Geração eólica e solar registra queda de 26,4% em agosto, evidenciando desafios estruturais e operacionais no setor de energias renováveis no Brasil.
A geração eólica e solar no Brasil enfrenta desafios significativos nos últimos anos. No entanto, o setor de energias renováveis apresenta crescimento expressivo, o que mostra seu potencial estratégico.
Em agosto, o Itaú BBA e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) registraram cortes na produção dessas fontes de 26,4%. Além disso, esse número representa um aumento de 85% em relação ao mesmo período do ano anterior, evidenciando, portanto, um estresse operacional crescente na matriz energética do país.
Historicamente, o Brasil dependeu fortemente de hidrelétricas para atender à demanda por energia elétrica. Porém, nos últimos vinte anos, o país expandiu rapidamente as fontes eólica e solar, impulsionado pelo aumento da demanda energética e, consequentemente, pela necessidade de diversificação da matriz elétrica.
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As políticas de incentivo, como leilões de energia renovável e financiamentos para instalação de painéis solares, tornaram essas fontes mais acessíveis e competitivas.
Além disso, a expansão da geração eólica e solar trouxe grandes avanços, mas também evidenciou a necessidade de aprimorar a infraestrutura de transmissão e a gestão da oferta e demanda. Por exemplo, o fenômeno conhecido como curtailment — que reduz intencionalmente a produção de energia para equilibrar oferta e demanda em tempo real — tem se tornado uma preocupação constante.
Portanto, esse ajuste evita sobrecarga no sistema elétrico, mas, ao mesmo tempo, impacta diretamente a eficiência das fontes renováveis.
Em agosto, a geração excessiva de energia solar durante o Dia dos Pais, em 10 de agosto, provocou cortes significativos entre 11h e 14h, com picos de interrupção chegando a 93% da produção potencial. Além disso, períodos prolongados de nuvens ou ventos fracos também podem reduzir a geração eólica e solar, mostrando assim como a variabilidade natural dessas fontes exige planejamento detalhado.
Impactos da queda na produção e desafios estruturais
As usinas solares foram as mais afetadas, com uma redução de 37,9% na produção. Por outro lado, as eólicas sofreram cortes de 23,4%, refletindo a maior flexibilidade dessa fonte em comparação à solar, mas também evidenciando as limitações estruturais do setor elétrico brasileiro.
Além disso, a concentração de usinas em determinadas regiões e a falta de linhas de transmissão adequadas impedem que toda a energia produzida chegue aos centros consumidores. Isso gera perdas significativas. Ademais, os investidores e empresas do setor enfrentam impactos econômicos importantes.
Consequentemente, muitos empresários que apostaram na expansão da geração eólica e solar lutam para manter a produção e recuperar os investimentos. Os cortes reduzem a receita potencial e aumentam os custos operacionais.
Por isso, o cenário reforça a urgência de investir em infraestrutura de transmissão, armazenamento de energia e tecnologias de gestão de demanda.
De fato, a evolução da geração eólica e solar no Brasil acompanha tendências globais. Nos últimos dez anos, o mundo vem registrando uma transição gradual para fontes renováveis, motivada pela preocupação com as mudanças climáticas e redução de emissões de carbono.
Países como Alemanha, Estados Unidos e China investem pesadamente em eólica e solar, combinando expansão da capacidade instalada com desenvolvimento de redes inteligentes e sistemas de armazenamento de energia.
No entanto, o Brasil, apesar de ter enorme potencial, ainda precisa superar desafios para alcançar o mesmo nível de eficiência e integração das fontes renováveis. Isso ocorre principalmente devido à infraestrutura de transmissão insuficiente, à falta de integração tecnológica e à necessidade de políticas públicas abrangentes.
Infraestrutura e integração das energias renováveis
A infraestrutura de transmissão não acompanhou a velocidade da expansão da geração eólica e solar, representando um dos principais obstáculos. Ademais, muitas usinas estão localizadas longe dos grandes centros urbanos, o que exige linhas de transmissão longas e sofisticadas.
Portanto, a falta de investimentos nessa área gera gargalos que obrigam o ONS a reduzir a produção, mesmo quando a energia poderia ser utilizada.
Esse problema histórico se deve à priorização das hidrelétricas e à atenção limitada às fontes distribuídas, que cresceram rapidamente apenas na última década.
Outro ponto crítico é a gestão da oferta e demanda. A variabilidade natural da produção eólica e solar exige sistemas inteligentes de previsão e controle.
No passado, a matriz elétrica brasileira estruturou-se para lidar com hidrelétricas, cujas usinas regulam o fluxo de água e, consequentemente, a produção de energia.
No entanto, com a chegada das fontes intermitentes, o setor precisou adaptar a gestão para evitar sobrecargas, quedas de tensão e cortes no fornecimento.
Em agosto, os dados mostram que ainda há muito a evoluir, pois picos de geração solar podem reduzir quase toda a produção potencial.
Portanto, investir em tecnologias de armazenamento, como baterias de grande escala, surge como solução essencial para diminuir perdas e aumentar a confiabilidade do sistema elétrico.
Perspectivas e potencial de expansão
O aumento do curtailment evidencia a importância de políticas públicas adequadas. Incentivos isolados para instalação de painéis solares e parques eólicos não funcionam se não houver planejamento integrado da matriz energética.
Assim, é preciso combinar expansão da capacidade de geração com investimentos em transmissão, armazenamento, regulamentação e integração ao sistema nacional.
Essa abordagem garante que a energia produzida seja aproveitada plenamente, aumentando a eficiência e reduzindo desperdícios.
Apesar dos desafios, o futuro da geração eólica e solar no Brasil permanece promissor. O país possui condições naturais favoráveis: ventos constantes em diversas regiões do Nordeste e Sudeste e alta incidência solar em quase todo o território nacional.
Esses fatores tornam viável a expansão sustentável dessas fontes, desde que o setor acompanhe melhorias estruturais e tecnológicas.
Além disso, a experiência de países que investiram de forma coordenada em redes inteligentes e sistemas de armazenamento mostra que é possível integrar grandes volumes de energia renovável sem comprometer a estabilidade do sistema elétrico.
Ademais, a conscientização ambiental crescente e o interesse da sociedade por energia limpa podem impulsionar ainda mais os investimentos no setor.
Portanto, a queda de 26,4% na geração eólica e solar em agosto evidencia problemas históricos e estruturais do setor elétrico brasileiro.
A necessidade de ajustes operacionais, infraestrutura deficiente e desafios da integração de fontes intermitentes mostra que a expansão das energias renováveis precisa vir acompanhada de investimentos robustos e políticas públicas eficientes.
Dessa forma, o Brasil possui potencial para se tornar uma referência global em energias limpas. No entanto, isso depende de uma gestão estratégica da geração eólica e solar, garantindo que o crescimento sustentável seja efetivo e duradouro.