Modal elétrico ganha destaque internacional enquanto enfrenta incertezas e debates sobre seu futuro em São Paulo, revelando impactos ambientais, avanços tecnológicos e exemplos de sucesso ao redor do mundo.
O futuro do sistema de trólebus em São Paulo permanece incerto após declarações do prefeito Ricardo Nunes, que classificou o modal como “velho, antigo e problemático”.
Apesar da possibilidade de desativação, o cenário internacional demonstra que o trólebus ainda tem papel relevante em políticas de mobilidade urbana, sendo utilizado atualmente em mais de 40 países e cerca de 260 cidades ao redor do mundo, conforme aponta o relatório GLOBAL TROLLEYBUS FIGURES 2025, da Union Internationale des Transports Publics (UITP).
História do trólebus em São Paulo
A trajetória do trólebus paulistano começou oficialmente em 22 de abril de 1949, com a criação da Companhia Municipal de Transporte Coletivo (CMTC) e a operação da linha 16 Machado de Assis, inicialmente com veículos importados.
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Desde então, o modal passou por transformações marcadas por avanços tecnológicos, períodos de expansão e momentos de crise.
Em 1958, a necessidade de manutenção levou ao desenvolvimento do primeiro trólebus nacional, com cerca de 85% de componentes produzidos no Brasil, fato que marcou o início da nacionalização do transporte elétrico urbano.
Na década de 1960, os altos custos levaram a CMTC a fabricar seus próprios veículos, uma solução que permitiu a continuidade do sistema.
Nos anos 1970, o impacto da crise do petróleo motivou o lançamento do Plano Sistran, um projeto para novos corredores exclusivos de trólebus.
No entanto, das quatro etapas previstas, apenas duas foram concluídas.
O crescimento mais expressivo ocorreu nos anos 1980, com a inauguração do corredor da Avenida Paes de Barros, na Mooca, e posteriormente do corredor 9 de Julho, ligando o Terminal Santo Amaro à Praça da Bandeira.
Em 1994, a fundação da São Paulo Transporte S.A. (SPTrans) dividiu a operação entre três empresas, que investiram na renovação da frota e na modernização das linhas.
Em 1997, com a implantação do sistema VLP (Veículo Leve sobre Pneus), esperava-se que trólebus biarticulados fossem utilizados em corredores exclusivos, mas a opção final recaiu sobre ônibus a diesel e híbridos, resultando no Expresso Tiradentes.
O ápice do sistema foi registrado no ano 2000, quando a cidade contava com 555 trólebus distribuídos em 26 linhas, transportando em média 154 mil passageiros por dia.
Porém, a partir de 2002, o modal começou a encolher: linhas nas zonas norte e sul foram gradativamente desativadas, e diversos veículos foram vendidos como sucata, mesmo com poucos anos de uso.
A reestruturação do sistema só ocorreu em 2007, após a celebração de um contrato emergencial que permitiu a renovação da frota e a manutenção da operação.
Atualmente, segundo dados da SPTrans, 201 trólebus circulam por nove linhas concentradas nas regiões central, sul e leste da capital paulista.
A participação do modal, embora reduzida, ainda representa importante alternativa de transporte limpo para a cidade.
Trólebus no cenário internacional
Contrariando o argumento de obsolescência, sistemas de trólebus seguem em operação e expansão em cidades como Vancouver (Canadá), São Francisco, Filadélfia, Dayton e Seattle (Estados Unidos), Milão e Tagliari (Itália), Sofia (Bulgária), Xangai e Cantão (China), além de dezenas de outros centros urbanos.
O Brasil, que chegou a operar 14 sistemas de trólebus, hoje mantém ativa apenas a rede de São Paulo (capital e corredor ABD), enquanto o sistema de Santos permanece paralisado desde a pandemia de covid-19.
Impactos ambientais e benefícios do trólebus
A discussão sobre o futuro do trólebus em São Paulo envolve questões ambientais, sociais e econômicas.
Segundo a SPTrans, a operação dos 201 trólebus evita a emissão de aproximadamente 14,3 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2), 38 toneladas de óxidos de nitrogênio (NOx) e 390 quilos de material particulado anualmente, contribuindo para a redução da poluição atmosférica.
Esses resultados ganham relevância diante dos compromissos globais de combate às mudanças climáticas e do aumento da demanda por soluções de mobilidade elétrica.
Modernização e futuro do sistema
A modernização do sistema de trólebus é apontada por especialistas como alternativa para alinhar São Paulo às tendências internacionais de transporte sustentável.
Projetos em andamento preveem a implementação de corredores verdes totalmente elétricos e a adoção de veículos com tecnologia IMC (In Motion Charging), que permite recarregar as baterias durante o trajeto conectado à rede aérea, diminuindo a necessidade de cabos e de carregadores nas garagens.
A integração entre trólebus, ônibus elétricos, Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs) e outros modais é vista como estratégia eficiente para promover maior sustentabilidade e eficiência na mobilidade urbana.
A desativação do sistema, defendida pela atual gestão municipal, pode significar não só a perda de um transporte consolidado, mas também o desperdício de investimentos públicos realizados ao longo de mais de 76 anos.
A retirada dos trólebus colocaria São Paulo na contramão de cidades que apostam na eletromobilidade como resposta aos desafios ambientais e à necessidade de oferecer alternativas limpas de transporte coletivo.
Trólebus e tendências globais de mobilidade elétrica
Em meio ao debate sobre o fim do trólebus, o tema ganha cada vez mais relevância ao envolver sustentabilidade, inovação e compromisso com as próximas gerações.
O dilema sobre manter ou não o modal em operação segue aberto, especialmente diante do contexto global em que cidades de diferentes continentes apostam no trólebus como parte essencial da mobilidade urbana do século XXI.
Diante desse cenário, quais caminhos São Paulo deve escolher para garantir uma mobilidade mais sustentável, eficiente e alinhada às tendências internacionais?