País está sentindo o peso dos grandes projetos de infraestrutura que parecem não sair do papel.
Nos últimos anos, há um país que tem lidado com uma série de entraves em suas grandes obras de infraestrutura, e o cenário não é otimista. Estamos falando da Alemanha.
Apesar de possuir um pacote financeiro bilionário aprovado pelo Bundestag (câmara baixa do parlamento) e pelo Bundesrat (câmara alta), a verdade é que as dificuldades vão além da simples falta de recursos.
O pacote inclui 500 bilhões de euros, cerca de R$ 3 trilhões, para serem investidos em infraestrutura até 2036, mas, segundo especialistas, isso não resolve o problema.
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A questão central é a eficiência dos processos e a capacidade do governo em gerenciar e aplicar esses fundos.
Em entrevista ao Comitê de Orçamento do Bundestag, a economista e professora da Universidade Técnica de Nurembergue, Veronika Grimm, afirmou que o maior obstáculo para a utilização desse fundo é o longo processo de planejamento e as autorizadas burocráticas.
“A Alemanha está sufocada pela burocracia e por estruturas ineficientes. Não adianta ter dinheiro se não conseguimos usá-lo de forma ágil”, declarou Grimm.
A falta de velocidade no gasto desses fundos tem sido uma preocupação constante, com estimativas sugerindo que, apesar da abundância de recursos, a economia não verá grandes resultados imediatos.
A previsão é que o impacto positivo nas finanças só se dê de forma moderada em 2026, dependendo de como esses fundos serão aplicados.
Setor de construção sob pressão: o que falta para resolver os gargalos?
Um setor que poderia ser a chave para a revitalização da infraestrutura alemã é a construção civil. No entanto, o cenário é preocupante.
40% das empresas do setor relatam escassez de encomendas, com alguns projetos sendo suspensos devido à crise econômica e ao aumento dos preços impulsionados pela inflação global e pela guerra na Ucrânia.
Essa escassez de projetos tem gerado um descompasso entre a capacidade de produção e a necessidade de reformas urgentes, principalmente em áreas de transporte e defesa.
Felix Pakleppa, diretor-executivo da Associação Alemã da Indústria da Construção, afirma que o setor está subutilizado e que, mesmo com o pacote financeiro em andamento, não há a quantidade de trabalho necessária para absorver esses recursos.
“A construção civil pode começar imediatamente, já que há expertise e capacidade técnica para realizar esses projetos. O que falta são as encomendas”, ressaltou Pakleppa.
O fato de 85% do tempo dedicado à construção de autoestradas ser gasto apenas com planejamento mostra que a burocracia é um dos maiores entraves para o avanço desses projetos.
Burocracia: o maior obstáculo para o desenvolvimento
Não é segredo que o processo de aprovação de projetos na Alemanha é extremamente lento.
Estudos apontam que a burocracia está custando à economia alemã até 146 bilhões de euros por ano, uma quantia que poderia ser investida em melhorias concretas se os processos de autorização fossem mais rápidos e eficientes.
As empresas de construção, por exemplo, têm que lidar com um emaranhado de exigências legais, como comprovações e verificações de documentação, requisitos de proteção de dados e outros fatores que atrasam os projetos.
Reduzir esse tempo e simplificar a burocracia seria um passo essencial para liberar os recursos necessários para esses projetos de infraestrutura.
A escassez de mão de obra qualificada pode agravar a situação
Outro desafio crescente para a Alemanha é a falta de mão de obra qualificada.
A sociedade alemã está envelhecendo, e, à medida que a demanda por novos trabalhadores cresce, muitos trabalhadores experientes estão se aposentando.
A escassez de profissionais qualificados já vem sendo observada há anos, mas a pressão se intensificou com a recessão econômica e o aumento das vagas temporárias.
Estima-se que até 2040 a Alemanha precisará importar cerca de 288 mil trabalhadores estrangeiros anualmente para suprir essa lacuna, sem contar a demanda gerada pela ampliação dos projetos de infraestrutura e defesa.
Segundo Veronika Grimm, a falta de mão de obra qualificada pode levar a uma inflação nos preços, já que as empresas podem aumentar o custo de seus serviços devido à escassez de pessoal.
Caso o governo alemão não encontre formas eficazes de atrair mais trabalhadores qualificados ou melhorar a capacidade de produção interna, os preços podem subir ainda mais, dificultando a execução das obras de infraestrutura.
O que falta para que a Alemanha aproveite o potencial de suas finanças?
A infraestrutura da Alemanha, que já foi considerada uma das mais avançadas do mundo, está agora em estado crítico.
Cerca de 5 mil pontes estão em péssimas condições e necessitam de reformas urgentes, enquanto a Deutsche Bahn, a empresa ferroviária nacional, planeja o maior projeto de renovação de sua história, com a reforma de 4 mil quilômetros de trilhos em várias fases.
No entanto, as projeções indicam que, mesmo com os 500 bilhões de euros disponíveis, esse valor pode ser insuficiente para cobrir as necessidades totais da infraestrutura do país, que são estimadas em mais de 900 bilhões de euros até 2035.
O grande desafio agora é encontrar uma forma de aplicar de maneira eficiente esses fundos, considerando as limitações da burocracia, a escassez de trabalhadores qualificados e os custos elevados impulsionados pela crise global.
A pergunta que fica é: você acha que a Alemanha conseguirá superar esses obstáculos e fazer seus bilhões de euros realmente valerem a pena?