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A missão quase impossível do Glomar Explorer: como a CIA tentou roubar um submarino afundado para obter tecnologia secreta da União Soviética

Escrito por Débora Araújo
Publicado em 16/06/2025 às 18:35
A missão quase impossível do Glomar Explorer - como a CIA tentou roubar um submarino afundado para obter tecnologia secreta da União Soviética
Imagem gerada por inteligência artificial
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O Glomar Explorer foi o navio espião criado pela CIA para uma das operações mais secretas da Guerra Fria: tentar resgatar um submarino soviético afundado a 5 mil metros de profundidade no Pacífico.

No auge da Guerra Fria, quando Estados Unidos e União Soviética disputavam supremacia tecnológica e militar, surgiu um dos episódios mais ousados da história naval e da espionagem: o Glomar Explorer. Oficialmente apresentado como um navio para mineração de nódulos de manganês no fundo do mar, a embarcação foi, na realidade, construída pela CIA para executar uma missão sigilosa: recuperar o submarino soviético K-129, naufragado em águas profundas do Pacífico.

O K-129 afundou em março de 1968, durante uma patrulha no Pacífico Norte, a cerca de 1.500 quilômetros a noroeste do Havaí. A embarcação transportava armas nucleares e equipamentos estratégicos, incluindo torpedos e sistemas criptográficos. A localização do naufrágio foi descoberta pelos Estados Unidos com auxílio de redes de sensores submarinos. A CIA, em colaboração com o Pentágono, viu na tragédia soviética uma oportunidade sem precedentes de acessar segredos do rival durante o período mais tenso da disputa global.

A construção de um navio sem igual

Entre 1971 e 1973, o Glomar Explorer foi construído nos estaleiros da Sun Shipbuilding, na Filadélfia, com financiamento secreto do governo americano. O bilionário Howard Hughes foi usado como fachada para o projeto, alegando que o navio seria usado para mineração em alto-mar. O custo total do empreendimento foi estimado em cerca de US$ 800 milhões da época — o equivalente a mais de US$ 4 bilhões em valores atuais.

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O navio media cerca de 190 metros de comprimento e era equipado com um poço central (moon pool) de onde seria possível içar grandes objetos sem expor a carga ao ambiente externo. Dotado de guindastes robustos, torre de perfuração e sistemas de estabilização de alta precisão, o Glomar Explorer era capaz de operar em alto-mar por meses. A embarcação foi acompanhada por uma barcaça submersível, apelidada de Clementine, projetada para capturar partes do submarino a 5 mil metros de profundidade.

A execução do Projeto Azorian

Em 1974, após anos de planejamento e construção, o Glomar Explorer partiu para o local do naufrágio para realizar a chamada operação secreta conhecida como Projeto Azorian. O objetivo era içar o K-129 sem alertar a União Soviética, cujos navios patrulhavam a região regularmente.

Durante semanas, a embarcação permaneceu no local, posicionada sobre o ponto exato onde o submarino repousava. A barcaça Clementine desceu até o fundo do mar, equipada com uma enorme garra hidráulica para agarrar a estrutura do K-129. A operação exigiu precisão extrema, considerando as correntes marinhas, a profundidade e os riscos de detecção por parte da marinha soviética.

Apesar da complexidade, a garra conseguiu prender-se ao casco do submarino e iniciar a elevação. Durante a subida, no entanto, o casco do K-129 se partiu, e a maior parte da embarcação retornou ao fundo do mar. Apenas uma seção menor foi recuperada, incluindo equipamentos eletrônicos, armamentos nucleares e os corpos de seis marinheiros soviéticos.

O legado da resposta Glomar e o sigilo da missão

Para manter o segredo da operação, a CIA adotou uma política de silêncio absoluto. Quando a existência da missão foi revelada por reportagens jornalísticas em 1975, o governo dos Estados Unidos passou a responder aos questionamentos públicos com a frase: “nem confirmo, nem nego”. Essa prática ficou conhecida como resposta Glomar, adotada desde então em casos de segurança nacional e pedidos de informação sensível.

O enterro no mar dos marinheiros soviéticos foi registrado em vídeo e, anos depois, compartilhado com o governo russo em um gesto de respeito. Os detalhes sobre o que foi exatamente recuperado permanecem classificados até hoje, alimentando teorias sobre possíveis segredos estratégicos acessados pelos Estados Unidos.

O navio após a missão e sua transformação

Após o fracasso parcial da operação, o Glomar Explorer foi colocado na reserva da marinha americana por alguns anos. Em meados dos anos 1990, foi convertido em navio de perfuração de águas profundas pela Global Marine Drilling e renomeado como GSF Explorer. O navio operou por mais duas décadas na indústria do petróleo e gás, antes de ser aposentado e desmantelado em 2015.

O projeto, embora não tenha alcançado todos os seus objetivos, representou um feito notável de engenharia e logística, além de ter marcado a história da espionagem e da tecnologia naval.

A importância do Glomar Explorer na história naval e na espionagem

O Glomar Explorer tornou-se um ícone da história naval e da inteligência dos Estados Unidos. O projeto evidenciou o quanto as operações submarinas da Guerra Fria combinavam inovação tecnológica com estratégias de sigilo extremo. A missão destacou os limites que as superpotências estavam dispostas a superar para garantir vantagens no tabuleiro geopolítico global.

Além de inspirar livros, documentários e estudos acadêmicos, a história do navio espião permanece como um exemplo de como engenharia, política e estratégia militar se entrelaçaram durante a Guerra Fria. O Projeto Azorian continua sendo um dos maiores mistérios do mar, reforçando a aura enigmática do Glomar Explorer e das operações secretas do período.

O Glomar Explorer simboliza um capítulo único da corrida por supremacia entre Estados Unidos e União Soviética. Seu legado vai além da tentativa de resgate do submarino soviético: tornou-se referência para operações navais complexas, práticas de sigilo governamental e avanços na engenharia de resgate em grandes profundidades. Ainda hoje, o projeto é estudado por sua audácia, seus custos e pelas lições que deixou sobre os limites da espionagem em tempos de tensão global.

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Débora Araújo

Débora Araújo é redatora no Click Petróleo e Gás, com mais de dois anos de experiência em produção de conteúdo e mais de mil matérias publicadas sobre tecnologia, mercado de trabalho, geopolítica, indústria, construção, curiosidades e outros temas. Seu foco é produzir conteúdos acessíveis, bem apurados e de interesse coletivo. Para sugestões de pauta, correções ou contato direto: deborasthefanecruz@gmail.com

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