A Força Aérea Brasileira vai investir em 11 helicópteros Black Hawk usados dos Estados Unidos, em operação bilionária que reforçará missões de busca, salvamento e apoio humanitário, especialmente em áreas estratégicas como a Amazônia.
A Força Aérea Brasileira decidiu ampliar a frota de helicópteros com a aquisição de 11 unidades UH-60L Black Hawk oriundas dos estoques do Exército dos Estados Unidos, em operação estimada em US$ 229 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão).
A contratação foi tornada pública no Diário Oficial da União de 19 de setembro de 2025 e será realizada por inexigibilidade de licitação, com foco em entrega de aeronaves usadas e revisadas para missões de busca e salvamento, transporte e apoio humanitário.
Compra via programa BEST e repasse para novos helicópteros
A negociação ocorre pelo BEST (Black Hawk Exchange Sales Team), programa do Departamento de Defesa que permite a venda de aeronaves UH-60 a países aliados e operadores civis.
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Os recursos obtidos retornam ao Exército americano para aquisição de novos Black Hawk junto à Sikorsky, mantendo o ciclo de modernização da frota.
No arranjo brasileiro, a ACE Aeronautics, empresa dos Estados Unidos, ficará responsável pela intermediação comercial, pelos leilões e por eventuais atualizações e manutenções antes da transferência.
Papel do PAMA-SP e racionalidade da contratação
O Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMA-SP) manifestou a intenção de realizar a contratação direta.
A opção por inexigibilidade está associada ao acesso a estoques militares específicos e à padronização com a frota já empregada pela FAB, o que reduz tempo de integração e evita custos de transição para uma nova plataforma.
Na prática, ferramental, formação de mecânicos e doutrina de emprego permanecem válidos, simplificando a entrada das aeronaves em serviço.
Reforço operacional: onde a FAB ganha mais
Com as 11 células adicionais, a Aeronáutica expande a atual frota de 16 UH-60L e aumenta a disponibilidade para missões de busca e salvamento (SAR), evacuação aeromédica, transporte de pessoal e carga, além de apoio a operações de assistência humanitária.
Esse incremento é sensível em áreas remotas, como a Amazônia, onde a necessidade de pousos em locais restritos e respostas rápidas é constante.
Mais aeronaves prontas significam maior cobertura territorial, menor tempo de acionamento e redução de janelas sem aeronave devido a manutenção programada.
Enquanto isso, a padronização com a versão L permite absorção mais ágil das novas células pelos esquadrões.
Tripulações já treinadas no modelo demandam menos horas de conversão e retomam rapidamente o ritmo operacional.
Em cenários de desastres naturais, a cabine modulável e a robustez da plataforma favorecem o transporte de equipes, mantimentos e macas, além do uso do guincho de resgate, quando instalado, para extrair vítimas em locais de difícil acesso.
Como será a incorporação às unidades
Após a assinatura e a aceitação técnica, as aeronaves passam por inspeções, atualização de aviônicos e adequação de rádios e sistemas de missão conforme os padrões da FAB.
Em seguida, ocorre a distribuição entre esquadrões com maior demanda por SAR e apoio a comunidades isoladas.
A etapa de nacionalização de equipamentos e o adestramento de tripulações e equipes de manutenção avançam em paralelo, com o objetivo de colocar as células em regime de horas de voo úteis no menor prazo possível.
BEST: vantagens para vendedores e compradores
O BEST combina rapidez de transferência e previsibilidade financeira.
Para os Estados Unidos, a venda de UH-60 usados cria caixa para a compra de helicópteros zero quilômetro, sem descontinuar o apoio logístico à família Black Hawk.
Para operadores como o Brasil, o programa oferece acesso a plataformas reconhecidas por confiabilidade e ampla cadeia de suprimentos, além de documentação técnica consolidada.
A participação de uma integradora como a ACE Aeronautics reduz barreiras regulatórias e assegura conformidade de manutenção e certificação até a entrega.
Black Hawk UH-60L: foco em versatilidade e resistência
O UH-60L é um helicóptero bimotor de porte médio, projetado para missões múltiplas.
A aeronave executa transporte de tropa e carga, extração e infiltração, evacuação aeromédica e operações SAR.
Em regiões quentes e úmidas, como a Amazônia, a célula se destaca pela robustez e pela capacidade de operar em clareiras ou pistas curtas, com possibilidade de configuração rápida da cabine para assentos, macas e kits de missão.
Essa flexibilidade sustenta a pronta resposta a enchentes, deslizamentos e outras emergências de Defesa Civil.
Além disso, a arquitetura do Black Hawk é compatível com uma variedade de sensores e equipamentos, o que facilita a integração de rádios criptografados, sistemas de navegação atualizados e eventuais kits de sobrevivência de acordo com o perfil da missão.
A manutenção segue processos difundidos em operadores no mundo todo, o que ajuda a garantir taxas de prontidão estáveis quando há planejamento de sobressalentes e ferramental.
Outras forças no Brasil e a família Black Hawk
No país, o emprego da família Black Hawk não se restringe à Aeronáutica.
A Marinha do Brasil opera a versão MH-60R Seahawk (SH-16), voltada ao ambiente marítimo, com sensores e armamentos específicos para guerra antissubmarino e antissuperfície.
O Exército Brasileiro utiliza quatro UH-60L e adquiriu a variante UH-60M, mais moderna, com previsão de entrega ainda neste ano por meio de aeronaves Boeing C-17 Globemaster III.
Em âmbito estadual, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro manifestou intenção de incorporar helicópteros Black Hawk, mas não há modelo definido nem data confirmada de recebimento.
Sustentação e custos ao longo do ciclo de vida
A opção por aeronaves usadas revisadas encurta prazos de entrada em serviço e evita investimentos iniciais típicos de uma plataforma inédita.
Por outro lado, o planejamento deve contemplar a vida remanescente das células e os custos de eventuais upgrades de aviônica para manter a compatibilidade tecnológica ao longo dos anos.
A FAB precisa calibrar estoque de peças, turnos de manutenção e alocação de recursos dos parques de material para transformar o reforço em mais disponibilidade diária e maior taxa de cumprimento de missão.
Próximos passos e pontos a acompanhar
Com a intenção de compra divulgada, o cronograma passa por contratos, inspeções, eventuais retrofits e transporte ao Brasil.
A partir daí, seguem as etapas de aceitação, testes funcionais e liberação operacional.
Ainda não foram informados prazos públicos de entrega, bem como a distribuição por esquadrões e o escopo detalhado de modernizações a serem aplicadas pela ACE, se necessárias.
Esses itens serão determinantes para quantificar o ganho real de cobertura SAR, de evacuação aeromédica e de presença em regiões remotas.
Diante desse reforço, qual frente deveria receber prioridade na primeira fase de emprego: ampliar turnos de prontidão para SAR na Amazônia, aumentar a capacidade de evacuação aeromédica em múltiplas regiões ou dedicar mais horas de voo ao apoio a emergências climáticas?