Com um prejuízo diário de R$ 1,5 milhão e enfrentando o alto custo do “Custo Brasil”, a Ford encerrou suas operações no país. No Irmãos Dias Podcast, o especialista Boris Feldman revela os bastidores dessa decisão.
Nos últimos anos, o mercado automotivo brasileiro presenciou mudanças significativas, e o encerramento das operações da Ford no Brasil em 2021 foi um dos acontecimentos mais impactantes.
Afinal, o que levou essa gigante do setor automotivo, com décadas de história no país, a tomar uma decisão tão drástica? Apesar das especulações, as razões vão muito além de um simples desejo de reestruturação financeira.
Segundo especialistas, o Brasil enfrenta um cenário repleto de desafios econômicos e estruturais que foram decisivos para que a montadora fechasse suas portas, impactando milhares de empregos e consumidores.
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No segundo episódio do Irmãos Dias Podcast, o jornalista e especialista no mercado automotivo Boris Feldman trouxe detalhes sobre as razões por trás dessa decisão e os impactos de longo prazo que ela deve causar.
A Ford acumulava um prejuízo diário astronômico na América do Sul, especialmente no Brasil.
De acordo com Feldman, “a montadora perdia cerca de R$ 1,5 milhão por dia na região, principalmente devido a uma combinação de má administração, altos impostos e elevados custos operacionais.” Vamos entender os principais pontos apresentados pelo jornalista.
Prejuízo constante e custos altos
Um dos fatores decisivos, conforme explicou Boris Feldman, foi o prejuízo operacional diário enfrentado pela Ford na América do Sul.
Segundo ele, as operações na região se mostraram insustentáveis.
“A Ford perdia R$ 1,5 milhão por dia na América do Sul”, enfatizou Feldman, destacando que a montadora não conseguiu administrar bem seus negócios na região.
Esses custos não estavam relacionados apenas aos desafios de mercado, mas também aos impostos elevados no Brasil, que tornam a produção de veículos consideravelmente mais cara do que em outros países.
Como relatou Feldman, “quando se paga um real no preço de um carro, entre 40% e 50% deste valor vai diretamente para o governo, em forma de impostos”.
“Custo Brasil” e as dificuldades de operação
Outro ponto levantado por Feldman no podcast foi o “Custo Brasil”, um termo utilizado para descrever o conjunto de fatores que encarecem a produção e o funcionamento das empresas no país.
Esses obstáculos incluem desde a elevada carga tributária até os custos logísticos de transporte, que afetam desde a importação de peças até o escoamento dos produtos finais.
Segundo o jornalista, “o custo para trazer peças importadas é altíssimo, e o transporte nas estradas brasileiras, muitas vezes esburacadas, encarece ainda mais o frete”.
Essa situação faz com que o Brasil perca competitividade no mercado automotivo global, o que coloca as montadoras que operam no país em desvantagem.
“Diferente dos Estados Unidos, onde a carga tributária sobre veículos é de cerca de 7% a 8%, no Brasil ela pode chegar a 45%”, ressaltou Feldman.
Essas diferenças impactam diretamente na capacidade de empresas como a Ford de manter uma margem de lucro competitiva.
A dependência do mercado chinês e argentino
Com o fechamento das fábricas da Ford no Brasil, a montadora passou a depender de outros países para abastecer o mercado nacional.
Hoje, alguns dos modelos mais populares da marca, como o Ford Territory e o Ranger, são importados da Argentina e da China.
Segundo Feldman, “o Territory é um SUV bonito e bem avaliado, mas vem diretamente da China”.
Essa dependência aumenta os custos e limita as opções para o consumidor brasileiro, que agora depende do câmbio e da logística internacional para adquirir um veículo da Ford.
Além disso, como apontado pelo jornalista, o mercado chinês está cada vez mais presente e influente no setor automotivo brasileiro.
A China, que é a maior fabricante mundial de veículos elétricos, também tem investido em modelos híbridos e elétricos.
Para Feldman, “os carros elétricos chineses já dominam países como a Noruega, e isso reflete a qualidade e competitividade desses veículos”.
Esse avanço cria um cenário em que a produção nacional enfrenta desafios adicionais.
Expansão dos elétricos e o futuro incerto das montadoras
O mercado de veículos elétricos está em crescimento global, e a China se destaca como pioneira no setor.
Conforme explicou Feldman, até mesmo o CEO da Ford, Jim Farley, reconheceu a qualidade superior dos elétricos chineses em relação aos norte-americanos.
Durante uma visita à China, Farley testou alguns desses modelos e declarou que “os chineses são melhores do que os nossos” em referência aos veículos elétricos.
Esse reconhecimento público sinaliza a pressão que as montadoras tradicionais, como Ford e Volkswagen, enfrentam para se manterem competitivas.
“A Volkswagen, por exemplo, está correndo atrás do lucro ao formar parcerias com empresas chinesas e americanas para aprimorar suas tecnologias de veículos elétricos”, comentou Feldman, acrescentando que o setor automotivo vive uma mudança sem precedentes.
As tentativas de inovação da General Motors no Brasil
A General Motors (GM) também passou por dificuldades no Brasil, especialmente no segmento de elétricos.
Conforme detalhou Boris Feldman, a GM não obteve sucesso com modelos como o Chevrolet Bolt, mas agora está apostando em novas alternativas, como o SUV elétrico Equinox.
Segundo ele, a tentativa inicial da GM com carros elétricos encontrou problemas, mas a empresa vem adaptando seus modelos e investindo em tecnologias que atendam às expectativas do consumidor.
O papel da WEG e a questão dos híbridos no Brasil
Uma possível esperança para o setor é a parceria entre a Volkswagen e a WEG, multinacional brasileira especializada em motores e tecnologias elétricas.
Essa colaboração visa criar tecnologias de baterias e outros componentes para veículos elétricos, embora Feldman tenha ressaltado que ainda não se trata de uma parceria formalizada para a produção de carros a bateria.
Essa colaboração aponta para o crescimento do mercado de híbridos no Brasil, que pode atrair consumidores que buscam alternativas econômicas e sustentáveis.
Para o jornalista, uma das melhores opções para o consumidor brasileiro é o carro híbrido plug-in, que permite o uso diário na eletricidade e a flexibilidade do motor a combustão para viagens longas.
“Com um híbrido plug-in, é possível rodar até 150 km no modo elétrico, o que é suficiente para o uso diário sem depender da gasolina”, explicou Feldman.
O futuro do mercado automotivo no Brasil
A saída da Ford do Brasil escancara os desafios estruturais e econômicos do país, que afetam o funcionamento das grandes montadoras e influenciam a competitividade no mercado global.
Com a expansão dos carros elétricos e híbridos, o Brasil ainda precisa superar barreiras importantes, como a infraestrutura de recarga e os altos custos de operação.
E você, acredita que o Brasil conseguirá se adaptar às novas exigências do mercado automotivo global? Comente abaixo e compartilhe sua opinião!