Mesmo com 800 vagas e salários atrativos, setor da construção enfrenta escassez de trabalhadores e baixa adesão dos jovens.
O setor da construção civil enfrenta um problema que vai além de máquinas ou materiais. A falta de mão de obra qualificada atinge até mesmo grandes obras de infraestrutura, como o Trecho Norte do Rodoanel Mário Covas, em São Paulo, que possui mais de 800 vagas abertas, mas registra baixa procura entre os trabalhadores.
Obra importante, mas com dificuldades
Com 44 quilômetros de extensão, o trecho vai ligar a avenida Raimundo Pereira de Magalhães à Rodovia Presidente Dutra (BR-116).
As obras foram retomadas em 2024, após um período de seis anos de paralisação.
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Apesar da importância da obra para a mobilidade urbana da região metropolitana, a escassez de trabalhadores tem sido um desafio constante para os responsáveis pelo projeto.
O Consórcio Cantareira, responsável pela obra — formado pelas empresas Odebrecht Engenharia e Construção e Renea Infraestrutura — afirma que há mais de 800 oportunidades de emprego em aberto.
As vagas são para diversas funções, como ajudante de produção, carpinteiro, eletricista e motorista de betoneira.
Os salários variam entre R$ 2.500 e R$ 6.000, além de benefícios como assistência médica, refeição no local, vale-transporte, vale-alimentação, transporte fretado e seguro de vida.
A jornada de trabalho segue de segunda a quinta-feira, das 7h às 17h, e às sextas-feiras das 7h às 16h. Mesmo assim, o preenchimento das vagas tem sido difícil.
Setor com milhões de empregos, mas em crise
Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), a construção civil terminou o mês de março de 2024 com 2,9 milhões de trabalhadores com carteira assinada.
Mesmo sendo um dos segmentos que mais gera empregos no país, o setor enfrenta hoje um verdadeiro “apagão” de mão de obra.
David Fratel, diretor da área de Gente do SindusCon-SP (Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo), aponta um problema específico: a falta de jovens entrando na profissão. “Temos hoje tem uma crise muito grande. Esses entrantes que são aprendizes e ajudantes estão em falta. Nossa maior crise é a entrada desses ajudantes, que respondem por 50% da nossa força de trabalho na construção civil”, afirma.
Segundo ele, há uma dificuldade em mostrar que a área oferece oportunidades de crescimento real.
Atualmente, um profissional que começa com salários entre R$ 2.500 e R$ 6.000 pode, ao longo dos anos, chegar a ganhar entre R$ 13 mil e R$ 15 mil como pedreiro experiente.
E há casos ainda mais promissores. “Mesmo sem instrução superior, é possível alcançar cargos como mestre de obra, com remunerações acima de R$ 20 mil por mês”, explica.
Para tentar contornar essa situação, o SindusCon-SP e o Sintracon-SP (sindicato dos trabalhadores da construção) estão desenvolvendo um plano de carreira estruturado para mostrar os caminhos de ascensão dentro da profissão.
Jovens priorizam novos modelos de trabalho
Uma pesquisa recente do Instituto Locomotiva ajuda a entender por que tantos jovens estão se afastando do setor.
O levantamento mostra que 63% dos trabalhadores paulistas sonham em ter o próprio negócio.
Apenas uma minoria vê o trabalho com carteira assinada como garantia de estabilidade. Para 67% dos entrevistados, o emprego formal já não representa segurança para o futuro.
Além disso, 64% dos participantes afirmaram que o trabalho com carteira assinada oferece pouca flexibilidade para equilibrar vida pessoal e profissional.
Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, destacou a mudança de percepção entre os jovens. “Quando a gente consegue entender a história dessas pessoas, percebe que elas estão começando a mudar o seu jeito de valorar o seu próprio tempo, o seu próprio trabalho. É como se não esperassem mais que as pessoas dissessem o quanto vale a sua própria hora e isso transforma a relação entre contratantes e contratados. Essa é uma realidade objetiva e não adianta ‘brigar’ com os dados”, afirmou.
Com informações de R7.