Executiva Stella Li afirma que guerra de preços, excesso de fábricas e intervenção de Pequim devem provocar consolidação inédita no setor elétrico.
A China, responsável pela maior parte da produção mundial de veículos elétricos, atravessa uma fase de ajuste que pode transformar de forma radical o mercado.
De acordo com executivos e análises setoriais, o excesso de capacidade produtiva, a guerra de preços e a intervenção regulatória de Pequim estão levando a uma consolidação profunda, capaz de eliminar centenas de fabricantes pequenos e médios.
O alerta mais enfático veio de Stella Li, vice-presidente da BYD, durante o Salão do Automóvel de Munique, em declaração repercutida pelo Business Insider Espanha.
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Segundo ela, das 130 marcas que operam hoje no país, cerca de 100 podem ser “expulsas” se as pressões por descontos agressivos e condições de venda continuarem. O diagnóstico coincide com consultorias que projetam sobrevivência apenas para grandes grupos consolidados.
O papel da guerra de preços e da regulação
Nos últimos anos, o mercado chinês mergulhou em uma competição marcada por descontos expressivos, financiamentos a custo zero e promoções constantes. Esse cenário, batizado de “guerra de preços”, ajudou a manter volumes de vendas, mas comprometeu seriamente a lucratividade do setor.
Com o avanço da deflação e os riscos à saúde financeira das empresas, Pequim decidiu intervir. De acordo com o Financial Times, novas regras passaram a restringir práticas de descontos extremos, reduzindo a margem de manobra para fabricantes menores.
Assim, empresas com estruturas frágeis passaram a enfrentar dificuldade imediata de sobrevivência.
Excesso de capacidade produtiva
Outro fator que agrava a situação é o excesso de capacidade instalado. As fábricas chinesas conseguem produzir muito mais do que o mercado doméstico absorve, e a taxa média de utilização das plantas caiu significativamente.
A consultoria AlixPartners estima que, das 129 marcas que venderiam veículos elétricos e plug-in em 2024, apenas 15 estarão financeiramente saudáveis até 2030.
Essas poucas marcas devem concentrar até três quartos do mercado, enquanto o restante enfrentará fusões, saídas ou fechamento.
Impacto sobre a BYD e os consumidores
Mesmo empresas líderes, como a BYD, sentem os efeitos da correção. A fabricante reconheceu que seus resultados trimestrais apresentaram deterioração, resultado direto da redução de incentivos governamentais e das novas regulamentações.
A empresa foi obrigada a revisar previsões e margens, embora veja no ajuste a chance de enfrentar menos concorrência em segmentos específicos e conquistar maior estabilidade de preços.
Para os consumidores, principalmente na Europa e na Espanha, o cenário pode significar acesso a veículos mais baratos e avançados, mas também riscos de tensões comerciais.
Barreiras tarifárias, exigências técnicas e medidas protecionistas podem encarecer ou limitar o acesso a esses modelos.
Efeitos globais e incertezas
O impacto do ajuste chinês vai além de suas fronteiras. Marcas que perderem espaço no mercado interno buscarão expansão no exterior, mas enfrentarão obstáculos como custos mais altos de produção na Europa e nos Estados Unidos, além da necessidade de redes de distribuição robustas.
Segundo a Reuters, outro efeito colateral pode vir das cadeias globais de suprimentos: o desaparecimento de fornecedores chineses pode comprometer entregas de baterias e componentes eletrônicos, elevando custos e prazos no setor automotivo mundial.
Analistas ponderam, no entanto, que a consolidação não será automática. Governos locais, que investiram em subsídios e facilidades para atrair fábricas, podem tentar proteger determinadas empresas por questões de emprego e manutenção da estrutura industrial.
Além disso, fusões, concentrações regionais e reorientação para nichos específicos podem garantir a sobrevivência de algumas marcas.
Um novo equilíbrio competitivo
O movimento de “limpeza” no setor de veículos elétricos projeta um futuro com menos concorrentes, maior concentração e disputa por economias de escala. A transformação prevista por executivos e consultorias redesenhará o mercado, reforçando a corrida por eficiência produtiva e expansão internacional.
A China, que liderou a revolução dos carros elétricos, agora enfrenta a tarefa de reorganizar seu próprio ecossistema industrial — um processo que definirá quais empresas terão fôlego para competir em um mercado global cada vez mais exigente.