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Sem começo e sem fim: físicos desafiam o Big Bang com equação quântica revolucionária

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 22/08/2025 às 21:20
Big Bang
Foto: Reprodução
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Pesquisadores apresentam modelo quântico que elimina a singularidade do Big Bang, propõe universo eterno e dispensa energia escura para explicar sua expansão.

O universo pode não ter tido começo. Essa é a conclusão apresentada por dois físicos ao aplicar correções quânticas à teoria da relatividade geral de Albert Einstein. O trabalho, publicado na Physics Letters B, sugere que o universo sempre existiu e não surgiu de uma singularidade conhecida como Big Bang.

Segundo os cálculos tradicionais da relatividade, a idade do universo é de 13,8 bilhões de anos. A teoria aceita até agora considera que tudo o que existe estava comprimido em um ponto infinitamente denso e, após uma grande explosão, começou a se expandir.

Esse momento inicial é chamado de singularidade do Big Bang.

O problema, destacam os cientistas, é que a matemática da relatividade só explica o que aconteceu depois da explosão.

Não há respostas para o que ocorreu antes ou no instante da singularidade.

O desafio da singularidade

Ahmed Farag Ali, da Universidade de Benha e da Cidade de Ciência e Tecnologia de Zewail, no Egito, explica que a singularidade representa uma falha. “As leis da física parecem falhar ali”, afirmou em entrevista ao site Phys.org.

Ali e Saurya Das, da Universidade de Lethbridge, no Canadá, defendem que seu modelo resolve o impasse. Eles apresentam um universo sem começo nem fim.

Isso significa que não haveria um ponto inicial absoluto, nem um colapso final inevitável.

O modelo combina elementos da mecânica quântica com a relatividade geral. Os autores afirmam que, embora ainda não seja uma teoria completa da gravidade quântica, os resultados são consistentes com observações atuais.

Inspiração em velhas ideias

A proposta não surgiu do nada. Ali e Das se basearam em conceitos de David Bohm, físico teórico que, nos anos 1950, defendeu o uso de trajetórias quânticas no lugar das geodésicas clássicas.

As geodésicas são as linhas que indicam o caminho mais curto em uma superfície curva. No entanto, no universo descrito pela relatividade, essas linhas acabam se cruzando, e os pontos de encontro marcam o surgimento de singularidades.

Bohm sugeriu que as trajetórias quânticas poderiam evitar esse resultado. Ali e Das aplicaram essa ideia à equação criada pelo indiano Amal Kumar Raychaudhuri, que descreve a evolução do espaço-tempo. Das, inclusive, foi aluno de Raychaudhuri na década de 1990.

Com base nisso, os dois derivaram versões corrigidas das equações de Friedmann, que descrevem a expansão do universo.

Um cosmos sem colapso final

O modelo elimina não apenas o Big Bang, mas também o chamado big crunch. Esse cenário, previsto por algumas versões da relatividade geral, considera que o universo poderia parar de se expandir e começar a encolher até colapsar em outro ponto infinitamente denso.

Para Ali e Das, as trajetórias quânticas não convergem, o que impede a formação dessas singularidades. Em vez de um ciclo de início e fim, o universo teria uma idade infinita e permaneceria em expansão.

Além disso, os autores explicam que as correções quânticas funcionam como uma constante cosmológica e um termo de radiação. Isso dispensa a necessidade de energia escura para explicar a expansão, uma das maiores incógnitas da cosmologia atual.

O papel dos grávitons

Outro ponto importante do estudo é a introdução da ideia de um fluido quântico preenchendo o universo. Esse fluido poderia ser formado por grávitons, partículas hipotéticas que mediariam a força da gravidade.

Se existirem, os grávitons seriam fundamentais para a construção de uma teoria completa da gravidade quântica. Em um artigo complementar, Das e o físico Rajat Bhaduri, da Universidade McMaster, no Canadá, mostram que os grávitons poderiam formar um condensado de Bose-Einstein. Essa formação seria possível nas condições de temperatura que sempre existiram no universo.

Esse detalhe dá ainda mais força ao modelo, já que conecta fenômenos quânticos conhecidos a uma escala cósmica.

Próximos passos da pesquisa

O trabalho de Ali e Das não encerra o debate. Eles afirmam que ainda precisam refinar o modelo. O próximo desafio é considerar pequenas perturbações no universo, como irregularidades e diferenças de direção.

Apesar disso, os cientistas acreditam que as conclusões não devem mudar de forma significativa. A principal previsão segue firme: o universo não teria começado em um ponto único, mas existiria desde sempre.

Das resumiu a importância do estudo de forma direta. “É gratificante notar que correções tão simples podem potencialmente resolver tantos problemas de uma só vez”, disse.

Se confirmado, o modelo pode representar uma das mudanças mais profundas na compreensão da origem do cosmos, afastando a ideia de um início absoluto e abrindo espaço para uma visão de eternidade no espaço e no tempo.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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