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Gigante do petróleo, tão grande quanto a Petrobras, quase desiste de descoberta de mais de 5 trilhões de reais na Guiana

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 12/08/2024 às 12:24
Gigante do petróleo, tão grande quanto a Petrobras, quase desiste de descoberta de mais de 5 trilhões na Guiana. (Imagem: reprodução)
Gigante do petróleo, tão grande quanto a Petrobras, quase desiste de descoberta de mais de 5 trilhões na Guiana. (Imagem: reprodução)

Imagine estar à beira de uma descoberta que pode mudar o destino de um país inteiro, mas enfrentar dúvidas profundas e quase desistir. Essa é a história de um geocientista da Exxon Mobil que, ao observar o vasto Atlântico na costa da Guiana, viu potencial onde outros só enxergavam riscos.

O que ele não sabia, no entanto, era que essa aposta quase não aconteceu, e o que hoje é uma das maiores descobertas de petróleo da última geração, poderia ter permanecido no fundo do oceano, esquecido e intocado.

A Exxon Mobil, gigante do petróleo, esteve a um passo de desistir da exploração que acabou revelando uma reserva de mais de 11 bilhões de barris de petróleo na Guiana.

Essa descoberta não só transformou a Exxon, mas também mudou o cenário econômico da Guiana, tornando-a um dos maiores produtores de petróleo por pessoa no mundo. O campo, denominado Liza, hoje é uma das joias mais valiosas da companhia, mas sua exploração enfrentou resistência e dúvidas dentro da própria empresa.

A aposta arriscada de um geocientista

Em 2013, Scott Dyksterhuis, um jovem geocientista da Exxon Mobil, acreditava firmemente na possibilidade de uma vasta reserva de petróleo escondida a quase 5 quilômetros abaixo do leito marinho, na costa da Guiana.

Apesar da certeza de Dyksterhuis, a Exxon havia perfurado mais de 40 poços secos na região, e o histórico desfavorável tornava o projeto uma aposta extremamente arriscada.

A perfuração do poço Liza, nome dado à formação geológica na área, custaria cerca de US$ 175 milhões e tinha apenas 20% de chance de sucesso, segundo estimativas do próprio geocientista.

A descoberta, se confirmada, poderia provar uma teoria que sugeria que a geologia rica em petróleo da Venezuela se estendia para a costa norte da América do Sul. Porém, muitos dentro da Exxon e no setor petrolífero em geral não estavam dispostos a correr esse risco.

Da dúvida ao sucesso: a guiana transforma-se

O cenário mudou drasticamente com a descoberta da formação Liza, que se revelou um tesouro inestimável. A Exxon Mobil não apenas comprovou as teorias geológicas, mas também transformou a Guiana em um dos principais produtores de petróleo do mundo.

Em 2027, o país deverá superar a Venezuela e se tornar o segundo maior produtor de petróleo da América do Sul, atrás apenas do Brasil. A descoberta de petróleo na Guiana elevou o país, anteriormente um dos mais pobres da região, ao status de gigante energético, com projeções de produção per capita superiores às da Arábia Saudita e do Kuwait.

Hoje, a Guiana é o alicerce do renascimento da Exxon pós-pandemia. Com uma participação de 45% no campo Liza, onde o custo de produção é inferior a US$ 35 por barril, a Exxon conseguiu transformar a descoberta em um dos projetos mais lucrativos fora da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

Mesmo com a atual cotação do petróleo em torno de US$ 80 por barril, o campo Liza permanece rentável, assegurando lucros para a companhia, mesmo diante das incertezas do futuro da demanda por combustíveis fósseis.

O dilema da transição energética e as críticas ambientais

A história da descoberta de petróleo na Guiana revela desafios para a transição energética global. Embora muitos no setor esperassem que as energias renováveis, como solar e eólica, substituíssem gradualmente o petróleo, a Exxon apostou na continuidade dos combustíveis fósseis, resultando em um retorno financeiro expressivo. Desde o início da produção na Guiana, em 2019, as ações da Exxon mais que dobraram, registrando o maior retorno entre as grandes petroleiras globais.

Por outro lado, a descoberta na Guiana também trouxe críticas significativas, especialmente de ambientalistas preocupados com o impacto ambiental. Melinda Janki, uma advogada guianense especializada em proteção ambiental, criticou duramente a Exxon, acusando a empresa de poluir o oceano e a atmosfera sem arcar com as consequências dos danos causados. Segundo ela, “a Exxon está poluindo o oceano e a atmosfera sem ter que pagar pelos danos”. A Exxon, por sua vez, afirma que investe em tecnologias para proteger o meio ambiente e que cumpre ou excede as exigências regulatórias.

Os concorrentes que desistiram e as lições da Exxon

Enquanto a Exxon colhia os frutos de sua persistência, outras grandes petroleiras que haviam desistido da região amargavam o arrependimento. Empresas como a Chevron e a Shell, que inicialmente tinham participação nos blocos de exploração da Guiana, optaram por abandonar a empreitada. A Chevron, por exemplo, recentemente pagou US$ 53 bilhões pela Hess, uma das parceiras da Exxon na Guiana, em uma tentativa de recuperar o tempo perdido.

A história da Guiana, no entanto, vai além de uma simples aposta bem-sucedida. Ela demonstra como a Exxon, além de ser uma gigante do petróleo, também se destacou como uma empresa de engenharia financeira. Ao proteger suas apostas, a Exxon minimizou riscos e maximizou lucros, transformando um projeto de alto risco em um dos seus maiores trunfos.

Os bastidores da decisão: como quase desistiram

Em 2013, a perfuração do poço Liza estava prestes a ser cancelada. Os principais geocientistas da Exxon concluíram que os riscos não compensavam o investimento, e a empresa poderia perder a concessão do bloco Stabroek se não iniciasse a exploração.

Foi quando Rudy Dismuke, um consultor comercial, propôs uma solução ousada: perfurar de graça. Um pequeno grupo de funcionários de nível inferior e médio da Exxon encontrou uma maneira de viabilizar o projeto, reduzindo custos ao máximo e assegurando a continuidade da exploração.

A concessão obtida pela Exxon também teve um papel crucial nessa história. Graças ao trabalho de Rod Limbert, a empresa conseguiu negociar um acordo altamente favorável com o governo da Guiana, garantindo 50% do lucro após a dedução dos custos, além de um royalty de apenas 1%. Embora a Guiana tenha sido criticada por aceitar um contrato tão generoso para a Exxon, o acordo foi vital para a economia do país, além de fortalecer a posição da Guiana em disputas territoriais com o Suriname e a Venezuela.

Uma aposta da Exxon que transformou um país

A história da descoberta de petróleo na Guiana é uma lição de como riscos calculados podem levar a recompensas extraordinárias. O campo Liza, que quase foi abandonado pela Exxon, agora é um dos pilares da economia da Guiana e da própria Exxon. Essa jornada mostra que, em um setor tão incerto quanto o petróleo, a persistência e a coragem podem ser as chaves para transformar um projeto duvidoso em um sucesso monumental.

Será que a aposta da Exxon na Guiana e sua resistência à transição energética rápida se mostrarão visionárias ou desastrosas a longo prazo?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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