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Governo quer retomar ferrovia abandonada de 600 KM e avalia até mesmo transporte de passageiros

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 25/10/2024 às 20:25
Governo avalia reativação de ferrovia de 600 km no Ceará, com possível transporte de passageiros e bilhões em indenizações em jogo.
Governo avalia reativação de ferrovia de 600 km no Ceará, com possível transporte de passageiros e bilhões em indenizações em jogo.

Brasil pode recuperar sua malha ferroviária abandonada, e o Ceará é destaque. Indenizações bilionárias em disputa prometem movimentar o setor, com possibilidades de novos trens de passageiros.

O Brasil pode estar prestes a ver um renascimento de suas linhas férreas: uma linha abandonada de 600 km no Ceará pode voltar a operar com um diferencial que promete aquecer os debates e resgatar memórias: o transporte de passageiros.

Mas o projeto não se limita ao retorno de antigas linhas; ele envolve uma reestruturação estratégica que impactará diretamente a infraestrutura ferroviária no Nordeste.

Com isso, o Governo Federal e agências reguladoras avaliam possibilidades que envolvem até mesmo bilhões em indenizações para impulsionar a rede ferroviária nacional, enquanto discute-se quem terá o controle desses recursos.

Retomada da ferrovia: projeto estratégico e novas possibilidades

A movimentação em torno da revitalização das ferrovias abandonadas começou com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que realizaram estudos sobre a malha ferroviária nacional e a devolução de concessões abandonadas.

Segundo a ANTT, o pedido de devolução feito pela concessionária Ferrovia Transnordestina Logística (FTL) pode abrir caminhos para o uso da estrutura no transporte de passageiros, uma alternativa que vem ganhando apoio no setor.

Para o Ceará, essas discussões não apenas representam uma reativação da ferrovia, mas também podem influenciar na integração da nova Transnordestina, em construção pela empresa TLSA.

Essa retomada traria um impacto significativo à infraestrutura local, fortalecendo conexões e criando oportunidades de desenvolvimento logístico no Estado.

Estudos e indenizações: bilhões em jogo

De acordo com o Ministério dos Transportes, um grupo de trabalho avalia opções para otimizar a infraestrutura devolvida pela FTL, incluindo sua reintegração à União.

Paralelamente, a empresa pública Infra S.A. realiza estudos para analisar o potencial de uso dessa malha, visando futuras concessões e novas operações ferroviárias.

A reativação da malha ferroviária brasileira, abandonada ou subutilizada, representa não só uma oportunidade de expansão para o setor de transportes, mas também um ganho financeiro.

O valor das indenizações de trechos abandonados pode alcançar até R$ 20 bilhões em todo o país. Esses recursos, no entanto, estão no centro de uma disputa entre os ministérios.

O Ministério dos Transportes defende que o valor seja reinvestido na infraestrutura ferroviária, enquanto a Fazenda considera destiná-lo ao ajuste fiscal do governo.

Linha de 600 km no Ceará: potencial para transporte de passageiros?

Uma das linhas em estudo para retomada é o trecho de 600 km que liga Fortaleza ao Crato, no Ceará.

Esta linha foi identificada pela ANTT como parte de um conjunto de ferrovias com potencial para reutilização, possibilitando o transporte de passageiros entre regiões estratégicas do Estado.

O uso para passageiros, porém, ainda depende da conclusão dos estudos conduzidos pela Infra S.A. e da definição de diretrizes do Ministério dos Transportes.

A destinação final das linhas devolvidas à União, segundo a ANTT, será uma decisão de política pública definida pelo Ministério dos Transportes, que estuda propostas de concessão para empresas interessadas.

O papel estratégico da Fiec e o hub do hidrogênio verde

Heitor Studart, coordenador da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), considera a reativação da malha ferroviária um passo essencial para a integração da economia cearense com outros polos do país.

Studart defende que a recuperação da antiga Transnordestina é crucial para conectar o Ceará a outras ferrovias, como a Ferrovia Norte-Sul e a Ferrovia Centro-Atlântica, que se interligam com a Ferrovia de Integração Oeste-Leste e a Ferrovia de Integração Centro-Oeste.

Segundo Studart, o plano para a ferrovia no Ceará está alinhado ao desenvolvimento do hub de hidrogênio verde no Estado, e as obras do setor ferroviário são uma parte fundamental dessa visão.

A Fiec entende que o futuro do setor industrial cearense depende de uma integração robusta e moderna com a malha nacional, pois o transporte ferroviário é uma via de baixo custo e grande capacidade de carga, essencial para o projeto de hidrogênio verde.

Além disso, Studart sugere que as concessões devolvidas poderiam dar lugar a short lines, linhas curtas de transporte de passageiros, que beneficiariam diretamente o transporte urbano e regional.

“A retomada do setor ferroviário é uma das prioridades para o desenvolvimento industrial e logístico do Ceará”, afirma Studart.

Disputa por indenizações e impacto para o futuro ferroviário

Hoje, aproximadamente 36% das ferrovias do Brasil estão inutilizadas ou sucateadas, representando um grande volume de infraestrutura com valor potencial de ressarcimento.

De acordo com a Folha de São Paulo, a média de indenização de cada quilômetro desativado varia entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões, mas os valores podem sofrer ajustes conforme a complexidade de cada trecho.

A Fiec e outras entidades pressionam para que os valores das indenizações sejam reinvestidos exclusivamente no setor ferroviário.

Essa destinação, segundo especialistas, é estratégica para o desenvolvimento da infraestrutura nacional e alinhamento com o projeto do hidrogênio verde.

Porém, a disputa entre os Ministérios dos Transportes e da Fazenda para decidir o destino desses recursos se intensifica, e o desfecho ainda é incerto.

Studart reforça que, se aplicados corretamente, os R$ 20 bilhões em indenizações poderiam ser fundamentais para reestruturar a logística nacional e impulsionar setores inovadores.

“É fundamental que esses recursos sejam revertidos para o setor ferroviário, pois só assim conseguiremos modernizar nossa malha e sustentar projetos como o hidrogênio verde”, afirma.

Futuro das ferrovias e o transporte de passageiros

A decisão final sobre o uso das ferrovias devolvidas para o transporte de passageiros representa um possível marco para a mobilidade urbana no país.

Embora o Ministério dos Transportes ainda precise definir as diretrizes, a reativação de trechos ferroviários para passageiros pode ser uma resposta às demandas por alternativas ao transporte rodoviário, principalmente em regiões urbanas e metropolitanas.

Para o Ceará, a retomada dos trilhos entre Fortaleza e Crato oferece uma oportunidade singular de resgatar o transporte ferroviário de passageiros e conectar as cidades de maneira eficiente e sustentável.

No entanto, para que essa visão se concretize, a sociedade, governos e empresas precisarão alinhar interesses e decisões, priorizando o crescimento sustentável e a inovação na infraestrutura.

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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