1. Início
  2. / Curiosidades
  3. / Falta de mão de obra chega em SP e ‘motor’ do Brasil tem escassez de trabalhadores em 80% da indústria
Tempo de leitura 5 min de leitura Comentários 1 comentários

Falta de mão de obra chega em SP e ‘motor’ do Brasil tem escassez de trabalhadores em 80% da indústria

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 21/06/2025 às 14:11
Indústria em SP trava por falta de mão de obra qualificada. Escassez atinge 80% das empresas e ameaça produtividade e crescimento econômico.
Indústria em SP trava por falta de mão de obra qualificada. Escassez atinge 80% das empresas e ameaça produtividade e crescimento econômico.
  • Reação
  • Reação
  • Reação
3 pessoas reagiram a isso.
Reagir ao artigo

Indústria paulista enfrenta gargalo crítico com escassez de profissionais qualificados. O pleno emprego desafia o crescimento e revela uma crise silenciosa no setor produtivo.

A falta de mão de obra qualificada em São Paulo, considerada o “motor” econômico do Brasil, tornou-se um entrave cada vez mais severo ao crescimento do setor industrial.

Uma pesquisa divulgada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) aponta que, em 80% dos segmentos industriais do estado, há escassez de trabalhadores, dificultando a produção e a expansão.

Nesse cenário, 77% das empresas enfrentam dificuldades para contratar profissionais com as competências exigidas, refletindo uma realidade próxima ao pleno emprego.

Falta de mão de obra e a ameaça ao crescimento

Falta de mão de obra não se limita a números: trata-se de barreira real à competitividade.

A pesquisa “Rumos da Indústria Paulista: Mercado de Trabalho”, executada pela Fiesp entre 6 e 18 de março, revela que o estado vive um momento de virtual pleno emprego.

A consequente escassez de trabalhadores torna mais difícil atrair e reter talentos, sobretudo no setor industrial, que depende diretamente de mão de obra especializada.

Causas interligadas e impacto geral

Diversos fatores se combinam para agravar a falta de mão de obra em São Paulo: o mercado aquecido, a baixa taxa de desemprego, a informalidade crescente e defasagem na formação técnica.

As exigências do mundo do trabalho evoluem rapidamente, deixando muitos cursos profissionais defasados, e a preferência por trabalho como pessoa jurídica dificulta a contratação formal.

Indústria em SP trava por falta de mão de obra qualificada. Escassez atinge 80% das empresas e ameaça produtividade e crescimento econômico.
Indústria em SP trava por falta de mão de obra qualificada. Escassez atinge 80% das empresas e ameaça produtividade e crescimento econômico.

A escassez afeta diretamente a indústria.

O Grupo Mazurky, com sede em Mauá (ABC Paulista), que produz embalagens de papelão ondulado, relata que sua equipe de 128 funcionários é insuficiente para atender à demanda crescente.

Segundo o sócio-diretor Marcel Mazurkyewistz:

“Enfrentamos bastante dificuldade, principalmente na contratação de mão de obra qualificada. A formação técnica é essencial, e hoje muitos trabalhadores estão optando pelo regime de pessoa jurídica, o que dificulta a contratação efetiva. Isso impacta diretamente nossa capacidade de produção e crescimento.”

Jovens lideram faixa mais afetada

A pesquisa Fiesp identifica que a falta de mão de obra é mais acentuada entre jovens de 21 a 30 anos, concentrando 61% da demanda não atendida, seguida pelo grupo de 31 a 40 anos, com 23,8%.

Esse descompasso entre necessidade do mercado e formação disponível cria lacunas significativas, causadas tanto por fatores geracionais e culturais quanto pelo avanço tecnológico.

Nesse contexto, a escassez de trabalhadores reflete um desequilíbrio: mão de obra jovem que ainda busca formação adequada e um mercado que exige cada vez mais em termos de especialização técnica.

Comparações com outros estados e países

Ainda que o problema seja mais agudo em São Paulo, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), regiões industriais de outros estados como Minas Gerais e Rio Grande do Sul também enfrentam escassez em função de defasagem educacional e falta de investimento em qualificação profissional.

Esses fatores levam à mesma consequência observada no Estado de São Paulo: a limitação da produção por falta de profissionais qualificados.

Em comparação com economias como Alemanha e Coreia do Sul, onde a formação técnica é reconhecida e estruturada desde o ensino médio, o Brasil ainda demora a estruturar um caminho estável entre educação e mercado, o que agrava a escassez de trabalhadores qualificados.

Regime PJ e informalidade contribuem para escassez

Um fato determinante é o aumento da informalidade.

Muitos profissionais, incluindo os com formação técnica, optam por atuar como pessoa jurídica para ter maior liberdade ou pagar menos impostos, mas isso distancia o trabalhador das garantias, benefícios e planos de carreira oferecidos no regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

Essa escolha impacta diretamente a disponibilidade de mão de obra formal, agravando a falta de mão de obra e afetando diretamente a competitividade da indústria.

Além disso, a falta de atratividade do trabalho industrial, por muitas vezes marcado por jornadas longas e baixos salários comparados a setores como tecnologia e serviços, também contribui para a escassez de trabalhadores.

Soluções e iniciativas em andamento

Para amenizar esse quadro de falta de mão de obra, algumas indústrias e entidades têm buscado soluções:

Parcerias com escolas técnicas e institutos federais: empresas participam de estágios, atualização de currículos e formação prática alinhada ao mercado.

Programas de aprendizagem e capacitação interna: investimento em treinamentos, certificações e desenvolvimento dentro da empresa.

Incentivos fiscais e programas estaduais: ações do Governo de São Paulo, via Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, buscam fomentar vouchers de qualificação e apoiar os setores industriais.

Especialistas destacam que essas iniciativas ainda são pontuais.

Para mudar efetivamente o panorama, é necessário um esforço conjunto e estruturado entre governo, indústrias, instituições de ensino e trabalhadores.

Formação técnica como caminho promissor

A ampliação de convênios com o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), formação técnica integrada ao ensino médio e reforço em áreas como mecatrônica, automação e tecnologia digital são apontados como caminhos promissores.

A formação continuada é vista como fundamental para reduzir a escassez de trabalhadores, especialmente entre os jovens, e dar ao setor industrial a capacidade de se renovar.

Escassez de mão de obra e o impacto no PIB e riscos à economia

São Paulo é responsável por cerca de 30% do PIB brasileiro e concentra quase metade da produção industrial nacional, conforme dados do IBGE de 2024.

Com a falta de mão de obra prejudicando 80% das indústrias no estado, o risco é o desaquecimento econômico e perda de competitividade global, sobretudo diante da pressão por inovação, exportação e transformação digital.

Será que o Brasil — e especialmente São Paulo — tem estrutura e vontade política suficientes para transformar a formação profissional a tempo de evitar que a falta de mão de obra, esse grande gargalo industrial, se transforme num obstáculo permanente ao desenvolvimento industrial e econômico?

Inscreva-se
Notificar de
guest
1 Comentário
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Carlos
Carlos
22/06/2025 23:56

Queria saber onde está a escassez, o que está acontecendo é o problema da gestão de RH, não estão preparados para a tecnologia que estão usando para seleção de candidatos a vagas, tanta gente desempregada e dizem que o desemprego reduziu, onde isso? As empresas tem que reduzir as indicações de pessoas despreparadas gente, ninguém vê isso?

Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x