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Gerdau, maior produtora de aço do país, encolhe operações no Brasil: 1.500 demissões, cortes de investimento e foco em expansão nos Estados Unidos

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 02/08/2025 às 11:07
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Plano de investimentos da Gerdau desmorona no Brasil: usinas ameaçam fechar e demissões se multiplicam sem resposta de Brasília

A Gerdau, maior produtora de aços longos das Américas, confirmou nesta semana que irá reduzir seus investimentos no Brasil a partir de 2026. A decisão ocorre em meio a um cenário de insatisfação crescente com o avanço do aço importado — especialmente da China — e com o que a empresa classifica como falta de medidas eficazes do governo federal para proteger a indústria nacional.

Apesar de manter o plano de aportes de R$ 6 bilhões em 2025, sendo R$ 4 bilhões destinados às operações brasileiras, a companhia já antecipou que irá rever esse cenário nos próximos anos. A confirmação veio diretamente do CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, durante apresentação dos resultados trimestrais.

“Estamos estudando, para os próximos meses, uma revisão de aportes industriais no Brasil. O ambiente competitivo está se deteriorando. E sem uma proteção mais eficaz, os investimentos precisarão ser realocados”, afirmou Werneck durante conferência com investidores, conforme relatado pelo Terra.

Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, líder na produção de aço no Brasil, critica a falta de proteção à indústria nacional e anuncia cortes nos investimentos no país

Pressão do aço estrangeiro e demissões no país

A decisão ocorre após uma série de alertas que a Gerdau e o setor siderúrgico vêm fazendo ao governo desde o início de 2024. A principal reclamação é que o mercado nacional está sendo invadido por aço importado a preços predatórios, com destaque para o produto chinês, que se beneficia de subsídios e uma estrutura industrial muito mais barata.

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De acordo com dados da Instituto Aço Brasil, a participação do aço importado no mercado brasileiro ultrapassou 23% no primeiro semestre de 2025, atingindo 26% no segundo trimestre — um recorde histórico. A consequência foi imediata: a Gerdau já demitiu cerca de 1.500 funcionários desde janeiro, principalmente nas unidades de Pindamonhangaba e Mogi das Cruzes, em São Paulo.

Essas dispensas são o prenúncio de um cenário mais grave, segundo o CEO. Caso o governo federal não adote medidas adicionais além das cotas de importação e tarifas anunciadas em julho, usinas poderão ser paralisadas e linhas de produção suspensas.

Investimentos seguirão fora do Brasil

Ao mesmo tempo em que reduz seus planos no Brasil, a Gerdau confirma que seguirá ampliando sua presença no exterior, especialmente nos Estados Unidos, onde atua com operações siderúrgicas de grande porte.

O motivo? Segundo Werneck, o ambiente de negócios norte-americano é mais previsível, transparente e com políticas claras de incentivo à indústria nacional. A chamada “reindustrialização americana” tem estimulado empresas do setor a investir pesadamente em modernização, produtividade e tecnologia.

“Estamos diante de uma competição internacional extremamente desleal. Os países que mais exportam aço hoje não jogam com as mesmas regras que o Brasil. A falta de ação nos obriga a pensar em outras geografias para crescer”, disse o executivo em entrevista repercutida pelo NeoFeed.

Além disso, a companhia alerta para a perda de arrecadação que essa invasão de aço estrangeiro provoca no país. Estimativas internas indicam que o setor pode deixar de gerar entre R$ 6 e R$ 7 bilhões em tributos por ano caso o ritmo atual se mantenha — valor que afeta diretamente estados e municípios.

Governo federal e indústria: impasse sem solução

As críticas de Werneck e de outras lideranças da siderurgia recaem diretamente sobre a postura considerada tímida do governo Lula. Embora o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) tenha anunciado medidas de controle, como limites para a entrada de aço importado e sobretaxas em algumas categorias, a percepção entre os industriais é de que elas chegaram tarde demais — e em volume insuficiente.

O setor reivindica, há mais de um ano, uma política industrial estruturada, com regras claras, previsibilidade e incentivos para modernização tecnológica e descarbonização das plantas fabris. Até o momento, no entanto, essas pautas não avançaram com a velocidade esperada.

Diante da frustração, a Gerdau já confirmou que fará um anúncio oficial sobre os cortes de investimentos em seu Investor Day de outubro, após concluir análises internas durante os meses de agosto e setembro.

“Não se trata de uma retaliação, mas de uma consequência. A falta de proteção compromete nossa competitividade. A gente precisa de um ambiente minimamente equilibrado para continuar investindo aqui”, reforçou Werneck.

Uma decisão que ecoa além da siderurgia

A medida anunciada pela Gerdau levanta um alerta maior para a economia brasileira. A empresa é apenas uma entre várias gigantes do setor industrial que enfrentam dificuldades diante do avanço de importações agressivas, câmbio instável e incertezas tributárias.

Além da siderurgia, setores como calçados, automotivo, química e máquinas também vêm relatando perdas de mercado e fechamentos de fábricas. O impacto disso no emprego, na arrecadação e no crescimento do país tende a ser significativo se o governo não reagir com celeridade.

Para especialistas como o economista Paulo Gala, da FGV, a decisão da Gerdau é um sinal claro de que a indústria brasileira está em risco real de desindustrialização.

“Estamos vendo um movimento de saída lenta e gradual de grandes empresas industriais. É o oposto da neoindustrialização que o governo diz defender”, afirmou Gala ao Estadão.

A expectativa agora recai sobre a resposta do Planalto e do Ministério da Fazenda. Caso nenhuma medida adicional seja adotada, o recado da Gerdau pode se transformar em tendência — e a indústria nacional poderá pagar um preço alto por essa omissão.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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