Volkswagen adapta nova plataforma elétrica para manter motores a combustão como geradores, prolongando a vida útil de modelos flex e a gasolina em mercados com infraestrutura limitada.
A Volkswagen redefiniu sua estratégia global de eletrificação ao decidir que a nova plataforma SSP (Scalable Systems Platform), prevista para substituir as atuais bases de seus veículos elétricos, será compatível também com motores a combustão.
A decisão marca uma mudança relevante na abordagem da montadora alemã, que passa a explorar soluções intermediárias entre o modelo 100% elétrico e os híbridos convencionais.
Desenvolvida desde 2021, a SSP estava inicialmente programada para ser exclusiva de veículos elétricos, substituindo as plataformas MEB e PPE.
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No entanto, o cenário de vendas abaixo do esperado para os carros elétricos em mercados estratégicos levou a empresa a reavaliar sua proposta.
Agora, a plataforma também poderá abrigar motores a combustão que funcionam exclusivamente como geradores de energia, no conceito conhecido como extensor de autonomia, ou EREV (Extended-Range Electric Vehicle).
Extensor de autonomia como alternativa viável
O sistema EREV já é conhecido em modelos como o antigo BMW i3 REx, que foi vendido no Brasil, e funciona de forma distinta dos híbridos plug-in tradicionais.
Nessa configuração, o motor a combustão não é responsável pela tração do veículo, mas apenas pela geração de energia elétrica que alimenta os motores principais ou recarrega as baterias.
Isso permite que ele opere em faixas ideais de eficiência, contribuindo para reduzir tanto o consumo de combustível quanto as emissões de poluentes em condições reais de uso.
A primeira aplicação dessa tecnologia foi apresentada na China, com o conceito Volkswagen ID.Era, um SUV de grande porte desenvolvido em parceria com a chinesa SAIC.
Segundo informações da empresa, o modelo combina uma bateria de porte reduzido com um motor a combustão que atua como extensor, prometendo alcance combinado superior a 1.000 quilômetros.
O modelo foi concebido prioritariamente para o mercado chinês, mas representa uma possível expansão global dessa solução.
Diferentes estratégias para mercados distintos
Thomas Schäfer, CEO da marca Volkswagen, explicou em entrevista à revista britânica Autocar que essa abordagem tende a ser mais viável em veículos de maior porte, especialmente fora da Europa, onde os híbridos plug-in ainda possuem maior aceitação por parte do consumidor.
Ele destacou que manter simultaneamente as soluções EREV e PHEV (Plug-in Hybrid Electric Vehicle) implicaria custos elevados e sobreposição tecnológica, o que não seria economicamente sustentável para a empresa.
No Brasil, onde a infraestrutura de recarga ainda enfrenta limitações significativas, o uso de extensores de autonomia com motor flex — compatível com etanol — pode representar uma solução prática.
Segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o país contava com aproximadamente 2.400 pontos de recarga pública ou semipública até junho de 2025, número considerado insuficiente para sustentar um crescimento robusto dos veículos 100% elétricos.
Esse contexto tem incentivado o crescimento das vendas de veículos eletrificados, mas com predominância dos híbridos.
Em 2024, o Brasil registrou 177 mil unidades vendidas de veículos eletrificados, sendo que 80% desse volume corresponde a modelos híbridos plug-in ou híbridos leves.
Os elétricos puros ainda enfrentam desafios relacionados ao custo, autonomia e infraestrutura.
A possibilidade de adotar o etanol como combustível para os extensores de autonomia também reforça a vocação brasileira para o uso de biocombustíveis, cuja queima é menos poluente do que a da gasolina.
Estreia global da plataforma SSP
A plataforma SSP está prevista para estrear no mercado entre 2027 e 2029.
A depender dos avanços no desenvolvimento de software e engenharia, o lançamento poderá ocorrer com a nova geração do Audi A3 ou do A4 elétrico, ou ainda com a aguardada nona geração do Volkswagen Golf.
A SSP será uma plataforma única para todos os veículos do grupo — o que inclui as marcas Audi, Porsche, SEAT, Skoda e a própria Volkswagen — com até oito variações adaptáveis ao porte e ao propósito de cada modelo.
O conceito por trás da SSP é o de uma arquitetura verdadeiramente escalável, capaz de acomodar veículos de diferentes tamanhos e propostas, mantendo padrões de produção otimizados e facilitando a incorporação de novas tecnologias de assistência à condução, conectividade e gestão energética.
A expectativa da empresa é que essa padronização contribua para a redução dos custos industriais e permita oferecer modelos mais acessíveis a partir de 2027, como o ID.2all, elétrico compacto de entrada previsto para custar cerca de 20 mil euros na Europa.
Adaptação tecnológica e perspectivas para o Brasil
A adoção do sistema EREV também pode favorecer a redução do peso e do custo final dos modelos, já que as baterias utilizadas são menores do que as dos elétricos puros.
Isso amplia as possibilidades de comercialização em países onde a eletrificação ainda está em estágio inicial, ao mesmo tempo em que permite atender exigências ambientais e regulatórias mais rígidas em outras regiões.
Frente a um mercado global cada vez mais segmentado e com desafios distintos em cada país, a decisão da Volkswagen de investir em soluções híbridas, mas com foco em eficiência energética e menor impacto ambiental, representa uma tentativa de conciliar inovação tecnológica e adaptação às realidades regionais.
Diante desse novo cenário, a pergunta que surge é: a adoção de motores com extensor de autonomia movidos a etanol pode transformar o futuro dos carros elétricos no Brasil?