Ferrari adia para 2028 seu supercarro elétrico de produção porque clientes milionários ainda preferem motores a combustão potentes e barulhentos
A Ferrari se prepara para um marco histórico neste outono: a estreia do seu primeiro carro totalmente elétrico. O modelo, no entanto, será produzido em quantidade limitada, funcionando mais como um laboratório tecnológico do que como uma aposta de grande escala.
A verdadeira virada estava programada para os próximos anos, com a chegada de um segundo carro elétrico, concebido para integrar de forma definitiva a linha principal da marca.
Esse Cavallino deveria seguir o caminho de modelos como o SF90 Stradale, o 296 GTB ou o Roma.
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Porém, a fabricante de Maranello decidiu adiar os planos. O segundo elétrico não deve ser lançado antes de 2028.
O que motivou a decisão da Ferrari
O motivo principal está na baixa procura por supercarros elétricos de altíssimo desempenho. A própria Ferrari admite que a última palavra cabe ao cliente, e os compradores de marcas de luxo ainda não demonstram interesse em abandonar motores a gasolina.
O CEO da Ferrari, Benedetto Vigna, declarou em 2023 que a empresa venderia “emoções e não tecnologia”.
Essa fala reforça que o apelo emocional de um motor barulhento e imponente pesa mais que a eficiência elétrica.
Além disso, a opinião de Maté Rimac, responsável pelo esportivo elétrico Nevera, confirma essa tendência.
Ele afirmou que “os ricos querem carros a gasolina”, e as vendas do modelo provaram a dificuldade: a produção estimada em 150 unidades ficou longe de ser alcançada.
Números e lucros da Ferrari
A decisão de adiar não significa falta de força financeira. Muito pelo contrário.
Em 2024, a Ferrari registrou lucro recorde, acima de 1,5 bilhão de euros. A previsão para 2025 indica um resultado ainda maior, chegando a 2,68 bilhões em lucro operacional.
Portanto, a empresa tem margem para postergar lançamentos e aguardar o momento ideal, sem pressões imediatas.
Primeiro elétrico da Ferrari será vitrine
O primeiro modelo sem emissões, previsto para este outono, deve custar cerca de 500 mil euros. Ele fará parte da Série Especial, com tiragem bastante limitada, servindo como um passo inicial.
A ideia inicial era revelar o segundo elétrico logo depois, consolidando o caminho da eletrificação. Mas fontes ligadas à empresa confirmaram à Reuters que isso não acontecerá.
O apelo dos motores a combustão
Clientes milionários valorizam mais do que desempenho. Eles querem o som e a presença de motores de combustão.
O sucesso do Purosangue, SUV equipado com motor V12, mostra exatamente isso. Ao contrário de uma aposta elétrica, o modelo brilhou nas vendas justamente por oferecer o que o público desse nicho deseja.
O desafio das baterias
Outro obstáculo está na tecnologia. Marcas de luxo precisam entregar potência sem comprometer a dirigibilidade.
Mas as baterias ainda são pesadas demais. Para obter desempenho semelhante ao de motores tradicionais, seria necessário empregar múltiplos propulsores, o que torna o carro menos competitivo.
A Porsche vive dificuldade parecida. A linha 718 deve se tornar totalmente elétrica, mas o projeto já foi revisado várias vezes por conta dos desafios relacionados às baterias. O cronograma continua indefinido.
Portanto, o atraso da Ferrari segue a mesma lógica: esperar até que a tecnologia consiga oferecer desempenho à altura da tradição da marca.
Outras marcas também adiam
A Ferrari não é a única. A Lamborghini já avisou que seu primeiro modelo 100% elétrico não chega antes de 2029.
A Maserati, por sua vez, cancelou o projeto de uma versão elétrica do MC20, chamada Folgore, diante das baixas expectativas de vendas.
Esses exemplos mostram que, para fabricantes de luxo, a eletrificação total ainda não é prioridade. Eles preferem esperar, em vez de arriscar milhões em um mercado que pode não responder.
Exceção à regra europeia
A União Europeia definiu que a partir de 2030 só poderão ser vendidos carros elétricos. Contudo, marcas como a Ferrari buscam se encaixar em exceções.
Com produção limitada e clientes exigentes, os supercarros podem acabar ganhando regras diferentes, preservando motores a combustão por mais tempo.
O primeiro elétrico da Ferrari será um passo simbólico, mas não uma revolução imediata. O Cavallino realmente importante, capaz de rodar em maior escala, só deve ver as ruas a partir de 2028.
Até lá, a Ferrari mantém sua identidade, apostando em motores que rugem alto porque é isso que seus clientes ainda querem ouvir.
Com informações de Xataka.