Redes do Rio Grande do Sul alteram jornada tradicional para enfrentar escassez de mão de obra. Escala 5×2 oferece folgas consecutivas e busca reduzir rotatividade no varejo, mantendo a carga horária semanal prevista na CLT.
As redes Comercial Zaffari, de Passo Fundo, e Quero-Quero iniciaram a adoção da escala 5×2 em unidades no Rio Grande do Sul para tentar reduzir a dificuldade de contratar e manter funcionários.
A mudança rompe com o modelo 6×1, predominante no comércio, e busca oferecer folgas consecutivas sem alterar a carga de 44 horas semanais, conforme previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
A informação foi confirmada pela Federação dos Empregados no Comércio de Bens e Serviços (Fecosul) e pelo Sindicato dos Comerciários de Lajeado, no Vale do Taquari.
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Mudança de escala para atrair trabalhadores
A Comercial Zaffari, dona do Stok Center e segunda maior supermercadista do Estado, passou a adotar a escala 5×2 já no processo de contratação da filial aberta em junho em Lajeado.
Segundo o presidente do Sindicomerciários local, Marco Daniel Rockenbach, a decisão partiu da própria empresa após alertas de que o formato 6×1, com trabalho aos domingos e salários próximos ao piso, não atrairia interessados.
Na região, o comércio disputa mão de obra com o setor industrial, que costuma oferecer remunerações mais altas e folgas nos fins de semana.
De acordo com o sindicato, essa concorrência tem levado empresas do varejo a repensar horários e escalas para aumentar o número de candidatos.
Folgas consecutivas como diferencial
A oferta de dois dias seguidos de descanso, seja no fim de semana ou durante a semana, tem sido apontada por entidades sindicais como um dos fatores que mais atraem novos trabalhadores.
Rockenbach afirma que há escassez de mão de obra no comércio local e cita indústrias de segmentos como avicultura e doces como principais concorrentes pelos mesmos profissionais.
Segundo o dirigente, o sindicato orientou a empresa a oferecer benefícios adicionais, como rodízio de folgas, incluindo sábados, além de ajustes salariais acima do piso, para ampliar o interesse nas vagas.
Rotatividade alta pressiona o setor
Dados da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) indicam taxa de rotatividade superior a 60% nas empresas do setor.
Muitos empregados deixam o trabalho logo após o período de experiência.
Conforme o sindicato de Lajeado, trocas por pequenas diferenças salariais são comuns.
Representantes da categoria observam ainda que trabalhadores mais jovens têm mostrado resistência ao trabalho em sábados e domingos, priorizando jornadas com maior previsibilidade.
Para o presidente da Agas, Lindonor Peruzzo Junior, a adoção do 5×2 “é uma estratégia definida por cada empresa diante da dificuldade de contratação e retenção de funcionários”, além de ser uma forma de competir com as indústrias locais.
Projeto-piloto na Quero-Quero
A rede Quero-Quero começou a testar o novo formato de jornada em duas lojas de Lajeado, em caráter piloto, após acordo com o sindicato, por alterar condições anteriores de trabalho.
Diferentemente do Stok Center — onde o modelo foi aplicado no momento da admissão —, a empresa firmou um termo coletivo para o ajuste.
De acordo com o sindicato, haverá rodízio entre os funcionários, com folgas distribuídas durante a semana, garantindo ao menos uma folga dupla mensal.
A medida busca permitir que os trabalhadores organizem melhor sua rotina, especialmente nas unidades com maior rotatividade.
Vagas em aberto e disputa regional
Na área de abrangência do sindicato de Lajeado, que cobre oito municípios do Vale do Taquari, há entre 800 e 1.000 vagas abertas com dificuldade de preenchimento, sendo de 400 a 500 apenas no comércio.
A abertura do Via, do grupo Passarela, deve gerar cerca de 150 postos de trabalho.
Segundo o sindicato, o grupo catarinense enfrentou desafios para reter funcionários em operação anterior no Lajeado Shopping e foi alertado sobre a necessidade de ajustar escalas para evitar repetição do problema.
Focos e expectativas das entidades
De acordo com o presidente da Fecosul, Guiomar Vidor, o modelo 5×2 é visto como uma alternativa para melhorar a qualidade de vida dos empregados e reduzir a rotatividade.
Ele avalia que, no futuro, a jornada de 40 horas semanais poderia ser discutida como próximo passo, sempre por meio de negociação entre sindicatos e empresas.
A federação informa que acompanha o movimento em diferentes regiões e observa interesse crescente de redes varejistas em formatos de trabalho com mais folgas consecutivas.
Regras trabalhistas e descanso semanal
A legislação brasileira define um número mínimo de folgas mensais e estabelece o descanso semanal remunerado, mas o intervalo nem sempre ocorre dentro dos sete dias corridos, especialmente em setores que funcionam de segunda a segunda, como supermercados e farmácias.
Nos últimos anos, o tema gerou mobilizações e negociações.
Em Porto Alegre, o Grupo Zaffari, líder do setor, chegou a ser alvo de manifestações de trabalhadores, que reivindicavam ajustes na jornada.
Segundo informações apuradas pela coluna Minuto Varejo, a empresa implementou mudanças internas em escalas de trabalho, embora não tenha detalhado as alterações.
Impactos e avaliações
De acordo com sindicatos, a adoção do modelo 5×2 no Stok Center de Lajeado foi essencial para viabilizar contratações locais.
As entidades afirmam que, sem o novo formato e com salários apenas no piso, a empresa teria dificuldade para completar o quadro.
Representantes de trabalhadores afirmam ainda que a redução da rotatividade e o aumento da produtividade podem compensar eventuais ajustes salariais e de jornada.
A Comercial Zaffari, procurada pela reportagem, não respondeu aos questionamentos sobre a política de escalas.
Preferências de jornada entre os mais jovens
O sindicato de Lajeado também aponta que trabalhadores mais jovens demonstram preferência por folgas duplas e horários previsíveis, o que influencia na retenção de pessoal.
Segundo Rockenbach, essa geração tende a priorizar equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e a previsibilidade de folgas é um dos fatores que mais pesam na escolha de emprego.
Perspectivas para o varejo gaúcho
Especialistas em relações trabalhistas avaliam que, se a adesão ao 5×2 crescer, o varejo poderá reorganizar gradualmente seus turnos, com escalas rotativas que mantenham o atendimento e garantam o descanso semanal.
Para entidades do setor, indicadores como tempo médio de permanência, absenteísmo e produtividade por hora deverão orientar decisões sobre a continuidade do modelo.
A tendência se consolidará como prática permanente nas redes gaúchas ou permanecerá restrita a experiências pontuais em regiões com forte presença industrial?

 
                         
                        
                                                     
                         
                         
                         
                        

 
                     
         
         
         
         
         
        
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