Banco Central unificou “vencido” e “prejuízo” no Registrato/SCR; segundo o advogado Antonio Galvão, a leitura de risco pode penalizar atrasos pequenos e deixar a aprovação de crédito mais rígida.
Banco Central não proibiu negativação nem “acabou com o nome sujo”. O que mudou foi a forma de exibir informações no Registrato/SCR, onde dívidas em atraso e em prejuízo passaram a aparecer juntas, eliminando a antiga coluna “prejuízo”. Influenciadores que anunciaram o “fim do nome sujo” propagaram um mito.
De acordo com o advogado especialista em defesa do consumidor Antonio Galvão, a unificação simplifica a vitrine de dados, mas pode endurecer a análise de risco: ao misturar atrasos recentes e leves com calotes antigos e severos na mesma aba “vencido”, a modelagem de crédito tende a ser mais conservadora — especialmente para quem não tem garantias ou tem histórico curto.
Quem mudou o quê: o que, de fato, o Banco Central alterou no Registrato
Segundo a página oficial do Banco Central, atualizada em 10/07/2025, “dívidas vencidas e em prejuízo aparecem juntas na coluna vencida”, e a coluna “prejuízo” foi eliminada.
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Isso não extingue registros negativos, tampouco proíbe bancos de negativar: apenas reorganiza a forma de apresentação no Registrato/SCR.
Antonio Galvão reforça que a alteração joga mais peso sobre a etapa de análise de crédito:
Sem a separação visual entre “vencido” e “prejuízo”, algoritmos e comitês tendem a classificar perfis com maior prudência.
O que pode aumentar exigências (entrada maior, renda mais alta, garantias) ou elevar juros para compensar risco percebido.
Quanto isso pesa na prática: impacto na sua nota e na oferta de crédito
Para quem atrasa pouco e paga rápido, o efeito colateral pode ser desproporcional.
Um atraso de 30 dias pode aparecer na mesma “prateleira” de dívidas muito antigas e irrecuperáveis, elevando o risco agregado.
Bancos passam a “precificar” mais o risco ex-ante, o que significa mais provisões e crédito mais caro ou negado para perfis limítrofes.
Antonio Galvão explica que a unificação empurra o mercado para uma triagem mais dura: renda informal, ausência de bens e histórico curto agora pesam ainda mais.
Mesmo quem quitou tudo pode ver reflexos, porque o algoritmo enxerga o conjunto “vencido” sem um rótulo granular de severidade.
Onde aparece no seu relatório: leitura do Registrato/SCR após a mudança
No extrato do Banco Central, a antiga coluna “prejuízo” deixou de existir, restando “em dia” e “vencido”.
“Vencido” reúne tanto parcelas com atraso superior a 14 dias quanto operações que, antes, ficavam marcadas como “prejuízo” (tipicamente >180 dias).
O consumidor que olhar só os títulos da tabela pode interpretar equivocadamente que “sumiu o problema”, quando na verdade ele foi apenas reclassificado.
Antonio Galvão recomenda verificar periodicidade, valores, instituições e evolução histórica:
Se houve atraso, mesmo que sanado, ainda pode haver reflexo na percepção de risco, porque o banco observa tendências e recorrência, não apenas o status “limpo” do momento.
Por quê a leitura ficou mais dura: do passado (ocorrido) ao futuro (perda esperada)
A mudança dialoga com normas contábeis alinhadas ao IFRS 9 (perda esperada):
Bancos provisionam antes, com base em probabilidade de inadimplência futura, e não só depois que a inadimplência se consolida.
Na prática, isso puxa a régua da prudência: quanto mais sinais de risco no agregado “vencido”, maior a tendência de provisão e de encarecimento/negação do crédito.
Antonio Galvão destaca que o detalhe que antes ajudava a distinguir “atraso leve” de “calote antigo” sumiu da vitrine:
A unificação simplifica o relatório, mas empobrece o nuance para o leigo.
Resultado: modelos e comitês podem reagir de forma mais conservadora, principalmente em ciclos de juros altos.
Quem sofre mais: perfis vulneráveis e o “atrasadinho eventual”
“Atrasadinho eventual” (quem escorrega poucos dias em contas pequenas) pode ser confundido com risco maior, se cair junto com registros antigos na mesma aba “vencido”.
Microempreendedores, autônomos e informais — com renda volátil e pouco lastro — tendem a sentir o aperto primeiro em limites, taxas e aprovação.
Segundo Antonio Galvão, consumidores sem garantias e sem histórico longo precisarão redobrar disciplina: evitar atrasos, manter limites folgados, centralizar relacionamento e registrar renda.
Cada ponto de fricção que antes era diluído pode agora pesar mais.
Vale a pena negociar agora? Estratégia do consumidor diante do novo cenário
Sim: vale antecipar acordos e regularizar pendências antes de pedir crédito relevante.
Negociar dívidas pequenas e recentes ajuda a “despoluir” o conjunto “vencido” e reduz o risco percebido na leitura do Banco Central.
Planeje o timing: 60–90 dias antes de financiamento ou revisão de limite, limpe o painel, aumente saldo médio, reduza utilização de limite e evite abrir várias consultas simultâneas, que sinalizam apetite por crédito.
Antonio Galvão recomenda três frentes táticas:
(1) regularização rápida, (2) fortalecimento de relacionamento (salário, seguros, investimentos no mesmo banco) e (3) documentação de renda (extratos, DECORE, notas).
Quanto melhor a comprovação, menor a dependência de heurísticas conservadoras.
Resumo claro: o “nome sujo” não acabou; o Banco Central apenas unificou “vencido” e “prejuízo” no Registrato/SCR, o que tende a deixar a análise de crédito mais conservadora.
A estratégia agora é disciplina absoluta, documentação de renda e negociação antecipada.
Você já percebeu efeito dessa mudança do Banco Central no seu limite, nos juros ou na aprovação de crédito? Seu banco ficou mais rígido ou nada mudou? Conte seu caso nos comentários — relatos reais ajudam outros consumidores a se preparar e pressionam o mercado por transparência.