Fraudes em postos de combustível vão muito além da gasolina adulterada e incluem práticas sofisticadas como bombas controladas por aplicativo, postos que imitam grandes marcas e até óleo lubrificante reutilizado. Entenda os principais golpes e como se proteger.
Motoristas vêm enfrentando fraudes que vão além da velha gasolina batizada e tornam o abastecimento um risco mecânico e financeiro.
O Instituto Combustível Legal (ICL) relata que seu programa de fiscalização com “cliente misterioso” percorreu milhares de postos em 2025 e gerou centenas de denúncias.
De acordo com o site Autoesporte, em matéria publicada nesta terça-feira (26), práticas como adulteração por solventes e metanol, bombas manipuladas por controle remoto, rótulos falsos e “postos clones” já se espalham pelo país e impactam do consumo extra à quebra de motor.
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A seguir, o que muda na prática, como identificar sinais de alerta e quais cuidados reduzem a chance de prejuízo.
Fraudes em alta nos postos
De forma discreta, equipes do ICL abastecem como clientes comuns e coletam amostras para análise. Em 2025, o método já motivou grande volume de autuações e alertas às autoridades.
“Já constatamos até 80% de etanol misturado na gasolina, muito acima do novo limite de 30%”, afirma Faccio.
O órgão também mapeia irregularidades de preço, maquiagem de bandeira e fraudes volumétricas em bombas que, à primeira vista, parecem íntegras.
Gasolina adulterada: etanol, solventes e metanol
A mistura indevida é o golpe mais conhecido, mas ganhou sofisticação. Em carros flex, o veículo até roda, porém com eficiência comprometida e maior consumo.
Em modelos somente a gasolina, a adulteração pode causar falhas graves no motor. Além do excesso de etanol, há registros de solventes e do retorno do metanol em regiões do interior paulista.
O metanol é corrosivo e tóxico; segundo Faccio, frentistas e mecânicos ficam expostos, e o contato com os olhos pode causar danos severos.
Ainda há a prática de trocar produtos na bomba para cobrar mais: gasolina comum vendida como aditivada, e aditivada como se fosse premium. Sempre que possível, priorize estabelecimentos com procedência clara e reputação conhecida.
O Autoesporte destacou que fraudes desse tipo voltaram a crescer especialmente em cidades do interior, onde a fiscalização enfrenta mais dificuldades.
Etanol com água no abastecimento
Outra frente recorrente é a adulteração do etanol com água. O que antes era feito no tanque subterrâneo hoje, segundo o ICL, também pode ocorrer no momento do abastecimento, com água injetada diretamente no veículo.
Em consequência, a perda de desempenho aparece rápido, e componentes como bicos injetores podem sofrer.
Evitar o problema passa por abastecer onde você já confia ou tem indicação confiável e, preferencialmente, com bandeira oficial de distribuidora.
Fraude volumétrica: a “bomba burra”
Quando o mostrador indica um volume que não entrou de fato no tanque, há fraude volumétrica.
O ICL identifica penalidades expressivas nesse tipo de irregularidade e relata a existência de “bombas chipadas” que podem ser ativadas ou desativadas conforme o risco de fiscalização.
“É possível controlar o acionamento por controle remoto e até aplicativo”, diz Faccio. Para se proteger, o consumidor pode adotar um hábito simples: peça por litros, não por valor.
Em vez de “R$ 150 de gasolina”, solicite “20 litros”. É a referência usada em fiscalizações e ajuda a confrontar números incompatíveis com a capacidade do tanque.
“Postos clones” e preços muito abaixo da média
A busca pelo menor preço é combustível para golpes. Faccio alerta que, se a região pratica um valor e um posto oferece algo muito abaixo da média, o risco de fraude cresce. “Neste mercado não existe mágica”, resume.
Para atrair motoristas em poucos segundos, alguns estabelecimentos imitam cores, logotipos e uniformes de redes conhecidas, dando a impressão de bandeira oficial quando não há vínculo algum.
O caso do posto 13R, que reproduzia a identidade visual de uma marca famosa, é citado pelo ICL como exemplo de lesão ao consumidor.
Ao se deparar com fachadas semelhantes às de marcas tradicionais, verifique documentos de identificação no caixa, busque notas fiscais condizentes e desconfie de descontos agressivos sem explicação plausível.
Segundo levantamento mencionado pelo Autoesporte, o tempo médio de decisão para o motorista escolher entrar em um posto é de apenas sete segundos, o que facilita o sucesso de imitações visuais.
Pagamento apenas em dinheiro ou Pix
Outro sinal de alerta é o posto que, em determinados horários, aceita apenas dinheiro ou Pix.
“Não abasteça em postos que só aceitam dinheiro ou transferência a partir das 20h de sexta-feira. Você estará entregando dinheiro para o bandido”, afirma Faccio.
Segundo o ICL, esses períodos coincidem com janelas de menor fiscalização, exploradas por organizações criminosas para lavagem de dinheiro.
Nessas situações, a qualidade do combustível tende a ser inferior, com reflexos imediatos em desempenho e, a médio prazo, em manutenção.
Óleo lubrificante irregular e falsificado
O aviso de “nível baixo” seguido da oferta para completar pode esconder outra armadilha.
A pirataria de óleos cresce, e há relatos de produto fora da especificação indicada no rótulo, fornecido por revendedores não autorizados, e até óleo reutilizado, retirado de outro carro e devolvido ao frasco.
Golpistas exploram a falta de familiaridade de parte dos motoristas com o manual do veículo.
O caminho mais seguro é conhecer exatamente a especificação recomendada pelo fabricante e optar por lubrificantes com selo da ANP.
Em qualquer troca, exija nota fiscal do serviço e do produto para resguardar seus direitos caso surjam problemas posteriores.
Como reduzir riscos no abastecimento
Ninguém precisa ser químico para evitar prejuízo. Há medidas práticas que diminuem a exposição.
Comece por reputação: pergunte a amigos, familiares e vizinhos, observe avaliações de consumidores e priorize locais conhecidos.
Em seguida, padronize a forma de abastecer, pedindo por litros e acompanhando o visor desde o zero.
Ao notar comportamento estranho do carro logo após o abastecimento, guarde o comprovante, anote data, hora e quilometragem, e procure um mecânico de confiança para diagnóstico.
Enquanto isso, evite continuar rodando com o mesmo combustível para não agravar um dano em curso.
Onde denunciar irregularidades
Irregularidades não são inevitáveis. Em caso de suspeita, o consumidor pode acionar os canais de denúncia da ANP e registrar ocorrência no portal do ICL.
Quanto mais informações, melhor: endereço do posto, bandeira declarada, horário do abastecimento, fotos do painel da bomba e a nota fiscal ajudam a instruir a fiscalização.
Ao reportar, você protege não só o seu bolso, mas reduz o espaço de atuação de redes golpistas que dependem do volume para se manter ativas.
Sinais para identificar postos suspeitos
Alguns indícios ajudam a decidir se vale encostar. Desconfie de descontos muito agressivos sem justificativa, de bandeiras que parecem “quase iguais” às originais e de políticas de pagamento restritas em horários específicos.
Atenção também a bombas que não são zeradas à sua vista, a frentistas que se opõem ao pedido por litros e a ofertas insistentes de troca de óleo com produto sem comprovação de origem.
Na dúvida, opte por adiar o abastecimento até chegar a um posto de confiança e, se for o caso, registre a ocorrência.
Por fim, informação é o melhor antídoto. Conhecer a capacidade do seu tanque, a especificação do óleo e os preços médios da sua região dá base para identificar distorções.
O ICL reforça que procedência e comprovante são suas principais garantias. E você, que sinais costuma observar antes de escolher onde abastecer?