Fungo associado à “maldição do faraó” revela moléculas com potencial para tratar o câncer, segundo estudo da Universidade da Pensilvânia
Em 1922, o arqueólogo Howard Carter fez história ao abrir o túmulo do faraó Tutancâmon, no Egito. Ao espiar por uma pequena abertura, disse ver “coisas maravilhosas”. Mas logo após a descoberta, uma sequência de mortes misteriosas entre os envolvidos nas escavações deu origem à famosa “maldição do faraó”.
Entre os mortos estava o financiador da expedição, Lord Carnarvon, que faleceu poucos meses depois. Outros membros da equipe também morreram nos anos seguintes. Durante muito tempo, acreditava-se que forças sobrenaturais estariam envolvidas nessas mortes.
O mais importante é que a ciência moderna trouxe uma explicação mais plausível. Um fungo tóxico chamado Aspergillus flavus foi encontrado em diversas tumbas antigas, incluindo a de Tutancâmon.
-
Árvores solares prometem gerar energia limpa sem desmatar e podem substituir grandes usinas de painéis planos
-
Seu Gmail pode estar em risco? Vazamento atinge 2,5 bilhões de contas e dá origem a onda de golpes por telefone
-
‘Alexa chinesa’ da Xiaomi chega com câmera 3K, rotação 360° e IA que entende múltiplos comandos simultâneos; veja o que ela oferece de diferente
-
Estes são os 5 aparelhos de ar-condicionado que mais apresentaram defeitos no Brasil, segundo Procon e redes de manutenção, com consertos que chegam a R$ 3,2 mil por unidade
Esse fungo pode sobreviver por milhares de anos em locais selados e libera esporos perigosos quando perturbado.
Esses esporos causam infecções respiratórias graves, principalmente em pessoas com imunidade baixa. A mesma situação ocorreu na década de 1970, na Polônia, quando vários cientistas morreram após entrarem na tumba de Casimiro IV. Novamente, o Aspergillus flavus foi identificado como possível causa.
Mas agora, cem anos depois da “maldição”, esse fungo está no centro de uma descoberta científica com potencial de salvar vidas.
Uma nova arma contra o câncer
Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia estudaram o Aspergillus flavus em busca de substâncias medicinais.
Descobriram que ele produz um tipo especial de molécula chamada RiPP — sigla em inglês para “peptídeos sintetizados ribossomicamente e modificados pós-traducionalmente”.
Essas moléculas são criadas pelas células e passam por modificações químicas para ganhar funções especiais. Milhares de RiPPs já foram encontrados em bactérias, mas poucos em fungos — até agora.
O grupo analisou várias cepas diferentes de Aspergillus e encontrou pistas químicas indicando a presença dos RiPPs. O Aspergillus flavus se destacou entre os demais.
Ao desativar certos genes do fungo, os cientistas perceberam que os compostos desejados sumiam. Isso confirmou que o fungo realmente era a fonte dessas moléculas.
Nascimento das asperigimicinas
A equipe enfrentou dificuldades para purificar os compostos, mas conseguiu isolar quatro RiPPs únicos.
Eles apresentavam uma estrutura química formada por anéis entrelaçados — algo nunca visto antes. Os cientistas batizaram essas novas moléculas de “asperigimicinas”.
Essas moléculas foram testadas contra células cancerosas humanas. Em alguns casos, conseguiram impedir o crescimento das células.
Isso indica que as asperigimicinas podem ter potencial para se tornarem um tratamento contra certos tipos de câncer.
Outro passo importante foi descobrir como essas moléculas entram nas células. Muitas substâncias promissoras falham por não conseguirem penetrar nos tecidos.
No caso das asperigimicinas, a entrada foi facilitada com a ajuda de certas gorduras. Isso pode ajudar na criação de novos remédios mais eficazes.
Interrupção do ciclo celular
Os testes mostraram também que as asperigimicinas bloqueiam a divisão celular. Isso é relevante porque o câncer se espalha justamente por meio da divisão descontrolada das células.
As moléculas atingem os microtúbulos, estruturas internas que são essenciais nesse processo de multiplicação.
O mais importante é que esse bloqueio parece atingir apenas certos tipos de células. Isso pode reduzir os efeitos colaterais, que são um problema comum em tratamentos tradicionais contra o câncer.
Potencial ainda maior
Apesar do avanço, os cientistas acreditam que essa é só a ponta do iceberg. Eles já encontraram genes parecidos em outros fungos. Isso indica que muitos outros RiPPs com atividades biológicas fortes ainda podem ser descobertos.
O próximo passo será testar as asperigimicinas em outros modelos, antes de avançar para testes em humanos.
Caso tenham sucesso, essas moléculas poderão se juntar à lista de medicamentos derivados de fungos — como a penicilina, que revolucionou a medicina.
De maldição à cura
Durante séculos, o Aspergillus flavus foi temido por seu efeito mortal em tumbas antigas. Agora, esse mesmo fungo se mostra promissor como fonte de cura.
A transformação de um organismo temido em aliado da medicina mostra o valor da pesquisa científica.
A descoberta reforça o quanto a natureza ainda tem a oferecer. Muitas substâncias com poder terapêutico permanecem escondidas em ambientes inexplorados.
A tarefa dos cientistas é buscar essas pistas e transformá-las em soluções para doenças que afetam milhões de pessoas.
O fungo ligado à maldição do faraó agora oferece esperança para pacientes com câncer. Uma ironia da história — e uma vitória da ciência sobre o mistério.
Com informações de Terra.