Indústria paulista enfrenta gargalo crítico com escassez de profissionais qualificados. O pleno emprego desafia o crescimento e revela uma crise silenciosa no setor produtivo.
A falta de mão de obra qualificada em São Paulo, considerada o “motor” econômico do Brasil, tornou-se um entrave cada vez mais severo ao crescimento do setor industrial.
Uma pesquisa divulgada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) aponta que, em 80% dos segmentos industriais do estado, há escassez de trabalhadores, dificultando a produção e a expansão.
Nesse cenário, 77% das empresas enfrentam dificuldades para contratar profissionais com as competências exigidas, refletindo uma realidade próxima ao pleno emprego.
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Falta de mão de obra e a ameaça ao crescimento
Falta de mão de obra não se limita a números: trata-se de barreira real à competitividade.
A pesquisa “Rumos da Indústria Paulista: Mercado de Trabalho”, executada pela Fiesp entre 6 e 18 de março, revela que o estado vive um momento de virtual pleno emprego.
A consequente escassez de trabalhadores torna mais difícil atrair e reter talentos, sobretudo no setor industrial, que depende diretamente de mão de obra especializada.
Causas interligadas e impacto geral
Diversos fatores se combinam para agravar a falta de mão de obra em São Paulo: o mercado aquecido, a baixa taxa de desemprego, a informalidade crescente e defasagem na formação técnica.
As exigências do mundo do trabalho evoluem rapidamente, deixando muitos cursos profissionais defasados, e a preferência por trabalho como pessoa jurídica dificulta a contratação formal.
A escassez afeta diretamente a indústria.
O Grupo Mazurky, com sede em Mauá (ABC Paulista), que produz embalagens de papelão ondulado, relata que sua equipe de 128 funcionários é insuficiente para atender à demanda crescente.
Segundo o sócio-diretor Marcel Mazurkyewistz:
“Enfrentamos bastante dificuldade, principalmente na contratação de mão de obra qualificada. A formação técnica é essencial, e hoje muitos trabalhadores estão optando pelo regime de pessoa jurídica, o que dificulta a contratação efetiva. Isso impacta diretamente nossa capacidade de produção e crescimento.”
Jovens lideram faixa mais afetada
A pesquisa Fiesp identifica que a falta de mão de obra é mais acentuada entre jovens de 21 a 30 anos, concentrando 61% da demanda não atendida, seguida pelo grupo de 31 a 40 anos, com 23,8%.
Esse descompasso entre necessidade do mercado e formação disponível cria lacunas significativas, causadas tanto por fatores geracionais e culturais quanto pelo avanço tecnológico.
Nesse contexto, a escassez de trabalhadores reflete um desequilíbrio: mão de obra jovem que ainda busca formação adequada e um mercado que exige cada vez mais em termos de especialização técnica.
Comparações com outros estados e países
Ainda que o problema seja mais agudo em São Paulo, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), regiões industriais de outros estados como Minas Gerais e Rio Grande do Sul também enfrentam escassez em função de defasagem educacional e falta de investimento em qualificação profissional.
Esses fatores levam à mesma consequência observada no Estado de São Paulo: a limitação da produção por falta de profissionais qualificados.
Em comparação com economias como Alemanha e Coreia do Sul, onde a formação técnica é reconhecida e estruturada desde o ensino médio, o Brasil ainda demora a estruturar um caminho estável entre educação e mercado, o que agrava a escassez de trabalhadores qualificados.
Regime PJ e informalidade contribuem para escassez
Um fato determinante é o aumento da informalidade.
Muitos profissionais, incluindo os com formação técnica, optam por atuar como pessoa jurídica para ter maior liberdade ou pagar menos impostos, mas isso distancia o trabalhador das garantias, benefícios e planos de carreira oferecidos no regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
Essa escolha impacta diretamente a disponibilidade de mão de obra formal, agravando a falta de mão de obra e afetando diretamente a competitividade da indústria.
Além disso, a falta de atratividade do trabalho industrial, por muitas vezes marcado por jornadas longas e baixos salários comparados a setores como tecnologia e serviços, também contribui para a escassez de trabalhadores.
Soluções e iniciativas em andamento
Para amenizar esse quadro de falta de mão de obra, algumas indústrias e entidades têm buscado soluções:
Parcerias com escolas técnicas e institutos federais: empresas participam de estágios, atualização de currículos e formação prática alinhada ao mercado.
Programas de aprendizagem e capacitação interna: investimento em treinamentos, certificações e desenvolvimento dentro da empresa.
Incentivos fiscais e programas estaduais: ações do Governo de São Paulo, via Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, buscam fomentar vouchers de qualificação e apoiar os setores industriais.
Especialistas destacam que essas iniciativas ainda são pontuais.
Para mudar efetivamente o panorama, é necessário um esforço conjunto e estruturado entre governo, indústrias, instituições de ensino e trabalhadores.
Formação técnica como caminho promissor
A ampliação de convênios com o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), formação técnica integrada ao ensino médio e reforço em áreas como mecatrônica, automação e tecnologia digital são apontados como caminhos promissores.
A formação continuada é vista como fundamental para reduzir a escassez de trabalhadores, especialmente entre os jovens, e dar ao setor industrial a capacidade de se renovar.
Escassez de mão de obra e o impacto no PIB e riscos à economia
São Paulo é responsável por cerca de 30% do PIB brasileiro e concentra quase metade da produção industrial nacional, conforme dados do IBGE de 2024.
Com a falta de mão de obra prejudicando 80% das indústrias no estado, o risco é o desaquecimento econômico e perda de competitividade global, sobretudo diante da pressão por inovação, exportação e transformação digital.
Será que o Brasil — e especialmente São Paulo — tem estrutura e vontade política suficientes para transformar a formação profissional a tempo de evitar que a falta de mão de obra, esse grande gargalo industrial, se transforme num obstáculo permanente ao desenvolvimento industrial e econômico?
Queria saber onde está a escassez, o que está acontecendo é o problema da gestão de RH, não estão preparados para a tecnologia que estão usando para seleção de candidatos a vagas, tanta gente desempregada e dizem que o desemprego reduziu, onde isso? As empresas tem que reduzir as indicações de pessoas despreparadas gente, ninguém vê isso?