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Fim do maior boom do século: China decreta o encerramento da era dourada do minério de ferro e gigantes como a Vale podem enfrentar um novo cenário de incertezas

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 20/08/2024 às 22:50
China anuncia o fim do maior boom de minério de ferro do século, e gigantes como a Vale podem enfrentar um futuro incerto. (Imagem: reprodução)
China anuncia o fim do maior boom de minério de ferro do século, e gigantes como a Vale podem enfrentar um futuro incerto. (Imagem: reprodução)

A China, que durante 25 anos foi o motor por trás da escalada dos preços das commodities, especialmente o minério de ferro, começa a mostrar sinais claros de desaceleração.

Esse ciclo de expansão que elevou os preços do minério a níveis históricos agora parece ter chegado ao fim, segundo Javier Blas, colunista da Bloomberg Opinion.

Durante esse período, o minério de ferro viu seu preço multiplicar-se por dez, transformando-se em uma das commodities mais valiosas do mundo e criando fortunas. No entanto, o que parecia ser um mercado inabalável começou a desmoronar, e as implicações são profundas.

O que mudou no mercado de commodities?

Durante décadas, commodities como petróleo, cobre e soja receberam grande atenção, mas o minério de ferro, segundo Blas, foi o verdadeiro protagonista da bonança econômica chinesa.

A partir do final da década de 1990, o minério de ferro viu seus preços dispararem e o volume de negociações triplicar, tornando-se um dos ativos mais lucrativos do mercado global.

Contudo, essa era de ouro está prestes a se encerrar, e a China, que foi responsável por inflacionar esse mercado, agora também é quem está puxando o freio.

Conforme dados recentes, o preço do minério de ferro caiu para menos de US$ 100 por tonelada, o que representa uma queda de 55% em relação ao recorde de quase US$ 220 por tonelada, alcançado em 2021.

A mudança no modelo econômico chinês, que agora se foca mais em serviços do que em infraestrutura pesada e construção, está por trás dessa desaceleração. O pico da demanda de aço na China foi atingido entre 2020 e 2024, e a perspectiva de uma recuperação no setor parece cada vez mais distante.

A queda da demanda na China

Durante as recessões anteriores, a China sempre encontrou maneiras de salvar sua economia e, consequentemente, os setores de minério de ferro e aço. Contudo, desta vez, a situação é diferente.

Javier Blas aponta que é improvável que o governo chinês recorra a uma explosão de construção civil alimentada por dívidas, como fez no passado. A desaceleração no consumo de aço, especialmente do chamado “aço longo”, usado em construção, representa um grande desafio para o setor.

Hu Wangming, presidente do conselho do China Baowu Steel Group, a maior siderúrgica do mundo, recentemente descreveu um “inverno rigoroso” para o setor, conforme citado por Blas. Ele prevê que a retração será “mais longa, mais fria e mais difícil de suportar” do que o inicialmente esperado.

Isso porque a China, que responde por mais da metade da produção global de aço, está passando por uma transformação que diminui drasticamente a demanda por esse material.

A nova geração de minas

Enquanto a demanda na China cai, novas minas de minério de ferro estão começando a operar, principalmente na Austrália e na África.

Essas novas operações, que são de baixo custo e alta eficiência, podem agravar o excesso de oferta no mercado global. Conforme dados do Macquarie Bank, o superávit atual de minério de ferro é um dos mais severos já registrados, e essa situação deve persistir até 2028, com um impacto significativo nos preços.

Os preços devem cair ainda mais para equilibrar o mercado, levando as mineradoras de alto custo a serem expulsas do mercado. Se a produção das novas minas entrar no mercado conforme o planejado, cerca de 200 milhões de toneladas – ou 12,5% do mercado de minério de ferro marítimo – precisarão ser deslocadas, o que pode pressionar os preços a cair para níveis historicamente baixos, conforme Javier Blas.

O impacto nas grandes mineradoras

Apesar da queda recente nos preços, as maiores mineradoras do mundo ainda estão lucrando significativamente. A Rio Tinto, por exemplo, que extrai minério na região de Pilbara, na Austrália Ocidental, a um custo de cerca de US$ 21 por tonelada, continua a registrar retornos robustos sobre o capital investido.

No entanto, se os preços caírem para US$ 50 por tonelada, as margens dessas gigantes, incluindo a Vale, a BHP Group e a Fortescue, sofrerão um impacto severo.

Blas sugere que, diante desse cenário, pode haver uma nova onda de fusões e aquisições no setor, especialmente se os preços caírem drasticamente. Essa movimentação pode abrir portas para novos entrantes, como as minas de Simandou, na Guiné, e Onslow, na Austrália, que ainda seriam lucrativas mesmo com preços mais baixos.

O futuro do mercado de minério de ferro

Com a entrada de novas minas, o mercado de minério de ferro enfrenta a possibilidade de excesso de oferta nos próximos anos.

Javier Blas destaca que as mineradoras de segundo e terceiro níveis, principalmente em países como Brasil, Índia, Ucrânia, África do Sul, Irã e Cazaquistão, serão as mais impactadas pela queda dos preços. Essas empresas, que operam com custos mais altos, de US$ 50 a US$ 100 por tonelada, podem ser forçadas a reduzir a produção ou até mesmo fechar suas operações.

Em contraste, as mineradoras maiores, com operações mais eficientes, conseguirão sobreviver às oscilações de preços, mas precisarão ajustar suas expectativas em relação aos lucros futuros.

Segundo Blas, o retorno aos preços ultrabaixos do pré-2000 é improvável, mas também é pouco provável que o mercado veja novamente os preços elevados que marcaram a última década.

Um novo cenário à vista?

Blas conclui que o mercado de minério de ferro está passando por uma transição significativa e que as mineradoras precisam se adaptar a essa nova realidade.

A era dos altos preços e das margens de lucro impressionantes pode estar chegando ao fim, e as empresas do setor terão que enfrentar desafios consideráveis nos próximos anos.

O cenário de fusões e aquisições pode se intensificar, à medida que as mineradoras buscam maneiras de sobreviver em um mercado cada vez mais competitivo e saturado.

A grande questão que fica é: como as mineradoras vão se adaptar a essa nova realidade? Será que veremos uma nova era de consolidação no setor, ou as grandes mineradoras conseguirão manter sua posição dominante no mercado global de minério de ferro? Deixe sua opinião nos comentários e participe dessa discussão crucial sobre o futuro do setor!

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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