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Geração Z bebe cada vez menos — o resultado? Indústria cervejeira da Alemanha enfrenta crise e fábricas centenárias estão sendo fechadas

Publicado em 19/08/2025 às 11:13
Cerveja, Indústria cervejeira, Alemanha
Foto: Kim Sun Joo / República da Coreia, via Wikimedia Commons (CC BY-SA 2.0)
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Tradição centenária não resiste à transformação cultural: inflação, hábitos saudáveis e preferência por cervejas sem álcool ameaçam indústria cervejeira alemã

Ao longo de seus 172 anos, a cervejaria Lang-Bräu sobreviveu a duas guerras mundiais e à tensão da Cortina de Ferro. Localizada no norte da Baviera, a empresa parecia sólida, mas não resistiu aos desafios financeiros recentes.

Com custos de 12 milhões de euros (R$ 75,8 milhões) para modernização, os proprietários decidiram fechar as portas no último verão europeu.

Richard Hopf, que liderava o negócio familiar, descreveu o cenário como insustentável. “As cervejarias são capazes de um sofrimento incrível. Mas quando as vendas caem e os custos continuam subindo, sobra pouco espaço para avaliações de longo prazo”, afirmou.

O caso da Lang-Bräu ilustra uma crise que atinge todo o setor cervejeiro na Alemanha. O peso da inflação, somado aos preços elevados de energia, afeta diretamente as margens das empresas. O mais importante, porém, é que os hábitos de consumo também mudaram.

Jovens e a relação com o álcool

A geração Z, composta por pessoas nascidas entre 1997 e 2012, enxerga a cerveja de forma diferente. Para muitos, não é mais um hábito cotidiano, mas algo raro e até desnecessário. Quando consomem, grande parte opta pelas versões sem álcool.

Na prática, essa transformação reduziu significativamente o mercado. O consumo médio caiu para 88 litros por pessoa ao ano, quase 30% a menos que no início dos anos 2000.

Além disso, os números oficiais mostram uma queda recorde de 6,3% na produção apenas no primeiro semestre de 2025.

É francamente preocupante”, declarou Holger Eichele, diretor da associação de cervejeiros alemães. Para ele, até fabricantes tradicionais correm o risco de desaparecer.

Menos renda e mais saúde

O fenômeno não se restringe à Alemanha. Jovens de outros países da Europa e dos Estados Unidos também estão bebendo menos.

Existem várias razões para isso: renda mais baixa, movimentos de bem-estar e a busca por um estilo de vida saudável.

Carla Schüßler, estudante, sintetizou essa visão: “Está claro para todos que o álcool não é bom para o corpo”.

O fator estético também pesa. Cerveja é calórica, e influenciadores fitness frequentemente associam o consumo a dificuldades em manter o corpo em forma.

É simplesmente difícil melhorar seu nível de condicionamento físico enquanto bebe”, comentou Luke Heiler, de 22 anos, que trabalha em um laboratório químico e pratica exercícios regularmente.

Adaptação e fechamento

Com cerca de 1.500 cervejarias espalhadas pelo país, muitas precisaram se reinventar. As que resistiram ampliaram o cardápio, incluindo radlers — misturas de cerveja com refrigerante — e bebidas gaseificadas à base de suco.

Campanhas publicitárias passaram a enaltecer a diversão sem álcool, um contraste com a tradição de festivais como a Oktoberfest.

Mesmo assim, 52 cervejarias fecharam entre 2023 e 2024, a maior redução em três décadas. Para muitas, como a Lang-Bräu, os custos de adaptação se mostraram altos demais.

O avanço das cervejas sem álcool

Apesar de 9 em cada 10 cervejas vendidas ainda conterem álcool, a produção das versões sem álcool quase dobrou em dez anos. Hoje, há mais de 800 variedades disponíveis no mercado alemão.

Para grandes fabricantes, esse nicho se tornou prioridade. “Não acreditamos que nossa cerveja principal, que contém álcool, alcançará crescimento significativo nas próximas décadas”, reconheceu Peter Lemm, porta-voz da Krombacher. “Claramente, a área de crescimento é a cerveja com baixo teor ou sem álcool”.

O desafio, no entanto, é replicar o sabor da versão tradicional. O processo mais sofisticado envolve a fabricação completa da cerveja e, depois, a remoção do álcool.

Esse método demanda equipamentos caros, exigindo investimentos que podem ultrapassar 1 milhão de euros (R$ 6,32 milhões).

Desvantagem das pequenas cervejarias

Nem todas conseguem investir nessa tecnologia. As pequenas recorrem a métodos mais simples, como interromper a fermentação antes do fim. Embora barato, o resultado geralmente é mais doce, o que afasta parte dos consumidores.

Thomas Becker, professor em Munique especializado em fabricação de cerveja, explica: “Pequenas cervejarias geralmente não podem pagar para retirar o álcool depois”. Isso as coloca em desvantagem em um mercado saturado, dominado por grandes empresas que conseguem lançar novos produtos rapidamente e comprar marcas menores.

Fim inevitável para algumas

No caso da Lang-Bräu, a aposta em versões sem álcool nunca foi tentada. Richard Hopf acredita que pouco mudaria. Com tantas opções já disponíveis, a entrada tardia não teria evitado o desfecho.

Esse retrato mostra como tradição e história não garantem sobrevivência em um setor em transformação.

A cerveja da Alemanha, símbolo cultural de séculos, enfrenta agora um desafio diferente: conquistar uma geração que prefere saúde, bem-estar e alternativas sem álcool.

A crise não se resume a números de produção ou a balanços financeiros. Ela reflete uma mudança cultural profunda, que redefine a própria relação da Alemanha com sua bebida mais tradicional.

E, diante desse cenário, nem mesmo marcas centenárias estão a salvo.

Com informações de Folha de São Paulo.

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Romário Pereira de Carvalho

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