global por grafite para baterias ultrapasse 5 milhões de toneladas até 2030. Se o Brasil conseguir expandir sua produção e agregar valor no processamento, o setor pode movimentar dezenas de bilhões de dólares na próxima década.
Mais do que vender minério bruto, o desafio é instalar plantas de beneficiamento em território nacional, capturando a parte mais valiosa da cadeia. Cada tonelada de grafite purificado pode custar até 5 vezes mais do que o minério bruto exportado.
Gargalos internos que podem travar o avanço
Apesar do potencial, o Brasil enfrenta gargalos conhecidos:
- Baixa capacidade de beneficiamento: quase todo o grafite exportado sai in natura.
- Logística precária: estradas e ferrovias limitam o escoamento em regiões como o norte de Minas.
- Insegurança regulatória: mudanças frequentes em regras de mineração assustam investidores estrangeiros.
- Questões ambientais: comunidades e ONGs já alertam para riscos de mineração em áreas próximas a biomas sensíveis.
Se não resolver essas questões, o país corre o risco de perder o bonde da transição energética, ficando restrito à exportação de matéria-prima barata.
Histórico de negligência: do minério de ferro ao grafite
A história brasileira mostra um padrão: o país exporta volumes gigantes de minério de ferro, soja e petróleo, mas raramente avança no beneficiamento e no valor agregado. O grafite pode repetir esse ciclo, a menos que políticas industriais claras incentivem a construção de uma cadeia nacional de baterias.
Enquanto isso, países como a China dominam a tecnologia de refino, e a Europa corre contra o tempo para não ficar refém. O Brasil, mais uma vez, está no centro dessa equação.
O grafite brasileiro é agora oficialmente um trunfo estratégico mundial. Para a União Europeia, representa a chance de reduzir a dependência da China. Para a China, é um recurso que não pode ser perdido para rivais. Para o Brasil, é a oportunidade de transformar reservas abundantes em contratos bilionários e desenvolvimento industrial.
A questão é se o país terá visão estratégica para aproveitar o momento ou se seguirá como simples exportador de commodities, assistindo outros transformarem seu grafite em baterias, tecnologia e riqueza.