Plano de investimentos da Gerdau desmorona no Brasil: usinas ameaçam fechar e demissões se multiplicam sem resposta de Brasília
A Gerdau, maior produtora de aços longos das Américas, confirmou nesta semana que irá reduzir seus investimentos no Brasil a partir de 2026. A decisão ocorre em meio a um cenário de insatisfação crescente com o avanço do aço importado — especialmente da China — e com o que a empresa classifica como falta de medidas eficazes do governo federal para proteger a indústria nacional.
Apesar de manter o plano de aportes de R$ 6 bilhões em 2025, sendo R$ 4 bilhões destinados às operações brasileiras, a companhia já antecipou que irá rever esse cenário nos próximos anos. A confirmação veio diretamente do CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, durante apresentação dos resultados trimestrais.
“Estamos estudando, para os próximos meses, uma revisão de aportes industriais no Brasil. O ambiente competitivo está se deteriorando. E sem uma proteção mais eficaz, os investimentos precisarão ser realocados”, afirmou Werneck durante conferência com investidores, conforme relatado pelo Terra.
— ARTIGO CONTINUA ABAIXO —Veja também
Leilão online reúne 39 imóveis em 16 cidades com lances que começam em apenas R$ 70 mil
![]()
Tarifaço de Trump gera risco para 140 mil empregos no sul do Brasil
![]()
Weg aposta R$ 160 milhões no ES. O que está por trás desse investimento milionário?
![]()
Entrou em vigor nesse mês: Estado aprova salário mínimo regional até R$ 2.267, um dos maiores do Brasil
![]()
Pressão do aço estrangeiro e demissões no país
A decisão ocorre após uma série de alertas que a Gerdau e o setor siderúrgico vêm fazendo ao governo desde o início de 2024. A principal reclamação é que o mercado nacional está sendo invadido por aço importado a preços predatórios, com destaque para o produto chinês, que se beneficia de subsídios e uma estrutura industrial muito mais barata.
De acordo com dados da Instituto Aço Brasil, a participação do aço importado no mercado brasileiro ultrapassou 23% no primeiro semestre de 2025, atingindo 26% no segundo trimestre — um recorde histórico. A consequência foi imediata: a Gerdau já demitiu cerca de 1.500 funcionários desde janeiro, principalmente nas unidades de Pindamonhangaba e Mogi das Cruzes, em São Paulo.
Essas dispensas são o prenúncio de um cenário mais grave, segundo o CEO. Caso o governo federal não adote medidas adicionais além das cotas de importação e tarifas anunciadas em julho, usinas poderão ser paralisadas e linhas de produção suspensas.
Investimentos seguirão fora do Brasil
Ao mesmo tempo em que reduz seus planos no Brasil, a Gerdau confirma que seguirá ampliando sua presença no exterior, especialmente nos Estados Unidos, onde atua com operações siderúrgicas de grande porte.
O motivo? Segundo Werneck, o ambiente de negócios norte-americano é mais previsível, transparente e com políticas claras de incentivo à indústria nacional. A chamada “reindustrialização americana” tem estimulado empresas do setor a investir pesadamente em modernização, produtividade e tecnologia.
“Estamos diante de uma competição internacional extremamente desleal. Os países que mais exportam aço hoje não jogam com as mesmas regras que o Brasil. A falta de ação nos obriga a pensar em outras geografias para crescer”, disse o executivo em entrevista repercutida pelo NeoFeed.
Além disso, a companhia alerta para a perda de arrecadação que essa invasão de aço estrangeiro provoca no país. Estimativas internas indicam que o setor pode deixar de gerar entre R$ 6 e R$ 7 bilhões em tributos por ano caso o ritmo atual se mantenha — valor que afeta diretamente estados e municípios.
Governo federal e indústria: impasse sem solução
As críticas de Werneck e de outras lideranças da siderurgia recaem diretamente sobre a postura considerada tímida do governo Lula. Embora o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) tenha anunciado medidas de controle, como limites para a entrada de aço importado e sobretaxas em algumas categorias, a percepção entre os industriais é de que elas chegaram tarde demais — e em volume insuficiente.
O setor reivindica, há mais de um ano, uma política industrial estruturada, com regras claras, previsibilidade e incentivos para modernização tecnológica e descarbonização das plantas fabris. Até o momento, no entanto, essas pautas não avançaram com a velocidade esperada.
Diante da frustração, a Gerdau já confirmou que fará um anúncio oficial sobre os cortes de investimentos em seu Investor Day de outubro, após concluir análises internas durante os meses de agosto e setembro.
“Não se trata de uma retaliação, mas de uma consequência. A falta de proteção compromete nossa competitividade. A gente precisa de um ambiente minimamente equilibrado para continuar investindo aqui”, reforçou Werneck.
Uma decisão que ecoa além da siderurgia
A medida anunciada pela Gerdau levanta um alerta maior para a economia brasileira. A empresa é apenas uma entre várias gigantes do setor industrial que enfrentam dificuldades diante do avanço de importações agressivas, câmbio instável e incertezas tributárias.
Além da siderurgia, setores como calçados, automotivo, química e máquinas também vêm relatando perdas de mercado e fechamentos de fábricas. O impacto disso no emprego, na arrecadação e no crescimento do país tende a ser significativo se o governo não reagir com celeridade.
Para especialistas como o economista Paulo Gala, da FGV, a decisão da Gerdau é um sinal claro de que a indústria brasileira está em risco real de desindustrialização.
“Estamos vendo um movimento de saída lenta e gradual de grandes empresas industriais. É o oposto da neoindustrialização que o governo diz defender”, afirmou Gala ao Estadão.
A expectativa agora recai sobre a resposta do Planalto e do Ministério da Fazenda. Caso nenhuma medida adicional seja adotada, o recado da Gerdau pode se transformar em tendência — e a indústria nacional poderá pagar um preço alto por essa omissão.