Megaplanta da BYD, que promete ser a maior da América Latina, começa a funcionar com atrasos, galpões incompletos e carros espalhados pelo pátio industrial
A BYD inaugurou oficialmente em 1º de julho de 2025, em Camaçari (BA), sua maior fábrica fora da Ásia e a maior unidade de veículos elétricos da América Latina. Apesar da cerimônia grandiosa, o cenário ainda mostra carros espalhados, obras abertas e galpões em finalização, revelando os desafios da montadora chinesa em sua estreia industrial no Brasil.
O megacomplexo baiano ocupa 4,6 milhões de metros quadrados, o equivalente a 645 campos de futebol, e consumiu um investimento de R$ 5,5 bilhões. A empresa planeja produzir 600 mil veículos por ano, mas, por enquanto, apenas parte do parque industrial opera de forma efetiva.
A planta da BYD em Camaçari só deverá estar “plenamente funcional até dezembro de 2026”, segundo declaração de um representante estadual à Reuters, em razão de atrasos provocados por investigação trabalhista e condições climáticas adversas.
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De terreno abandonado a fábrica apressada



O terreno pertenceu à Ford, que produziu os modelos Ka e EcoSport entre 2001 e 2021. Após a saída da montadora norte-americana, o espaço ficou ocioso até outubro de 2023, quando o governo da Bahia o cedeu à BYD.
A montadora iniciou as obras em março de 2024, prometendo um cronograma acelerado de apenas 15 meses. Hoje, parte dos galpões funciona, enquanto outras áreas seguem em obras, com equipes e maquinários dividindo espaço com veículos recém-montados.
Durante a inauguração, o vice-presidente sênior da empresa, Alexandre Baldy, declarou que o local passou “de um terreno abandonado para uma fábrica de sonhos”. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou que o projeto simboliza a retomada da indústria nacional, mesmo com obstáculos logísticos e prazos apertados.
Obras aceleradas e metas ousadas
A BYD dividiu o projeto em três fases de expansão. Na primeira, a meta é produzir 150 mil veículos por ano. Na segunda, o volume dobra para 300 mil unidades anuais, e na terceira, o objetivo é alcançar 600 mil veículos.
O complexo incluirá linhas de ônibus elétricos, uma fábrica de baterias e um centro de P&D (pesquisa e desenvolvimento). Contudo, áreas destinadas à pesquisa ainda passam por ajustes. Essa pressa em inaugurar gerou críticas sobre a falta de infraestrutura pronta.
A empresa afirma que pretende transformar o Brasil em referência na mobilidade elétrica latino-americana, mas enfrenta o desafio de equilibrar crescimento rápido com eficiência operacional.
Produção parcial e nacionalização lenta
Atualmente, a montagem ocorre no sistema SKD (Semi Knocked-Down), com peças semidesmontadas enviadas da China. A BYD projeta nacionalizar gradualmente a produção até o final de 2026, com soldagem, pintura e montagem integral em solo baiano.
A fabricante credenciou 106 empresas brasileiras como fornecedoras, entre elas a Continental Pneus, instalada no mesmo polo industrial. Apesar do avanço, a maior parte dos componentes ainda vem do exterior, e isso limita a independência produtiva da planta.
Os primeiros modelos montados serão os híbridos Song Pro e King, além do elétrico Dolphin Mini. A picape Shark continua em fase de avaliação para integrar a linha de montagem futura.
Denúncias e atrasos marcaram a construção
O processo de implantação enfrentou problemas e investigações. Em 2024, o Ministério Público do Trabalho flagrou trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão em construtoras terceirizadas. Após a fiscalização, a BYD exigiu correções e rescindiu contratos com as empresas envolvidas.
Além disso, equipamentos importados ficaram retidos por meses no Porto de Salvador, atrasando a instalação de linhas de montagem. Por causa disso, a empresa adiou a inauguração de junho para julho de 2025.
Fontes da Reuters e do portal AutoIndústria relataram que parte da estrutura ainda não possui licenças plenas de operação, o que explica o ritmo controlado das primeiras produções.
Impacto e imagem pública
Mesmo diante das críticas, a BYD busca reverter a imagem de improviso e acelerar o processo de regularização. Especialistas da Anfavea consideram o projeto um avanço tecnológico relevante, mas alertam que crescer rápido demais pode comprometer a qualidade.
O governo baiano enxerga a fábrica como símbolo da reindustrialização regional, embora reconheça que as metas de emprego e nacionalização precisarão de ajustes.
Enquanto isso, os pátios lotados, os carros parados e as obras em andamento reforçam a percepção de um início turbulento e apressado.
A virada elétrica sob pressão
A BYD garante que todas as etapas pendentes serão finalizadas até 2026, mas enfrenta pressão de investidores e da opinião pública para entregar resultados mais rápidos. Ainda assim, o projeto coloca o Brasil no mapa global da mobilidade elétrica, fortalecendo a cadeia produtiva nacional.
A inauguração da planta de Camaçari marca o início de uma nova era industrial, porém revela que a pressa, a burocracia e a desorganização ainda rondam o setor automotivo brasileiro.
Será que a BYD conseguirá transformar o caos inicial em um exemplo de eficiência e inovação na indústria nacional?



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